Rodrigo Zani
Edward Madureira e a reconstrução do debate político em Goiás
A possível entrada do professor e ex-reitor da UFG, Edward Madureira, no tabuleiro eleitoral goiano reacende uma discussão rara no cenário político estadual: a valorização do debate qualificado. O rumor de que o PT teria sondado seu nome para disputar o Palácio das Esmeraldas em 2026 ganhou força na última semana, e não por acaso. Num ambiente polarizado e desgastado, figuras com trajetória técnica sólida e trânsito plural tornam-se bens preciosos.
O PT, apesar da força histórica no plano nacional e do domínio consolidado em regiões como o nordeste, enfrenta dificuldades evidentes para converter o capital eleitoral de Lula em votos para seus candidatos locais. A performance do partido nas últimas eleições estaduais expôs essa limitação: faltou um nome capaz de absorver o eleitor lulista e, ao mesmo tempo, dialogar com um estado de tradição conservadora, que deu vitórias expressivas a Jair Bolsonaro e consolidou uma robusta base bolsonarista.
Nem é por falta de quadros. O partido dispõe de lideranças qualificadas — Adriana Accorsi, Antônio Gomide, Rubens Otoni, Bia de Lima, Mauro Rubem, entre outras —, mas todas esbarram no mesmo dilema: como romper a barreira da rejeição num território profundamente conectado ao agronegócio e avesso às pautas identificadas ao PT?
É exatamente nesse ponto que Edward Madureira surge como alternativa estratégica. Respeitado dentro e fora da universidade, ele construiu uma reputação que transborda a militância partidária. Foi um dos reitores mais propositivos da história da UFG, ampliou o diálogo institucional e fortaleceu a pesquisa científica — especialmente no campo que mais define a identidade econômica e cultural de Goiás: o agronegócio. Como professor de agronomia, ajudou a formar gerações de profissionais e consolidou pontes com o setor produtivo. Essa conexão, rara entre quadros petistas no estado, pode ser decisiva.
Goiás já demonstrou receptividade a perfis acadêmicos no passado. Pedro Wilson e Darci Accorsi, ambos professores ligados ao PT, obtiveram êxito eleitoral em Goiânia ao oferecer agendas sólidas e coerentes, centradas em educação e desenvolvimento. Esse histórico reforça a tese de que um discurso qualificado, quando bem sustentado, tem espaço no eleitorado goiano. Nesse sentido, a figura de Edward Madureira representa continuidade e atualização dessa tradição.
Outro ponto que pesa a seu favor é o temperamento. Edward é discreto, técnico, evita confrontos vazios e rejeita radicalizações. Seu estilo é o de um gestor que prefere projetos a slogans — característica que tende a soar refrescante num ambiente político marcado por disputas ruidosas e pouca profundidade.
A construção de uma chapa competitiva, no entanto, não depende apenas de um nome. Há um esforço mais amplo da base de Lula em Goiás para reorganizar forças. O ex-governador José Eliton, decisivo no apoio ao presidente em 2022, é peça central nesse rearranjo. Além dele, lideranças como o professor Fábio Tokarski — ex-deputado, ex-integrante do Governo Federal e dirigente nacional do PCdoB — ajudam a consolidar um campo progressista com capacidade de formulação e articulação.
O grande desafio, porém, permanece: não basta absorver o voto lulista. A tarefa é mais ambiciosa — dialogar com um estado majoritariamente conservador, de vocação agroexportadora, que busca estabilidade, previsibilidade e respeito às atividades que sustentam sua economia. É nesse diálogo que Edward pode desempenhar papel decisivo, oferecendo uma ponte entre o campo progressista e os setores produtivos.
Se confirmada sua pré-candidatura, o professor Edward Madureira pode não apenas elevar o nível do debate político, mas também abrir caminho para uma nova forma de disputar corações e mentes em Goiás: menos pautada pela caricatura ideológica e mais fundamentada em propostas, técnica e equilíbrio. Uma mudança pequena na superfície — e profundamente transformadora no conteúdo.