Rodrigo Zani
A extrema direita e o projeto do caos: a política do anti-Brasil
Nos últimos anos, o Brasil assistiu à ascensão de um fenômeno político perigoso e destrutivo: a extrema direita organizada nas redes sociais. Diferente de movimentos políticos tradicionais, com trajetória, base ideológica estruturada ou compromisso com o debate democrático, esse grupo se formou a partir da desinformação, da polarização e do culto à figura de Jair Bolsonaro — ainda hoje, o rosto mais emblemático dessa corrente, mesmo inelegível, isolado politicamente e enfrentando processos judiciais.
A gênese dessa extrema direita está profundamente ligada à dinâmica das redes sociais. Seus porta-vozes, em geral, não têm histórico de militância, experiência administrativa ou formação política sólida. Ganharam projeção pública explorando polêmicas fabricadas, disseminando fake news e promovendo uma retórica de ódio e confronto constante.
Sem um projeto de país, a extrema direita brasileira vive de combater inimigos imaginários e atacar instituições democráticas. Sua agenda se resume ao antipetismo e à tentativa permanente de minar o Estado Democrático de Direito, substituindo o debate político por uma guerra cultural irracional e regressiva.
Em termos concretos, não há registro de nenhum projeto relevante para o desenvolvimento nacional liderado por esse grupo. As propostas que emergem dessa corrente são, quase sempre, retrógradas, excludentes e anticonstitucionais. Entre suas bandeiras estão:
- a defesa de anistia e impunidade para golpistas;
- a instrumentalização religiosa e o fim do Estado laico;
- o afrouxamento das leis de armas e a normalização da violência policial e das chacinas como política de segurança pública;
- o ataque a direitos fundamentais, como o das mulheres vítimas de estupro terem acesso ao aborto legal;
- e, de forma mais ampla, o rebaixamento moral e institucional da política brasileira.
Trata-se de uma agenda essencialmente anti-nacional — voltada não para a construção de um país mais justo e desenvolvido, mas para o fortalecimento de um projeto de poder personalista e autoritário.
Em sua mais recente investida populista, a extrema direita tenta classificar facções criminosas e o crime organizado como organizações terroristas. À primeira vista, o discurso pode parecer “duro” com o crime, mas trata-se de uma proposta juridicamente inviável e politicamente perigosa.
A Constituição brasileira é clara: o conceito de terrorismo tem parâmetros específicos e não pode ser manipulado para fins políticos. Ampliar essa definição abriria precedentes autoritários, inclusive permitindo que o Estado criminalizasse movimentos sociais, sindicatos e minorias sob o pretexto de “combate ao terrorismo”.
Além de inconstitucional, a proposta expõe o país a riscos geopolíticos, pois abre margem para interferência estrangeira, sobretudo de países com histórico de intervenções militares na América Latina — como os Estados Unidos. Não é coincidência que figuras como Eduardo Bolsonaro mantenham diálogo direto com a extrema direita norte-americana, replicando suas táticas e interesses geopolíticos.
É importante lembrar que essa mesma extrema direita — que agora se apresenta como defensora do “combate ao crime” — foi a responsável por flexibilizar o acesso a armas de fogo, inclusive fuzis, e normalizar o discurso de apoio às milícias. O próprio Jair Bolsonaro, em diversas ocasiões, defendeu publicamente milicianos e suas práticas.
Ou seja, há uma contradição evidente: o grupo que armou a sociedade e incentivou a violência privada agora tenta posar de guardião da lei e da ordem. Nada mais é do que populismo penal, usado como cortina de fumaça para esconder a ausência de um verdadeiro projeto de segurança pública — baseado em inteligência, tecnologia, integração institucional e políticas sociais preventivas.
A extrema direita brasileira nasceu do caos social e depende dele para sobreviver. Quanto mais o país se polariza, mais esse grupo se alimenta da confusão, da raiva e da desinformação. A estabilidade política e o desenvolvimento econômico são inimigos naturais de sua existência, pois exigem racionalidade, diálogo e responsabilidade — valores incompatíveis com sua lógica de atuação.
É por isso que essa corrente é, essencialmente, anti-Brasil. Ela sabota o país de dentro, como uma âncora que impede o progresso, e se fortalece cada vez que a sociedade é jogada no medo e na desesperança.
O desafio da democracia brasileira, portanto, é superar o ruído e o ódio, e investir em educação política, consciência cidadã e fortalecimento das instituições democráticas. Somente assim poderemos neutralizar a influência de um projeto que nunca foi de nação — sempre foi de destruição.