Rodrigo Zani
Sete de Setembro não é de Bolsonaro — É do Brasil

As comemorações do Sete de Setembro deveriam ser um momento de união nacional, celebração da soberania e da liberdade do povo brasileiro. Mas, nos últimos anos, essa data foi sequestrada por um grupo político que jamais representou a pluralidade do Brasil. O bolsonarismo, em sua sanha autoritária, transformou o Dia da Independência em palanque para narrativas golpistas, interesses estrangeiros e projetos de poder que afrontam a democracia.
Em 2025, no entanto, algo mudou. Pela primeira vez desde 2019, as ruas esvaziaram. O povo não apareceu. E isso não é um simples detalhe: é um recado direto da sociedade. Segundo pesquisas sérias, 75% da população brasileira é contra qualquer tentativa de anistia aos crimes cometidos pelo ex-presidente Bolsonaro e seus aliados. Essa maioria silenciosa, mas atenta, deixou claro que não compactua com a destruição da democracia, o flerte com o autoritarismo nem com os abusos contra a soberania nacional.
Enquanto os bolsonaristas erguiam bandeiras dos Estados Unidos e de Israel no Sete de Setembro — o dia da independência do Brasil — o paradoxo escancarava-se: que independência é essa que reverencia outras nações em vez de afirmar a nossa? Usar símbolos de potências estrangeiras nesse dia não é apenas incoerente — é um insulto à história nacional. É a expressão mais clara do entreguismo que guia esse grupo político.
Sob o falso pretexto de "salvar o Brasil", o bolsonarismo tenta, na verdade, vender o país. Trata-se de um projeto de poder que negocia a alma com o diabo para manter privilégios, livrar aliados da justiça e entregar nossos recursos, instituições e autonomia nacional a interesses externos. A aproximação com setores radicais da política norte-americana não é casual: é parte de uma estratégia de alinhamento ideológico e econômico que nada tem a ver com os interesses do povo brasileiro.
Esse povo, diga-se, não estava nas ruas. As manifestações bolsonaristas foram pífias. Segundo estimativas, em todas as capitais do país, não se somou nem 0,05% da população total. Na Avenida Paulista, antes centro nervoso da mobilização bolsonarista, mal se reuniram 20 mil pessoas. No Rio de Janeiro e em Brasília, números ainda mais irrelevantes.
Mais do que pequenas, as manifestações foram elitizadas: empresários, políticos em busca de foro privilegiado, influenciadores oportunistas e líderes religiosos multimilionários. Gente distante da realidade da imensa maioria dos brasileiros — aqueles que acordam cedo, enfrentam transporte público lotado, trabalham duro e sonham com um país justo.
O verdadeiro povo brasileiro não foi representado. Porque sabe que defender o Brasil não é usar verde e amarelo como farda ideológica. Defender o Brasil é proteger a democracia, é lutar contra a corrupção, é exigir justiça.
E justiça virá. As investigações sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, a sabotagem à gestão da pandemia e os esquemas de corrupção durante o governo Bolsonaro seguem em curso. A sociedade exige respostas — e punição. O clamor por impunidade vem de um grupo cada vez mais isolado, que teme o que está por vir.
O bolsonarismo tenta reeditar fórmulas do passado. Em 1964, a elite conservadora organizou a chamada "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", que serviu de pretexto para o golpe militar. Hoje, os herdeiros políticos daquele autoritarismo voltam a invocar Deus, pátria e liberdade — mas, de novo, apenas para manter seus próprios privilégios.
A diferença é que, agora, o povo está mais consciente. O Brasil é outro. A democracia, apesar de atacada, é mais forte. A sociedade civil é mais ativa. As instituições estão sendo testadas — mas resistem.
Ainda assim, o risco não passou. Há uma disputa em curso. O bolsonarismo não luta pelo Brasil. Luta contra o Brasil. Quer sequestrar os símbolos da pátria para blindar seus crimes. Quer entregar o país em nome de promessas vazias. Quer o poder, não importa o custo — mesmo que para isso precise rasgar a Constituição e ajoelhar-se a interesses estrangeiros.
É hora de reafirmar que o Sete de Setembro pertence ao povo brasileiro, não a uma facção política. Não a uma família que, quando esteve no poder, usou a máquina pública para se proteger. Os Bolsonaros e seus apostadores estão de olho no poder — mas não representam o Brasil.
O Brasil verdadeiro é plural, é mestiço, é trabalhador, é democrático. E não se curva a projetos autoritários nem a interesses internacionais disfarçados de patriotismo.
A independência que celebramos precisa ser mais do que simbólica. Precisa ser social, econômica e política. E isso só será possível se os símbolos da nação voltarem a ser de todos — não de um grupo que, ao invés de libertar o país, tenta submetê-lo.
Neste Sete de Setembro, que a sociedade brasileira reafirme:
o Brasil não tem dono — e jamais será governado por quem deseja entregá-lo.