Aliados de Bolsonaro assumem derrota e preveem indicação de Messias ao STF

Apesar da mobilização nas redes sociais e da promessa de dificultar a indicação até a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça, aliados de Jair Bolsonaro reconhecem, reservadamente, que o advogado-geral da União, Jorge Messias, deve ser aprovado pelo plenário, responsável por confirmar sua provável nomeação ao Supremo Tribunal Federal (STF).
“Vai ter muito desgaste na sabatina, mas Messias vai passar com certeza porque somos minoria”, afirmou ao blog um membro da tropa de choque bolsonarista no Senado, que estima que a oposição deve conquistar cerca de 30 votos contrários.
A projeção tem como base o desempenho de Rogério Marinho (PL-RN), que recebeu 32 votos na disputa pela presidência do Senado, em 2023, e o número médio que a oposição obtém em pautas que confrontam diretamente os interesses do governo.
Em outro gabinete bolsonarista, a expectativa é que a oposição alcance, no melhor cenário, aproximadamente 37 votos. Mesmo assim, Messias seria aprovado, ainda que com uma margem estreita.
Para ocupar a vaga no STF, o indicado pelo presidente da República precisa obter ao menos 41 votos favoráveis.
Na atual composição da Corte, Flávio Dino e André Mendonça foram os ministros que enfrentaram maior resistência no Senado, mas, ainda assim, receberam 47 votos “sim”, seis acima do mínimo necessário.
Entre aliados de Messias, há a avaliação de que o “fator evangélico” pode ajudar na conquista de votos da bancada conservadora. O advogado-geral da União é membro da Igreja Batista — e, até o início do governo Lula, raramente falava publicamente sobre sua fé.
“Para mim, a religião do indicado não fará diferença. Até porque o governo Lula não está acostumado a usar esse argumento [ser evangélico] para reduzir resistência a seus indicados”, disse ao blog um senador que pretende votar contra Messias.
Entre bolsonaristas, a avaliação é que o atual chefe da Advocacia-Geral da União (AGU) foi escolhido não por motivos religiosos, mas por ser um homem de confiança de Lula e um “quadro ideológico do PT”.
O histórico também favorece Messias na disputa pelos votos. A última vez que o Senado rejeitou uma indicação presidencial foi no século XIX, durante o governo do marechal Floriano Peixoto, quando cinco nomes foram barrados.
Áudio de Dilma com Lula sobre ‘Bessias’
Segundo o blog, a tropa de choque bolsonarista tem discutido, em grupos privados e no WhatsApp, estratégias para dificultar a indicação de Messias — e já decidiu resgatar o conhecido áudio de uma conversa entre Lula e a então presidente Dilma Rousseff, de março de 2016, durante a Lava Jato, quando Dilma tentava conter o processo de impeachment.
A ideia, já adotada pelo senador Cleitinho (Republicanos-MG), é usar a gravação — na qual Dilma chama Messias de “Bessias” — não apenas para atacar a escolha nas redes sociais, mas também para constranger o indicado durante a sabatina.
Na interceptação telefônica divulgada pelo então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), Dilma afirma a Lula que enviaria o “termo de posse”.
“Seguinte: eu tô mandando o ‘Bessias’ junto com o papel, pra gente ter ele. E só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?”, disse Dilma. Na época, Messias era subsecretário de assuntos jurídicos da Casa Civil.
A nomeação de Lula — suspensa por decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF — foi interpretada como uma tentativa de Dilma de fortalecer sua articulação política, proteger seu governo e garantir foro privilegiado ao petista, evitando sua prisão em primeira instância.