Seja bem-vindo
Estado de Goiás,19/10/2025

    • A +
    • A -

    Rodrigo Zani

    O refém e o algoz: Por que a direita ainda teme o bolsonarismo?


    O refém e o algoz: Por que a direita ainda teme o bolsonarismo?

    A direita brasileira vive hoje um impasse que ameaça não apenas seu futuro eleitoral, mas sua própria capacidade de existência institucional: a submissão sistemática ao bolsonarismo. Mesmo com Jair Bolsonaro inelegível e sob risco de condenações criminais, seu grupo político, hoje comandado por seus filhos e aliados mais próximos, segue impondo uma lógica destrutiva e autoritária sobre todo o campo da direita — não como liderança, mas como tutela.

    O caso mais recente é ilustrativo. O deputado federal Eduardo Bolsonaro ameaçou romper com o PL, partido pelo qual foi eleito, caso se confirme a candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O filho do ex-presidente ainda cogita disputar a Presidência por fora do partido, numa tentativa clara de implodir a unidade da direita em torno de um nome competitivo. Trata-se de um gesto revelador do descompromisso do bolsonarismo com qualquer projeto coletivo que não esteja sob controle do clã. Ao transformar a divergência política em ameaça, Eduardo Bolsonaro compromete não apenas a coesão do seu campo, mas a viabilidade de qualquer enfrentamento sólido à esquerda.

    Não foi um movimento isolado. Recentemente, Carlos Bolsonaro, um dos principais operadores digitais do bolsonarismo, atacou governadores de direita com aspirações nacionais, chamando-os de “ratos”. A investida foi amplificada por canais bolsonaristas, numa demonstração de que o verdadeiro alvo imediato da retórica do clã não é o lulismo, mas qualquer tentativa de autonomia dentro da direita.

    Esses episódios evidenciam o funcionamento do bolsonarismo: não se trata de uma ideologia organizada, mas de um projeto personalista de poder. A regra é clara: qualquer liderança que tente trilhar um caminho independente, ainda que dentro do mesmo campo ideológico, será atacada, desqualificada e, se possível, destruída.

    Esse comportamento já é conhecido. Desde 2018, nomes como Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Sergio Moro, João Doria e outros que foram fundamentais na ascensão de Jair Bolsonaro acabaram sendo descartados assim que demonstraram pensamento próprio. O método é sempre o mesmo: linchamento digital, desinformação e cancelamento público — uma estratégia eficaz para manter a base radicalizada sob controle.

    O mais preocupante, no entanto, é a reação dos alvos desses ataques. Tarcísio de Freitas, assim como outros governadores como Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Jr., tem evitado o confronto direto com o clã Bolsonaro. Calculam que bater de frente com o bolsonarismo pode custar votos preciosos de uma militância fiel, estimada em cerca de 15% do eleitorado — um grupo barulhento, ativo e implacável.

    Mas essa hesitação cobra um preço alto. Enquanto a direita se acovarda, a esquerda se reorganiza e avança. A eleição de 2022 mostrou que, mesmo com desgaste, Lula ainda é capaz de articular uma frente ampla e vencer. E continuará sendo competitivo enquanto a direita não for capaz de apresentar uma alternativa confiável, democrática e institucionalmente sólida.

    A verdade é que o bolsonarismo se tornou, ao mesmo tempo, o maior trunfo e o maior obstáculo da direita brasileira. Seu poder de mobilização é real, mas seu efeito político é corrosivo. Enquanto o campo conservador continuar temendo desagradar o clã Bolsonaro, continuará refém de sua chantagem — e, pior, cúmplice da sua estratégia de implosão interna.

    É urgente que a direita brasileira reencontre seu eixo institucional, proponha uma agenda moderna, liberal e democrática, e rompa definitivamente com o autoritarismo disfarçado de conservadorismo. Nomes como Tarcísio de Freitas e outros têm qualificação técnica e apelo eleitoral — mas precisam demonstrar independência política.

    Se não o fizerem, continuarão sendo vítimas do mesmo bolsonarismo que dizem representar. E o Brasil seguirá preso a uma falsa polarização entre o lulismo e uma extrema direita em guerra consigo mesma — enquanto o centro político, o diálogo democrático e a pluralidade ideológica seguem ausentes do debate público.



    LEIA TAMBÉM

    Buscar

    Alterar Local

    Anuncie Aqui

    Escolha abaixo onde deseja anunciar.

    Efetue o Login

    Recuperar Senha

    Baixe o Nosso Aplicativo!

    Tenha todas as novidades na palma da sua mão.