Marcus Vinícius de Faria Felipe
Caiado pode colocar Gracinha na vice de Daniel
Com dificuldades no projeto presidencial, governador pode optar por mandato de deputado federal, visando eleição de uma bancada expressiva na Câmara Federal

A política, já dizia Tancredo Neves, muda ao sabor do vento. “Você olha para o céu, ele está cheio de nuvens, passa um tempo, e as nuvens já se foram”.
Definitivamente o céu não é de brigadeiro para o projeto presidencial do governador Ronaldo Caiado, o seu partido, União Brasil, está enroscado numa federação com o Partido Progressista, onde o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PP-PI) é refratário à sua candidatura, e faz campanha aberta para uma aliança com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Não bastasse isso, a família Bolsonaro tampouco apoia o seu pleito, lá a tendência é lançar a primeira-dama Michelle Bolsonaro vice de Tarcísio, ou, noutro extremo, bancar a candidatura do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), se ele voltar de seu autoexílio nos Estados Unidos.
Neste cenário, não é improvável que Ronaldo Caiado tenha na manga um plano B (e até um plano C).
O plano A é ser candidato à presidência, preferencialmente pela federação União-Progressistas, não sendo possível, a alternativa seria disputar por outra federação, quem sabe, a que está sendo formada entre o Podemos, do deputado Glaustin da Fokus e o Solidariedade, do deputado Paulinho da Força (SP). Esta federação, porém, pode vir a não acontecer.
A alternativa, portanto, será cuidar do cenário estadual. O grande escritor russo Leon Tostoi, dizia: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. É um bom conselho para escritores, e vale também para os políticos. E há alguns exemplos de quem teve este olhar, um deles foi o grande governador pernambucano Miguel Arraes (PSB) que nas eleições de 2002 elegeu-se deputado federal levando consigo outros seis companheiros para o Parlamento.
Caiado pode formar sua bancada para influenciar votações na Câmara Federal? Este é um caminho possível e viável. Mas por que faria isso se tem uma candidatura ao Senado na qual, em tese, é imbatível? A resposta é porque sendo candidato a deputado federal ele abre vaga para que a primeira-dama Gracinha Caiado (União) seja a vice na chapa de Daniel Vilela (MDB), mantendo assim sua influência no governo do Estado. O motivo? Preparar a sua volta ao Palácio das Esmeraldas em 2030.
Hoje a bolsa de apostas prevê uma reeleição fácil para o presidente Lula (PT), talvez até no primeiro turno. Sem uma chapa forte, o mais provável é que Caiado faça opção por não ser candidato e reforme o seu projeto, para voltar ao poder em Goiás em 2030, quando estará com 81 anos, a mesma idade que Lula terá em outubro de 2026.
Sete deputados é uma bancada capaz de influenciar votações na Câmara Federal. Se esse for o projeto do governador, ele vai ajudar a equacionar uma complicada equação que se formou após a federação União-PP: o teto mais alto para eleição. É mais que provável que Caiado tenha entre 300 mil a 500 mil votos para deputado federal, uma votação histórica, que já garante a eleição de três federais, facilitando a eleição de outros quatro, conforme for formada a chapa.
Há também outro ganho nesta estratégia. Sem Gracinha e Caiado na chapa de senadores, o campo governista fica livre para atrair candidatos de outros partidos, isolando a oposição.
As nuvens estão em movimento, veremos que imagem elas vão formar até as convenções do mês de julho de 2026.