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Estado de Goiás,14/12/2025

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    Setores do boi, da bíblia e da bala mostram rejeição de Flávio como herdeiro político de Bolsonaro

    O GLOBO
    Setores do boi, da bíblia e da bala mostram rejeição de Flávio como herdeiro político de Bolsonaro Reprodução

    A pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto encontra obstáculos não apenas entre caciques do Centrão, mas também em setores estratégicos que deram sustentação ao governo de Jair Bolsonaro (PL). Representantes do agronegócio, líderes evangélicos e integrantes da bancada da segurança pública demonstram dúvidas sobre a capacidade eleitoral do parlamentar para barrar uma eventual reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Nesses grupos, cresce a avaliação de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), estaria mais bem posicionado para reorganizar a direita na disputa presidencial do próximo ano.

    Interlocutores afirmam, no entanto, que o senador ainda terá um prazo para testar sua viabilidade política. A leitura é que, se em dois meses Flávio não conseguir ampliar apoios, o caminho deverá ser aberto para outro nome. Procurado, o parlamentar não se manifestou.

    Lançamento sem consenso

    Flávio anunciou a pré-candidatura em 5 de dezembro, apontando a escolha como uma decisão do pai, que, apesar de preso, segue exercendo influência sobre o grupo político. A indicação do filho, feita sem consulta a outros líderes da direita, causou incômodo em partidos como União Brasil, PP e Republicanos, que já sinalizavam a intenção de construir uma candidatura unificada de oposição ao PT em 2026.

    Contenção a Tarcísio

    Entre dirigentes do Centrão e integrantes da bancada conhecida como “BBB” — Boi, Bíblia e Bala —, a interpretação é de que o lançamento de Flávio teria como objetivo conter o avanço de Tarcísio como alternativa eleitoral enquanto Jair Bolsonaro está impedido de atuar politicamente. Condenado a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes, o ex-presidente mantém a expectativa de obter anistia e voltar ao cenário eleitoral. Nesse contexto, Flávio funcionaria como uma espécie de reserva da vaga.

    Essa avaliação ganhou força após o senador afirmar que sua candidatura tinha “um preço”, sugerindo que poderia abrir mão da disputa em troca do perdão jurídico ao pai. Posteriormente, Flávio afirmou que a candidatura seria “irreversível”, embora aliados alertem para as dificuldades de sustentá-la até o período oficial da campanha.

    Distância do agronegócio

    Um dos principais entraves é a falta de apoio no agronegócio. Representantes do setor apontam Flávio como um nome lateral, sem atuação relevante em pautas consideradas centrais, como crédito rural, regularização fundiária e abertura de mercados.

    Já Tarcísio é citado como alguém com histórico favorável ao setor. Como ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro, apresentou o Plano Nacional de Logística à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). No governo paulista, acelerou programas de regularização fundiária com negociação de terras públicas, medida bem recebida pelo segmento.

    Para o vice-presidente da FPA, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), o governador de São Paulo já era visto como alternativa ao Planalto antes mesmo do anúncio de Flávio:

    'Acho que os setores produtivos pressionarão para que o Tarcísio lance a candidatura. Flávio vai andar no bolsonarismo, sem apoio dos outros segmentos. Tarcísio tem trajetória no agro. Já Flávio é um total desconhecido.'

    Em resposta às críticas, Flávio tem buscado empresários e parlamentares do setor para defender a continuidade da política adotada no governo do pai, que, entre outras medidas, interrompeu assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

    'Flávio tem o legado do pai, a experiência no Senado e boa formação. São credenciais que devem ser usadas para abrir portas', afirmou o deputado Evair de Melo (PP-ES), aliado do bolsonarismo.

    Evangélicos divididos

    Pesquisas divulgadas após o anúncio da pré-candidatura indicam que eleitores de direita demonstram preferência por outros nomes. Mesmo entre evangélicos, segmento em que o bolsonarismo historicamente apresenta melhor desempenho, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro aparece à frente, segundo levantamento Ipsos/Ipec.

    No total do eleitorado, Lula lidera com 38%, índice que cai para 26% entre evangélicos. Nesse recorte, Michelle concentra 32% das intenções de voto e surge como o nome mais competitivo da família Bolsonaro junto aos fiéis.

    Quando Flávio é testado como herdeiro político do pai, sobe de 19% no cenário geral para 25% entre evangélicos, o que o coloca em empate técnico com Lula, mas ainda abaixo do desempenho de Michelle. A margem de erro é de quatro pontos percentuais.

    A resistência também aparece na bancada evangélica do Congresso. Dos parlamentares procurados pelo GLOBO, sete declararam apoio a Flávio, enquanto outros 23, sob reserva, fizeram críticas. A maioria preferiu não se manifestar publicamente.

    O pastor Silas Malafaia, aliado do líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), classificou a pré-candidatura como “amadorismo da direita”. Já Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra, avalia que o cenário segue indefinido:

    'Se Flávio desistir, pode ter Tarcísio ou Michelle, que é atuante no meio evangélico e, por ser mulher, tem um apelo. Flávio é mais discreto. Acho que a primeira coisa é não ter pressa. O ambiente está extremamente embolado.'

    Embora católico, Tarcísio ampliou sua presença entre evangélicos ao intensificar visitas a templos e ajustar o discurso, ganhando visibilidade com vídeos de pregações, como o trecho em que afirma que “Deus é o Deus do impossível; faça o possível, o impossível deixe comigo”.

    Papel secundário na segurança

    Na bancada da bala, a avaliação é que Flávio não reproduz o discurso de enfrentamento que mobilizou policiais e militares durante o governo Bolsonaro. Parlamentares apontam que o senador tem trajetória limitada na área e pouco diálogo com as corporações.

    Mesmo presidindo a Comissão de Segurança do Senado, Flávio tem atuado de forma secundária em debates centrais. Ele não integrou a cúpula da CPI do Crime Organizado nem foi escolhido relator do PL Antifacção, apesar de ter pleiteado o posto junto ao presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP).

    Tarcísio, por outro lado, é visto como mais alinhado ao segmento após investir em operações policiais em São Paulo, defender o endurecimento penal e apoiar publicamente a redução da maioridade penal. Em evento recente, defendeu inclusive a adoção da prisão perpétua:

    'Eu defendo algumas mudanças (na legislação) que são até radicais. Que a gente comece a enfrentar o crime com a dureza que o crime merece ser enfrentado. Não acho, por exemplo, nenhum absurdo você ter prisão perpétua no Brasil.'

    Mercado financeiro reticente

    O setor financeiro também reagiu negativamente ao anúncio da pré-candidatura. No dia da divulgação, a Bolsa recuou e o dólar registrou forte alta, movimento atribuído ao aumento da incerteza política.

    Diante das resistências, Flávio iniciou uma ofensiva em São Paulo. Na quinta-feira, participou de um almoço com empresários na sede do banco UBS, encontro descrito como uma tentativa inicial de “apresentar o senador” ao empresariado paulista. Segundo relatos, ele afirmou que manteria a linha econômica adotada por Paulo Guedes no governo Bolsonaro, embora participantes tenham demonstrado dúvidas sobre o caráter “irreversível” da candidatura.

    Os principais obstáculos

    Agronegócio – Flávio é visto como figura lateral, sem atuação consistente em pautas prioritárias do setor. Tarcísio, por sua vez, atraiu apoio com políticas de regularização fundiária em São Paulo.

    Igrejas evangélicas – Lideranças evitam declarar apoio ao senador. Pesquisas indicam melhor desempenho de Michelle Bolsonaro, reforçando sua força de mobilização entre fiéis.



































    Segurança pública – Integrantes da bancada da bala avaliam que Flávio tem trajetória limitada e atuação secundária em debates estratégicos da área.




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