Marcus Vinícius de Faria Felipe
11/09: STF condena Bolsonaro por golpe de Estado e consagra a democracia
Data do atentado às Torres Gêmeas e do golpe no Chile, entra também para história do Brasil

“O Brasil só vale a pena porque estamos conseguindo ainda manter o Estado Democrático de Direito, e todos nós, com nossas compreensões diferentes, estamos resguardando só isto, o direito que o Brasil impõe, que nós, julgadores, façam valer a democracia.”
(Ministra Cármen Lúcia, finalizando o seu voto)
Neste 11 de setembro de 2025, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL-SP) foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. O voto da ministra Cármen Lúcia formou maioria junto aos ministros Flávio Dino e Alexandre de Moraes, pela condenação de Bolsonaro como chefe da quadrilha que tentou abolir violentamente a democracia no Brasil.
11 de setembro no mundo
Esta data é emblemática. Foi em um 11/09, no ano de 2001, que houve o atentado ao World Trade Center, em Nova Iorque (EUA), e em 11/09/1973, o golpe de Estado no Chile, contra Salvador Allende.
Nos Estados Unidos, em 2001, aviões foram lançados contra as torres gêmeas e contra o Pentágono, deixando milhares de mortos em uma ação atribuída à organização terrorista Al-Qaeda.
Em Santiago, em 1973, aviões da Força Aérea chilena, sob ordens do general Augusto Pinochet, bombardearam o Palácio de La Moneda, sede do governo chileno. O ataque levou à morte do presidente Salvador Allende e à implantação de uma ditadura que durou 18 anos, deixando mais de 30 mil vítimas entre mortos e desaparecidos.
No Brasil, o 11 de setembro de 2025 ficará marcado como o dia em que um ex-presidente da República, de origem militar e defensor do golpe de 1964 e do uso da tortura contra opositores daquele regime, foi condenado por tentar instaurar uma ditadura no país.
O julgamento do STF consagra a democracia, retomada em 1985 após a longa caminhada da Campanha Diretas Já, que mobilizou milhões de brasileiros pelo fim da ditadura militar e pela eleição de um presidente civil.
O voto
Cármen Lúcia acolheu a denúncia do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, e votou com o relator Alexandre de Moraes para condenar Jair Bolsonaro por cinco crimes:
organização criminosa armada,
tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito,
golpe de Estado,
dano qualificado pela violência e grave ameaça,
deterioração de patrimônio tombado.
Em sua manifestação, a ministra disse que o julgamento da trama golpista remete ao passado do Brasil, marcado por rupturas institucionais:
“O que há de inédito nesta ação penal é que nela pulsa o Brasil que me dói. A presente ação penal é quase um encontro do Brasil com seu passado, com seu presente e com seu futuro na área das políticas públicas dos órgãos de Estado.”
Crimes contra a democracia
Cármen Lúcia destacou que Bolsonaro e os demais réus não podem questionar a legitimidade da Lei 14.197/21, norma que definiu os crimes contra a democracia e que embasou a acusação da PGR.
A lei havia sido sancionada pelo próprio Bolsonaro, com apoio de ex-ministros de seu governo, como Anderson Torres, Braga Netto e Augusto Heleno.
“Não é apenas legítima [a lei], como ainda não se pode dizer que se desconhecia que tentaram atentar contra a democracia. Quatro dos oito réus são exatamente os autores, os que têm a autoria do autógrafo.”
“Para mim, há prova da presença de conluio entre essas pessoas, no sentido de uma organização que se integra, com a liderança de Jair Messias Bolsonaro.”
8 de janeiro
A ministra também classificou os atos de 8 de janeiro de 2023 como fruto de um “conjunto de acontecimentos” contra a democracia:
“O 8 de janeiro de 2023 não foi um acontecimento banal, depois de um almoço de domingo, quando as pessoas saíram a passear.”
“Prova cabal”
Por fim, a ministra afirmou que há prova cabal da participação do ex-presidente e de seus aliados em uma empreitada criminosa:
“A Procuradoria fez prova cabal de que o grupo liderado por Jair Messias Bolsonaro, composto por figuras-chave do governo, das Forças Armadas e de órgãos de inteligência, desenvolveu e implementou um plano progressivo e sistemático de ataque às instituições democráticas, com a finalidade de prejudicar a alternância legítima de poder nas eleições de 2022 e minar o exercício dos demais Poderes constituídos, especialmente o Poder Judiciário.”