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Estado de Goiás,18/10/2025

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    Nilson S. Aliprandi

    Setembro Amarelo: entre a campanha e o cuidado real em saúde mental


    Setembro Amarelo: entre a campanha e o cuidado real em saúde mental

    Todos os anos, o mês de setembro se pinta de amarelo para chamar atenção à prevenção do suicídio. Trata-se de uma iniciativa importante, que abre espaço para um tema ainda cercado de silêncio e tabu. No entanto, é preciso olhar para além das campanhas de um mês e refletir sobre os limites dessa mobilização. Afinal, de que adianta falar sobre prevenção se, na prática, ainda faltam políticas públicas efetivas, acesso universal a serviços de saúde mental e condições sociais dignas para viver?

    O risco do Setembro Amarelo é que ele se transforme em uma data de frases prontas e posts em redes sociais, enquanto os problemas estruturais permanecem invisíveis. A realidade é que muitas pessoas em sofrimento não encontram escuta qualificada, enfrentam filas intermináveis no SUS ou têm seu sofrimento reduzido a diagnósticos rápidos e medicalização. É importante lembrar que o suicídio não pode ser explicado apenas pela presença de um transtorno mental, como depressão ou ansiedade, nem resolvido somente com medicamentos ou consultas psiquiátricas. Trata-se de um fenômeno complexo, atravessado por fatores sociais, históricos e existenciais, que exige uma abordagem ampla e sensível. Prevenir o suicídio demanda muito mais do que slogans: requer investimento em políticas de saúde mental, fortalecimento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ampliação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e combate às desigualdades que atravessam a vida de quem sofre.

    No Brasil, o Setembro Amarelo foi instituído em 2015, a partir de uma iniciativa conjunta do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Centro de Valorização da Vida (CVV). Inspirada em campanhas internacionais, a proposta busca sensibilizar a sociedade para a prevenção do suicídio e, desde então, se consolidou como o maior movimento de conscientização sobre o tema no país. Contudo, pesquisas nacionais têm mostrado que, ao analisar os índices de suicídio no mesmo período da campanha, não se observa diminuição, mas até aumento em alguns contextos — o que reforça a necessidade de estratégias mais efetivas e permanentes, para além da mobilização simbólica. Nesse cenário, um passo importante foi dado em 8 de setembro de 2025, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei de nº 15.199 que institui oficialmente o Setembro Amarelo no calendário nacional. A medida representa um marco legal de reconhecimento da relevância do tema, mas seu real impacto dependerá da articulação com políticas públicas de longo prazo que deem concretude ao que a lei simboliza.

    Esse debate também precisa alcançar os ambientes de trabalho, onde o adoecimento psíquico cresce a cada ano. Não basta chamar profissionais de saúde mental para palestras pontuais sem garantir mudanças reais nas condições de trabalho. A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) já aponta um caminho ao reconhecer os riscos psicossociais como parte da saúde ocupacional, mas o que realmente importa é o cuidado constante, com empresas assumindo a responsabilidade pelo combate ao assédio e pela promoção de ambientes mais saudáveis.

    A psicologia pode contribuir de forma significativa nesse processo, mas precisa ser entendida para além do atendimento individual. O cuidado em saúde mental envolve também a dimensão comunitária, social e política. Escutar quem sofre não é apenas aplicar técnicas, mas reconhecer histórias, violências, contextos de exclusão e falta de pertencimento. Uma sociedade que ignora essas dimensões continuará produzindo sofrimento e, consequentemente, elevando os riscos de suicídio.

    Isso não significa que as campanhas sejam irrelevantes. Pelo contrário, elas cumprem um papel ao quebrar o silêncio e estimular a busca por ajuda. Mas se queremos de fato honrar o espírito do Setembro Amarelo, precisamos transformá-lo em compromisso coletivo e permanente. É hora de assumir que a prevenção do suicídio não pode ser reduzida a um mês colorido, mas deve ser construída diariamente, com políticas públicas consistentes, acesso ao cuidado e um olhar humano capaz de acolher a dor sem julgamentos.

    Falar de suicídio é também falar de vida. E se o Setembro Amarelo tem algo a nos ensinar, é que cuidar da saúde mental é cuidar de condições para viver com dignidade, vínculos e esperança — o que só se torna possível em uma sociedade que reconhece e valoriza a humanidade em cada pessoa.

    Se você ou alguém que você conhece está passando por sofrimento intenso, não hesite em buscar ajuda. O CVV – Centro de Valorização da Vida oferece apoio emocional gratuito, todos os dias, pelo telefone 188 ou no site www.cvv.org.br. Também há o serviço Pode Falar, voltado a jovens, disponível em podefalar.org.br. Procure também a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua casa ou um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em sua região, que oferecem atendimento gratuito e qualificado em saúde mental.

    Por Nilson S. Aliprandi, psicólogo clínico humanista (CRP 11/04916)

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