Andressa da Silva Palmiro
Você tem TDAH, e isso não é um problema!

Por: Dra. Camila Souza – Médica Psiquiatra (CRM 219838/SP – RQE 127722) e Andressa da Silva Palmiro – Psicóloga Clínica (CRP 06/208520) – Especialização em Transtornos Psiquiátricos da Infância e Adolescência.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição do neurodesenvolvimento que acompanha a pessoa ao longo da vida. Ele não é sinônimo de incapacidade, preguiça ou falta de esforço e, definitivamente, não define o seu valor ou potencial.
Muitos adultos chegam ao consultório carregando anos de autocrítica, por não se encaixarem em padrões de organização, concentração ou produtividade. Mas a verdade é que o TDAH não é “falta de força de vontade”: é uma forma diferente de funcionamento cerebral, que pode ser entendida e gerenciada.
O diagnóstico do TDAH é clínico e envolve uma avaliação cuidadosa da história de vida, sintomas presentes e o impacto deles no dia a dia.
Alguns sinais comuns incluem:
- Dificuldade para manter a atenção: começa a ler um livro ou assistir a um filme, mas perde o foco no meio e precisa voltar várias vezes.
- Esquecimentos frequentes: sai de casa e esquece as chaves, perde o celular e outros objetos, ou até mesmo não se recorda onde estacionou o carro;
- Marca um compromisso e só lembra quando já passou do horário.
- Desorganização: a mesa de trabalho ou o guarda-roupa estão sempre bagunçados, e mesmo tentando arrumar, rapidamente voltam ao caos.
- Impulsividade: interrompe as pessoas durante uma conversa, fala sem pensar e depois se arrepende, ou faz compras por impulso.
- Sensação de mente acelerada: pensa em várias coisas ao mesmo tempo e tem dificuldade de “desligar” para descansar.
- Hiperfoco em alguns assuntos: passa horas seguidas em algo que gosta muito, mas não consegue se concentrar em tarefas que considera monótonas.
É importante lembrar: nem todo mundo que apresenta alguns desses comportamentos tem TDAH. Além disso, nem todos eles precisam estar presentes. Por isso, a avaliação por um profissional especializado é essencial para confirmar o diagnóstico.
O tratamento combina estratégias para reduzir os prejuízos e potencializar suas habilidades. Pode incluir:
Medicação: os medicamentos mais prescritos no Brasil para o TDAH pertencem à classe dos estimulantes e atuam regulando neurotransmissores como dopamina e noradrenalina, fundamentais para foco, atenção e controle de impulsos. Entre eles:
- Metilfenidato (ex.: Ritalina®, Ritalina LA®, Concerta®) – de ação curta ou prolongada, promove melhora significativa na atenção e organização mental.
- Lisdexanfetamina (ex.: Venvanse®) – pró-droga da dextroanfetamina, tem ação mais longa, ajudando no foco durante o dia inteiro.
- Cloridrato de atomoxetina (ex.: Atentah®) – não estimulante, atua seletivamente sobre a recaptação de noradrenalina, sendo útil para quem não pode ou não quer usar estimulantes.
A escolha depende de fatores como histórico clínico, perfil de sintomas, tolerância aos efeitos colaterais e rotina de cada paciente.
- Psicoterapia: especialmente terapias voltadas para organização, manejo emocional e reestruturação de hábitos.
- Técnicas de organização: uso de agendas, aplicativos, alarmes e rotinas visuais.
- Mudanças no estilo de vida: sono regular, alimentação equilibrada e atividade física.
A psicóloga Andressa Palmiro explica como a Terapia Cognitivo- Comportamental (TCC) do Instituto Beck pode ajudar pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
A TCC é uma abordagem de psicoterapia que se concentra em como nossos pensamentos, emoções e comportamentos se conectam. O foco principal é identificar e mudar padrões de pensamento e comportamento que nos causam problemas. Para quem tem TDAH, isso é especialmente útil.
O Instituto Beck, um dos pioneiros e mais respeitados no campo da TCC, desenvolveu protocolos e técnicas que são muito eficazes para tratar os desafios do TDAH. O tratamento não cura o TDAH, mas ajuda a pessoa a gerenciar melhor os sintomas e a viver uma vida mais funcional e satisfatória.
Como a TCC Ajuda no TDAH?
O tratamento é estruturado e colaborativo. Paciente e psicólogo trabalham juntos para alcançar objetivos específicos. Veja como a TCC pode ajudar na prática:
Organização e Planejamento
Muitos adultos com TDAH lutam com a organização e o planejamento. A TCC usa ferramentas para criar rotinas, definir metas realistas e dividir grandes tarefas em pequenas etapas. Isso ajuda a reduzir a sensação de sobrecarga e a aumentar a produtividade.
Regulação Emocional
A impulsividade e a dificuldade de gerenciar as emoções são sintomas comuns do TDAH. Na TCC, aprendemos a identificar o que causa certas emoções, como raiva ou frustração, e a desenvolver estratégias para lidar com elas de forma mais saudável. Por exemplo, técnicas de respiração e de "parar para pensar" antes de agir.
Autoconfiança e Pensamentos Negativos
Muitas pessoas com TDAH desenvolvem uma baixa autoestima por conta das dificuldades enfrentadas ao longo da vida. A TCC ajuda a identificar esses pensamentos negativos e distorcidos ("Eu sou um fracasso", "Eu nunca vou conseguir") e a substituí- los por pensamentos mais realistas e positivos. A ideia é construir uma autopercepção mais forte e saudável.
Foco e Atenção
Embora a TCC não trate diretamente o déficit de atenção, ela pode ensinar estratégias para melhorar o foco. Técnicas como a "mindfulness" (atenção plena) e o uso de lembretes e alarmes podem ser incorporadas à rotina para ajudar a manter o foco em uma tarefa e reduzir as distrações.
O Processo de Tratamento
O tratamento geralmente começa com uma avaliação detalhada para entender os desafios específicos do paciente. Depois, definimos objetivos claros e criamos um plano de tratamento personalizado. Cada sessão é focada em uma habilidade ou um problema, e o paciente é incentivado a praticar o que aprendeu em casa. É um processo ativo, onde o paciente é um participante fundamental em sua própria melhora.
A Importância da Equipe Multiprofissional: Um Tratamento Integrado
O TDAH é uma condição complexa que impacta diversas áreas da vida do indivíduo. Por isso, a abordagem mais eficaz para o seu tratamento é a multiprofissional, que envolve a colaboração de diferentes especialistas. A combinação de conhecimentos e habilidades de profissionais como a psiquiatra Dra. Camila Souza e a psicóloga Andressa da Silva Palmiro é fundamental para oferecer um cuidado completo e personalizado.
A Dra. Camila Souza, como médica psiquiatra, tem um papel crucial na avaliação diagnóstica e no manejo farmacológico. Ela é a profissional responsável por prescrever e ajustar os medicamentos que atuam diretamente na regulação dos neurotransmissores, como dopamina e noradrenalina. Essa intervenção médica é frequentemente a base do tratamento, pois alivia os sintomas centrais do TDAH como o déficit de atenção e a impulsividade, tornando o paciente mais receptivo a outras formas de intervenção.
Paralelamente, a psicóloga Andressa da Silva Palmiro, com sua especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), trabalha o desenvolvimento de habilidades e estratégias de enfrentamento. Enquanto a medicação pode ajudar a "ligar o motor" do cérebro para o foco, a TCC ensina o paciente a "dirigir" esse carro de forma eficiente.
A sinergia entre a atuação da médica e da psicóloga é o que garante os melhores resultados. A Dra. Camila Souza monitora os efeitos da medicação e o impacto no bem- estar geral, enquanto Andressa Palmiro ajuda o paciente a aplicar as ferramentas da TCC em seu dia a dia. Juntas, elas proporcionam um tratamento que aborda o TDAH em todas as suas dimensões: biológica, cognitiva e comportamental.
Esse modelo de cuidado integrado reconhece que o TDAH não é apenas uma questão de neurotransmissores, mas uma condição que molda a maneira como a pessoa interage com o mundo. O trabalho em equipe de uma psiquiatra e uma psicóloga especializada assegura que o tratamento não se restrinja à medicação, mas que capacite o indivíduo a florescer, construindo uma vida mais plena e bem-sucedida, sem que o TDAH seja um obstáculo intransponível.
Não é um problema, é um caminho
Viver com TDAH significa aprender a criar estratégias que funcionem para você. Com tratamento adequado e autoconhecimento, é possível alcançar desempenho acadêmico, sucesso profissional e qualidade de vida.
Se você é adulto e acredita que pode ter sinais de TDAH, busque uma avaliação adequada com uma médica psiquiatra ou neuropsicóloga e psicoterapia com psicóloga especializada. A investigação cuidadosa é fundamental para confirmar o diagnóstico e, quando indicado, iniciar o tratamento medicamentoso que, na psiquiatria, está entre os mais eficazes para transformar a qualidade de vida do paciente.
O desafio não é “curar” o TDAH, mas descobrir como viver bem com ele. E, com a ajuda certa, isso é totalmente possível!