Investimentos em logística e energia dominam debates do “Vozes do Agro” em Goiânia
Evento “Vozes do Agro” em Goiânia — Foto: Filipe Barbosa/Vozes do Agro/Divulgação Os investimentos em logística e energia foram apontados como os principais vetores capazes de acelerar o desenvolvimento do agronegócio goiano, segundo participantes do “Vozes do Agro”, evento realizado pela Globo Rural em Goiânia. Produtores rurais, empresários, pesquisadores, dirigentes de entidades e lideranças do setor reforçaram que infraestrutura permanece como o maior entrave ao avanço do agro no Estado.
Logística segue como gargalo histórico
Problemas em rodovias, ferrovias, portos e estruturas de armazenagem continuam dominando as queixas do setor, assim como questões relacionadas ao custo e à oferta de energia. Para as lideranças presentes, essas áreas devem ser prioridade em decisões de investimento — tanto públicas quanto privadas.
“Goiás está no coração do Brasil, longe dos portos por onde escoamos nossa produção. Ainda assim, os projetos de ferrovias não avançam”, disse um dos participantes. Outro reforçou: “Precisamos estimular os investimentos não só em estradas, mas também em ferrovias e hidrovias”.
Assim como nas edições do evento em São Paulo (2024 e 2025), os comentários foram mantidos em sigilo para incentivar trocas mais abertas entre os participantes.
Produção afetada em diferentes cadeias
Mesmo sendo um dos maiores produtores de commodities agrícolas do país, Goiás enfrenta desafios que afetam diversas cadeias produtivas. Um dos presentes citou problemas enfrentados por produtores de alimentos perecíveis:
“Nós temos um representante da citricultura, por exemplo, que comentou que sofre para transportar sua carga, que é perecível. Com essas estradas, existe sempre o risco de se perder a produção no transporte”, afirmou.
Energia cara e insuficiente trava expansão
Questões relacionadas ao custo e à disponibilidade de energia também apareceram entre as críticas. Segundo os participantes, produtores, empresas e cooperativas têm dificuldade para acessar energia suficiente para operar.
“Nós sabemos do caso de um investidor que não consegue levar adiante o projeto de uma planta industrial por falta de energia elétrica na região”, relatou um deles.
Outro destacou como isso compromete a competitividade do Estado:
“Temos muitas usinas de cana-de-açúcar investindo em cogeração, mas, por problemas de energia, acabam tendo que ligar geradores a diesel. Não faz sentido algum”.
Biocombustíveis aparecem como caminho estratégico
Uma das participantes defendeu que o próprio agro goiano já dispõe de alternativas para avançar:
“Nós precisamos investir ainda mais na cadeia de biocombustíveis. [...] E, além disso, os biocombustíveis podem nos colocar na dianteira dos esforços em sustentabilidade”, afirmou, destacando a produção de etanol de cana e milho e o uso de dejetos para geração de energia.
Comunicação e polarização dentro do setor
O papel da comunicação também ganhou espaço no debate. Para alguns, o setor ainda falha em transmitir seus diferenciais sustentáveis para o público urbano.
“Para combater o preconceito [com o agro], temos que mostrar o que de fato acontece no setor”, disse um dos debatedores.
Outra participante concordou, mas apontou que é preciso melhorar o diálogo interno:
“Nós temos uma polarização muito grande no agro. Precisamos nos despir dos preconceitos e realmente ouvir os outros quando se manifestam. Precisamos colaborar mais e guerrear menos”.