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Estado de Goiás,14/12/2025

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    Assédio e sexismo deixam “cicatriz” na saúde das mulheres e afetam o cérebro, dizem estudos

    Folha de S. Paulo
    Assédio e sexismo deixam “cicatriz” na saúde das mulheres e afetam o cérebro, dizem estudos reprodução

    O assédio de rua e as formas rotineiras de sexismo — mesmo quando não configuram ameaça física imediata — geram resposta de estresse que pode deixar marcas duradouras no corpo e na mente das mulheres. Estudos internacionais vinculam maior desigualdade de gênero a mudanças na espessura cortical de áreas cerebrais associadas ao controle emocional e à resiliência. Pesquisas longitudinais também mostram piora da saúde mental anos após episódios de discriminação.


    O que motivou a apuração

    Muitas mulheres relatam experiências cotidianas de assédio — ir para casa no escuro segurando as chaves, comentários indesejados, paternalismo e menosprezo — que, somadas, compõem o que pesquisadores chamam de sexismo estrutural: formas sistemáticas de desigualdade de poder e recursos entre homens e mulheres.


    Evidências científicas



    • Um grande estudo com imagens cerebrais (mais de 7,8 mil exames de 29 países) concluiu que mulheres que vivem em sociedades com maior desigualdade de gênero apresentam menor espessura cortical em regiões ligadas ao controle emocional, resiliência e transtornos relacionados ao estresse.

      O psiquiatra Nicolas Crossley, citado na apuração, afirmou enquanto a autora pesquisava para Breadwinners que é como se a desigualdade de experiências das mulheres "deixasse uma cicatriz no cérebro".




    • Estudos longitudinais no Reino Unido envolveram quase 3.000 mulheres; cerca de 20% relatou vivência de sexismo (de insegurança em espaço público a insultos e agressões). Essas mulheres tiveram maior probabilidade de relatar distúrbios psicológicos e menor satisfação com a vida quatro anos depois.




    • Pesquisas complementares indicaram que, em mulheres com mais de 52 anos, relatos de discriminação de gênero se relacionaram a declínio da saúde mental seis anos após a exposição, com aumento de sensação de solidão e queda na qualidade de vida.




    Por que o estresse causado pelo sexismo afeta o cérebro

    Os pesquisadores explicam que a plasticidade cerebral — a capacidade do cérebro de mudar com experiências — faz com que exposições crônicas ao estresse decorrente da desigualdade produzam alterações duradouras. Crossley e outros autores apontam que experiências prolongadas de desvalorização inibem a capacidade do cérebro de se adaptar positivamente, resultando em efeitos a longo prazo sobre a saúde mental.


    Impacto no cuidado médico

    Além dos efeitos mentais e neurológicos, há evidências de desigualdade no tratamento médico: estudos mostram que mulheres têm menos probabilidade, por exemplo, de receber analgésicos opioides em pronto atendimento, mesmo com sintomas de dor semelhantes aos de pacientes homens. Pesquisadores afirmam que há uma disparidade sexual sistemática na gestão da dor.


    Sexo, gênero e prejuízos também para homens

    O texto ressalta que o sexismo estrutural cria vantagens materiais para homens — salários mais altos, menos tarefas domésticas —, mas também constrange comportamentos masculinos, alimentando normas de masculinidade prejudiciais (incentivo ao risco, violência, abuso de substâncias e relutância em buscar ajuda médica). Uma meta-análise com mais de 19 mil participantes concluiu que homens que adotam traços como dominação e busca de status têm maior propensão a problemas de saúde mental.


    O ciclo nocivo do sexismo estrutural

    Patricia Homan define sexismo estrutural como desigualdade sistemática de poder e recursos entre os gêneros, incorporada às instituições sociais. Segundo a apuração, esse modelo restringe o acesso das mulheres a autonomia e remuneração justa, aumenta exposição a violência e cria estresse crônico — fatores que, combinados, resultam em prejuízos duradouros à saúde.


    Exemplos contemporâneos citados

    A reportagem cita uma alteração em conteúdo de um site governamental dos Estados Unidos relacionada à saúde das mulheres — material sobre cuidados maternos e saúde reprodutiva que incluía links para serviços como contracepção e aborto foi removido ou modificado, segundo relatório de Patricia Homan e colegas, publicado na The Lancet. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA não respondeu ao pedido de comentários da BBC no momento da publicação original.


    Como promover mudanças — propostas e experiências



    • Educação desde cedo: conversar com crianças sobre comportamentos adequados e questionar pressupostos sexistas dentro de casa. Pesquisas citadas indicam que estereótipos de gênero podem surgir muito cedo na vida.




    • Políticas públicas: medidas como licença-paternidade remunerada e de caráter "use ou perca", adotadas com sucesso em países nórdicos, aumentam a participação masculina nos cuidados e valorizam o papel do cuidado no mercado de trabalho.




    • Cultura e masculinidade: fomentar uma "masculinidade cuidadosa" que inclua o cuidado e a partilha das responsabilidades domésticas pode alterar normas de gênero e reduzir a normalização do assédio e da desigualdade.




    • Conversa e apoio: falar sobre discriminação pode diminuir o impacto na saúde mental ao aumentar apoio social, ainda que ações individuais não sejam suficientes sem mudanças institucionais.




    O que os pesquisadores enfatizam

    Ruth Hackett, do King’s College London, sintetiza parte das conclusões: "A exposição repetida a experiências estressantes ao longo do tempo pode gerar desgaste no corpo e essas alterações biológicas prejudiciais podem estar relacionadas a prejuízos ao bem-estar mental". Hackett também observa que os efeitos observados nas pesquisas "só desgastam as pessoas". 

    Os estudos reunidos na reportagem mostram que o sexismo estrutural e as experiências cotidianas de discriminação e assédio não são apenas questões sociais ou culturais: têm consequências mensuráveis para a saúde física e mental das mulheres. Segundo os autores citados, promover igualdade de gênero reduziria esses impactos e traria benefícios à saúde pública em geral.




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