Fertilidade feminina cai aos 35? O que diz a ciência sobre o tema
Uma mulher grávida segura a barriga - Unsplash Um número costuma dominar o imaginário de mulheres que querem engravidar: 35. A partir dessa idade, médicos classificam a gestante como estando em “idade materna avançada” — um termo mais suave do que a antiga expressão “gravidez geriátrica”.
Especialistas em fertilidade afirmam que essa marca tornou-se um divisor simbólico. A ideia difundida é de que, depois dos 35, engravidar e manter a gestação se torna muito mais difícil. Mas essa percepção, apesar de comum, não é totalmente precisa.
O mito do “precipício da fertilidade”
O conceito ganhou força nos anos 1970.
"Realmente se consolidou, especialmente no imaginário americano, desde os anos 1970", diz Emily Mann, socióloga da Universidade da Carolina do Sul. "É como uma palavra da moda", afirma.
Apesar disso, mais mulheres acima de 35 anos estão engravidando. Dados divulgados em julho pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças mostram que, enquanto a taxa geral de fertilidade caiu em 2024, as taxas de mulheres entre 35 e 39 anos se mantiveram estáveis. Entre mulheres com mais de 40, houve aumento de 2%.
Fatores sociais e avanços médicos influenciam
Mudanças econômicas e sociais fazem com que mulheres adiem a maternidade — seja por estabilidade financeira, conclusão dos estudos ou espera pelo parceiro ideal.
Com a evolução das técnicas de reprodução assistida, procedimentos como fertilização in vitro têm ajudado mulheres a engravidar mais tarde.
"Sabemos que geralmente é muito fácil para uma mulher mais jovem engravidar em comparação com uma mulher mais velha", diz Mann.
"Mas esses são dados em nível populacional. Isso não necessariamente indica, como indivíduo, quão difícil ou fácil pode ser."
A idade continua sendo um fator central
"Isso é incontestável", afirma Francesca Duncan, professora associada de obstetrícia e ginecologia da Universidade Northwestern.
A infertilidade é definida como não engravidar após um ano tentando (para mulheres com menos de 35).
Mas a queda da fertilidade não é abrupta ao completar 35. O declínio é gradual e depende de múltiplos fatores — para homens e mulheres.
Por que o número 35 virou referência?
Historicamente, 35 era a idade em que o risco de uma anomalia cromossômica no feto se igualava ao risco de aborto espontâneo causado pela amniocentese, um exame capaz de identificar essas anomalias.
"Isso meio que fixou os 35 anos como esse número mágico", diz Duncan.
O risco cresce com a idade e acelera após os 35 anos.
Segundo Natalie Clark Stentz, diretora médica do Centro de Medicina Reprodutiva da Universidade de Michigan Health, o aumento anual do risco é bem mais intenso no final dos 30 do que no início dos 20.
O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas aponta que, para casais saudáveis nos 20 e início dos 30, a chance de engravidar por ciclo é de 25% a 30%. Aos 40, cai para menos de 10%.
O que muda no corpo da mulher com a idade?
Menos óvulos — e de menor qualidade
Mulheres nascem com cerca de 1 a 2 milhões de óvulos, que se perdem ao longo dos anos.
O auge reprodutivo vai do fim da adolescência ao fim dos 20.
A partir dos 30, a perda acelera.
Aos 37, restam cerca de 25 mil óvulos.
Alterações hormonais
Com o envelhecimento, ovários produzem menos estrogênio e progesterona, dificultando a concepção e abrindo caminho para a menopausa.
Condições que podem atrapalhar a gravidez
Doenças associadas ao envelhecimento também pesam:
miomas (mais comuns entre 30 e 50 anos);
diabetes;
obesidade;
doenças autoimunes.
Todas podem afetar a fertilidade.
E os homens? A fertilidade também muda
A queda na fertilidade masculina é menos estudada, mas existe.
Após os 40, os níveis de testosterona diminuem, e os espermatozoides passam a ter pior qualidade e mobilidade reduzida.
Assim como mulheres, homens mais velhos têm maior risco de desenvolver doenças crônicas — como diabetes e hipertensão — que podem reduzir as chances de concepção.
E agora?
Alguns especialistas afirmam que focar em uma idade fixa pode ser enganoso. Mesmo assim, a orientação médica segue baseada nesse marco: mulheres acima de 35 que tentam engravidar há seis meses devem procurar avaliação.
O número, porém, é mais prático e histórico do que biológico.
"Na verdade, estou surpresa que o 35 tenha permanecido como está", diz Rosser.