Apenas um deputado do PL assinou decisão que cassou Ramagem e Eduardo Bolsonaro
reprodução O deputado federal Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP) foi o único parlamentar do PL a assinar a decisão da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira, que resultou na cassação dos mandatos de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). O ato administrativo não foi submetido à votação em plenário.
Neste ano, Rodrigues chegou a ser expulso do PL após criticar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e defender o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em meio às sanções impostas pelos americanos ao Brasil. A decisão, no entanto, foi posteriormente revertida.
Críticas da liderança do PL
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, criticou a decisão assim que foi informado sobre o desfecho.
– Lamento muito que o nosso deputado eleito, inclusive indicado pelo nosso partido (para a Mesa), o deputado Antônio Carlos Rodrigues, tenha assinado uma medida tão absurda dessa contra dois colegas do partido. É uma triste informação que eu ainda não tinha — afirmou.
Apesar da crítica, Sóstenes evitou antecipar possíveis punições internas.
– Esse é um assunto interno do PL e nós trataremos nos fóruns internos. Eu não vou emitir juízo de valor aqui — completou.
Outro integrante do PL na Mesa Diretora, o deputado Altineu Côrtes (RJ), primeiro vice-presidente da Câmara, recusou-se a assinar o ato de cassação.
Histórico de divergências com o bolsonarismo
Não é a primeira vez que Antonio Carlos Rodrigues atua em sentido oposto à maioria da bancada bolsonarista do PL. O deputado:
votou contra o marco temporal das terras indígenas;
foi um dos poucos do partido a não assinar o pedido de urgência da anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro;
apoiou propostas de interesse do governo, como o arcabouço fiscal.
Defesa de Moraes e críticas aos atos golpistas
Em setembro, o PL recuou da decisão de expulsar Rodrigues. À época, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, chegou a afirmar que a pressão da bancada era “muito grande” diante do que classificou como “ignorância sem tamanho” nas falas do deputado.
O Conselho de Ética do PL, porém, concluiu que Rodrigues agiu dentro dos limites da liberdade de expressão, afirmando que sua manifestação estava protegida pela Constituição Federal.
A controvérsia teve origem em declarações nas quais o deputado classificou como “absurda” a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes pelo governo Trump.
"É o maior absurdo que já vi na minha vida política. O Alexandre é um dos maiores juristas do país, extremamente competente. Trump tem que cuidar dos Estados Unidos. Não se meter com o Brasil como está se metendo", disse ao Metrópoles, em julho.
Em outra ocasião, afirmou:
"O que o ministro faz é muito bem feito. Eu admiro a atitude e a coragem de Alexandre de Moraes", ao Estado de São Paulo.
Durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, Rodrigues também fez postagens críticas:
"Vandalismo é crime, um ato odioso contra a democracia e às instituições, uma afronta ao estado democrático".
Trajetória política
Eleito em 2022 com 73.054 votos por São Paulo, Antonio Carlos Rodrigues, de 64 anos, está em seu primeiro mandato na Câmara, mas tem longa trajetória política.
Foi senador em 2012, como primeiro suplente, após a saída de Marta Suplicy, e deixou o cargo em 2014 para assumir o Ministério dos Transportes no governo Dilma Rousseff (PT), posto que ocupou até o impeachment, em 2016.
Rodrigues também foi vereador da capital paulista por quatro mandatos, presidiu a Câmara Municipal de São Paulo entre 2007 e 2010, e ocupou cargos como:
diretor-presidente da EMTU;
secretário de Serviços Públicos de Guarulhos;
chefe de gabinete em secretarias municipais e na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde iniciou a vida pública em 1979.
Quadro tradicional do PL, mais ligado ao Centrão, Rodrigues é próximo de Valdemar Costa Neto e integra o partido desde a década de 1990, antes da filiação do ex-presidente Jair Bolsonaro à legenda.
No velho PL, onde disciplina e pragmatismo sempre dividiram a mesma mesa, Rodrigues segue jogando como nos tempos antigos — voto próprio, custo político incluído.