Lula almoça com cúpula das Forças Armadas em clima de conciliação após prisões de generais
reprodução O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa nesta quinta-feira, em Brasília, de um almoço com o comando das Forças Armadas para fazer um balanço do ano com a cúpula militar. O encontro ocorre em um momento sensível da relação entre o governo e a caserna, marcado pela prisão de generais condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da tentativa de golpe de Estado.
O discurso preparado pelo Palácio do Planalto em conjunto com o Ministério da Defesa terá tom conciliatório. A orientação é evitar qualquer ruído institucional, exaltando o papel do Exército, da Marinha e da Aeronáutica na soberania nacional e destacando ações do governo que beneficiaram diretamente os militares ao longo do ano.
Será a primeira reunião presencial de Lula com a cúpula militar após as prisões. Atualmente, estão detidos no Comando Militar do Planalto os generais da reserva Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa. O ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, cumpre pena na Estação Rádio da Marinha, em Brasília, enquanto o general Walter Braga Netto está preso na 1ª Divisão do Exército, na Vila Militar, no Rio de Janeiro.
Como mostrou O GLOBO, militares que visitaram Augusto Heleno relatam que o general estaria “aéreo” durante o cumprimento da pena, o que intensificou pressões internas para que ele seja transferido para prisão domiciliar, pedido já protocolado pela defesa com base em diagnóstico de Alzheimer. A pressão tem recaído principalmente sobre o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
Lula será recebido pelos comandantes do Exército, general Tomás Paiva; da Marinha, almirante Marcos Olsen; e da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, no Clube do Exército, em Brasília. O almoço de fim de ano com os comandantes é um evento tradicional na agenda do presidente, mas não ocorreu em 2023 devido à cirurgia de emergência à qual Lula foi submetido após um sangramento intracraniano.
Desta vez, o presidente deve enfatizar o aporte orçamentário destinado às Forças Armadas. Entre os principais pontos, está a aprovação pelo Congresso de R$ 30 bilhões em investimentos ao longo de seis anos para projetos estratégicos da Defesa Nacional. Os recursos, articulados politicamente pelo ministro José Múcio junto à Câmara e ao Senado, ficam fora do arcabouço fiscal e não entram no limite de gastos públicos, sendo liberados de forma escalonada — cerca de R$ 5 bilhões por ano.
Os investimentos contemplam programas como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), o desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro, a renovação da frota de caças Gripen, além da modernização de navios e de sistemas de mísseis táticos de cruzeiro. Lula também deve mencionar a criação de uma nova unidade do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em Fortaleza (CE), como símbolo do compromisso do governo com inovação, defesa e formação de quadros estratégicos.
A mensagem central do Planalto é clara: preservar a institucionalidade, reforçar o papel constitucional das Forças Armadas e virar a página de um ano em que a relação civil-militar esteve sob forte tensão — sem esquecer, claro, de lembrar quem paga a conta e quem segura o leme.