Entidades médicas se manifestam contra 'chip da beleza' e testosterona em mulheres
Implante hormonal ou chip de beleza, nas mãos do médico, é uma aplicação subcutânea - Adobe Stock A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) emitiram um alerta conjunto nesta sexta-feira (12) sobre o uso de testosterona em mulheres sem diagnóstico de deficiência comprovada. Segundo as entidades, a reposição hormonal com testosterona não é indicada, a menos que haja uma indicação clínica específica e um diagnóstico claro de deficiência.
Uso inadequado pode causar sérios riscos à saúde das mulheres
No documento, as entidades afirmam que a testosterona não apresenta queda abrupta com a menopausa, mas sim uma redução gradual ao longo da vida adulta. A informação é clara: não há valores de referência validados que indiquem uma deficiência androgênica feminina passível de tratamento clínico. A recomendação é de que a dosagem de testosterona seja feita somente no contexto de investigação de casos como o hiperandrogenismo, que pode ocorrer em condições como a síndrome dos ovários policísticos, tumores ovarianos ou adrenais, e outras doenças endócrinas.
As sociedades médicas alertam também que não há respaldo científico para a dosagem rotineira de testosterona com o intuito de investigar valores baixos ou uma suposta deficiência.
Indicação restrita ao tratamento do TDSH pós-menopausa
O único caso no qual há indicação cientificamente reconhecida para o uso de testosterona é no tratamento do Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH) em mulheres na pós-menopausa, mas sempre após um diagnóstico clínico criterioso e por exclusão de outras causas.
Entretanto, as entidades destacam que a baixa libido nas mulheres não é causadas pela falta do hormônio, e que antes de qualquer terapia, devem ser avaliadas outras causas mais comuns, como o hipoestrogenismo, a síndrome urogenital da menopausa, e transtornos como depressão e outros problemas psiquiátricos, além de efeitos colaterais de medicamentos (como antidepressivos), obesidade, e fatores psicossociais ou conjugais.
Testosterona não aprovada pela Anvisa
Outro ponto importante levantado pelas sociedades médicas é que não existe formulação de testosterona aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em mulheres no Brasil. Eles alertam que implantes subcutâneos manipulados não devem ser utilizados, pois apresentam farmacocinética imprevisível e não possuem dados robustos de eficácia e segurança.
Além disso, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proíbe o uso de testosterona e outros anabolizantes (como gestrinona e oxandrolona) para fins estéticos, como melhoria da composição corporal, desempenho físico, disposição ou antienvelhecimento, tanto para mulheres quanto para homens.
Riscos do uso indiscriminado: efeitos virilizantes e problemas cardiovasculares
As entidades médicas também alertam para os riscos do uso de testosterona fora das indicações recomendadas, que incluem:
Efeitos virilizantes: como acne, queda de cabelo, crescimento de pelos, aumento do clitóris e engrossamento irreversível da voz.
Riscos de toxicidade e tumores hepáticos.
Alterações psicológicas e psiquiátricas.
Infertilidade e potenciais repercussões cardiovasculares, como hipertensão, arritmias, embolia, tromboses, infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e aumento da mortalidade.
Alterações nos exames laboratoriais, incluindo colesterol e triglicerídeos.
O uso de "chips da beleza", que são implantes manipulados à base de testosterona e outros anabolizantes, é especialmente perigoso. Além de serem não permitidos pela Anvisa, esses implantes podem representar sérios riscos à saúde das mulheres, conforme alertam as sociedades médicas.