Hugo Motta diz que relação com governo Lula tem “altos e baixos”, mas está estabilizada
O presidente da Câmara, Hugo Motta, ao lado de Lula - Pedro Ladeira/Folhapress O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou nesta sexta-feira (19) que a relação com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou por momentos de tensão, mas está “estabilizada”. Segundo ele, houve avanço na pauta econômica e o diálogo com o Planalto permanece respeitoso.
Motta disse manter interlocução direta com Lula, com a ministra Gleisi Hoffmann e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
"Como todas as relações das nossas vidas, tem altos e baixos, e isso é muito natural, porque cada Poder tem a sua independência, cada Poder tem a sua maneira de agir, tem a sua dinâmica interna. Não está escrito na Constituição que um Poder tem que concordar com o outro em 100% dos pontos"
Momentos de tensão
A relação entre a Câmara e o governo enfrentou episódios conturbados ao longo do ano, como:
a derrubada do decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras);
a escolha de um aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como relator do projeto de lei antifacção;
a votação do PL da Dosimetria;
a tramitação da PEC da Blindagem.
No primeiro café com a imprensa desde que assumiu a presidência da Casa, em fevereiro, Motta afirmou que divergências fazem parte do processo democrático e que a relação com o Executivo termina o ano com perspectiva de mais diálogo em 2026.
"Existem os altos e baixos, as discordâncias, mas esse respeito não se perdeu"
Pauta econômica e mudança de posição
Segundo Motta, a mudança de postura da Câmara — que em outubro rejeitou o aumento de impostos sobre bets e fintechs, mas aprovou a proposta em dezembro junto com o corte de benefícios fiscais — ocorreu porque o debate ficou mais maduro.
"Acho que foi o amadurecimento do Congresso e o entendimento do momento de ser votado, dos líderes partidários, do ambiente da Casa."
Governo e articulação política
Motta avaliou que a troca no comando do Ministério do Turismo pode contribuir para a governabilidade. Ele elogiou a escolha de Gustavo Feliciano, que substituiu Celso Sabino.
"Conheço o Gustavo. Foi bom secretário lá no estado [Paraíba], tem boa interlocução política. O presidente foi feliz na escolha"
Gustavo Feliciano é filho do deputado Damião Feliciano (União Brasil-PB), aliado de Motta.
Eleição presidencial e TCU
O presidente da Câmara evitou declarar apoio a qualquer candidato à Presidência da República neste momento, alegando a necessidade de evitar polarização interna.
"Porque se aqui agora eu anuncio um apoio a A ou B, tudo que eu fizer a partir daqui vai ser porque eu estou a favor de A e contra B, ou a favor de B e contra A"
Motta também disse que honrará o acordo com o PT para a eleição do deputado Odair Cunha (PT-MG) como ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), na vaga que será aberta em fevereiro, mas afirmou que ouvirá os líderes sobre o momento mais adequado para a escolha.
Resposta a Arthur Lira
Motta comentou críticas feitas pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que classificou a condução da Casa como uma “esculhambação” em mensagens a colegas do PP, após a rejeição da cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ).
O atual presidente afirmou manter respeito e amizade por Lira, mas discordou das críticas.
"Eu não concordo com as críticas. Eu também não sei se foi tirado de contexto o que ele disse no dia. Essa foi uma leitura muito mais feita por quem viu lá as mensagens"
"Natural que haja discordância. Cada um tem o seu estilo, cada um tem a sua forma de agir, cada um tem a sua forma de se comportar, cada um tem a sua maneira de tomar a decisão"
Motta disse ainda que divide responsabilidades com o colégio de líderes.
"O posicionamento do presidente da Câmara é sempre tomado em concordância e com o apoio do colégio de líderes [...] Então eu divido com o colégio os erros e os acertos"
Relação com o Judiciário
Sobre o Judiciário, Motta defendeu o diálogo institucional e afirmou que cabe ao STF (Supremo Tribunal Federal) ordenar investigações contra parlamentares.
"A Câmara não tem compromisso em estar protegendo aquilo que não é correto. A Câmara dos Deputados não tem essa função, muito menos o presidente"
"Quando a gente tem um colega que é alvo de qualquer ação do Judiciário, seja ela qual for, nós não ficamos felizes com isso. Ninguém fica feliz com isso. Mas que o Judiciário está cumprindo o seu papel"
Apesar disso, disse ser necessário estabelecer limites para evitar exageros, sem detalhá-los, e defendeu que não se pode generalizar críticas às emendas parlamentares.
"Nós não temos compromisso com quem não trabalha correto com emenda. Mas eu tenho também a plena certeza que a larga maioria dos representantes que estão na Câmara dos Deputados, os senhores deputados e deputadas federais, trabalha corretamente com a emenda"