Desigualdade salarial entre homens e mulheres persiste no Brasil, mostram dados do IBGE e do MTE
reprodução Mesmo em 2025, a desigualdade salarial entre homens e mulheres segue como um dos principais desafios do mercado de trabalho brasileiro. Dados recentes reforçam esse cenário: levantamento divulgado nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, em 2024, as mulheres receberam, em média, 78,6% do rendimento dos homens.
Outro estudo, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), indica que, no setor privado, a diferença chega a 21,2% a menos na remuneração feminina em comparação aos homens. Os números reacendem o debate sobre os fatores que mantêm essa disparidade, apesar dos avanços observados nas últimas décadas.
Fatores estruturais mantêm desigualdade
Segundo Rosa Bernhoeft, especialista em gestão de pessoas e CEO da Alba Consultoria, a análise da desigualdade salarial não pode se restringir apenas à evolução percentual dos rendimentos. Ela explica que parte do crescimento recente está relacionada à maior inserção de mulheres no mercado formal, especialmente em cargos de entrada, o que tende a reduzir a média salarial geral.
“Além disso, persistem fatores estruturais que tornam esse avanço lento, como a baixa participação feminina em cargos de liderança, a sobrecarga de cuidados e a concentração em setores menos valorizados economicamente”, afirma.
De acordo com a especialista, a diferença de remuneração está diretamente ligada a estruturas sociais e culturais ainda não superadas, sobretudo no que diz respeito à divisão desigual do trabalho doméstico e de cuidados.
“Essa realidade reduz o tempo disponível para estudo, networking e atividades que favorecem crescimento profissional, ao mesmo tempo em que sustenta a segregação ocupacional e limita o avanço das mulheres aos cargos mais altos”, explica.
Trabalho de cuidado e impacto na carreira
Rosa destaca que a desigualdade salarial reflete fatores profundos da organização social. “As mulheres dedicam, em média, 11 horas semanais a mais ao trabalho de cuidado, o que impacta diretamente suas oportunidades de desenvolvimento”, complementa.
Para reduzir essa diferença, a especialista defende ações articuladas entre empresas, poder público e sociedade. Entre as medidas necessárias, ela cita auditorias de remuneração, revisão de critérios enviesados e ampliação de políticas de cuidado.
“O avanço depende de intencionalidade e monitoramento contínuo, tanto no setor privado quanto no governo, garantindo condições equitativas de ascensão profissional”, afirma.
Caminhos para a mudança
Apesar do cenário desafiador, Rosa avalia que a transformação é possível. “Ela já está acontecendo, mas precisa ser conquistada com compromisso genuíno das lideranças e políticas que apoiem, de fato, a equidade”, conclui.
A desigualdade salarial segue como um dos principais entraves do mercado de trabalho no país. Ainda assim, os dados indicam que mudanças são viáveis quando há ação consistente, continuidade e compromisso coletivo para garantir que mulheres possam não apenas participar, mas prosperar em igualdade de condições.