Oposição vê Messias como novo Dino; senadores mantêm Pacheco como melhor opção para o STF
Reprodução O procedimento para a seleção do novo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), em decorrência da vaga aberta com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso, assumiu contornos inéditos no Senado, que é responsável por sabatinar e deliberar sobre o nome sugerido pelo presidente da República.
Diferente das últimas nomeações do presidente Lula (PT), quando as discussões na Casa ficaram limitadas a aprovar ou não Cristiano Zanin e Flávio Dino, o Legislativo agora demonstra preferência por um nome específico, o do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Lula ainda não revelou sua escolha, mas já informou aliados que planeja indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias.
No Senado, parte da oposição considera Messias como um "novo Dino" e não pretende votar a favor de sua aprovação. Outra parte, ligada a partidos do centrão, como PP e União Brasil, está disposta a insistir no nome de Pacheco, mesmo que não rejeitem Messias. O grupo busca conquistar o apoio daqueles que prefeririam o senador mineiro, mas que apoiariam qualquer decisão do presidente petista.
Os argumentos dos senadores favoráveis a Pacheco são de que ele compreende a política e, como ministro do STF, poderia atuar como uma ponte com o Legislativo para diminuir a tensão entre os Poderes. Também argumentam que isso seria um reconhecimento à sua atuação em momentos críticos do país, como os eventos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Pacheco também presidia o Congresso Nacional durante a pandemia de Covid, e seus aliados lembram de sua postura favorável às vacinas diante de um então presidente, Jair Bolsonaro (PL), que se opunha à imunização.
"Ele tem um crédito com os senadores pelo que ele representou em 8 de Janeiro, inclusive com o sacrifício político em Minas, porque naquela época existia uma força pró-Bolsonaro", afirmou o senador Otto Alencar (PSD-BA), presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), responsável pela sabatina do indicado ao STF antes da votação secreta no plenário.
"Todos gostariam que fosse ele [Pacheco]. Existe um ‘queremismo' do Senado pelo Pacheco. No entanto, se o presidente indicar Bruno Dantas [presidente do TCU] ou Jorge Messias, é claro que eu, como senador da base, trabalharei por ele. Não que eu vá sair pedindo votos, mas vou manter o ritmo regimental na CCJ, conforme o previsto", declarou Otto.
O líder do União Brasil, Efraim Filho (PB), compartilha uma visão semelhante sobre Pacheco e ressalta que Lula já indicou dois nomes e que a vaga deixada por Barroso seria um "ponto fora da curva".
"O sentimento predominante no Senado é votar a favor de Pacheco, que seria uma escolha melhor diante do tensionamento entre os Poderes. Ele atuou em prol das vacinas e pela legitimidade das eleições. Não é contra Messias. É a favor de Pacheco", defendeu Efraim.
Sob reserva, um membro do PP expressou preocupação de que o nome de Messias seja rejeitado na votação, o que seria um fato inédito na história da Casa.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), tem evitado comentar publicamente o que discutiu com o presidente Lula no início da semana, pouco antes da viagem do petista à Ásia. No entanto, aliados afirmam que, além de demonstrar sua preferência por Pacheco, ele teria alertado o presidente sobre uma possível derrota na Casa caso Messias fosse indicado.
Senadores petistas preferem não fazer avaliações desse tipo, afirmando que o advogado-geral é um bom nome, assim como Pacheco e Bruno Dantas, e reiteram que a decisão de Lula deve ser respeitada. "É uma prerrogativa do presidente. Acredito que Lula tem convicção formada [por Messias]", afirmou Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado.
Lula também já mencionou que vê Pacheco como a melhor opção para o Governo de Minas Gerais, um palanque importante para ele em 2026.
Entre os membros da oposição mais radical a Lula, o nome de Messias é rejeitado. Sob condição de anonimato, um integrante do PL afirma que a atuação do advogado-geral da União é a de um ativista e que ninguém deseja mais um Dino no STF.
Outro senador da oposição também faz essa comparação. "Ele [Messias] tem uma abordagem de censura muito parecida com a do Dino", ressaltou o senador Eduardo Girão (Novo-CE), que se posiciona abertamente contra o advogado-geral da União.
"Respeito a pessoa do Messias, mas meu sentimento é que precisamos eliminar o personalismo dentro do STF. Já temos um correligionário do Lula, o Dino, que foi ministro dele; o advogado pessoal do Lula, que é o Zanin", declarou.
Por outro lado, Messias conta com o apoio do líder do Republicanos no Senado, Mecias de Jesus (RR). Ambos são evangélicos, mas Mecias afirma que seu voto será baseado em "capacidade jurídica e conhecimento".
Ele também declarou que não acredita que haverá dificuldades para que Messias receba a aprovação da Casa. "Mas evidentemente o candidato que o Senado votaria sem precisar de qualquer tipo de negociação é Pacheco. Não tenho dúvida de que ele alcançaria a unanimidade", acrescentou.