Câmara aprova projeto que aumenta tributação das 'bets' e corta incentivos fiscais para fintechs
Texto base, que segue para o Senado ainda hoje, prevê mudanças no Juro sobre Capital Próprio (JCP) e responsabiliza fintechs por apostas ilegais; votação teve 310 votos a favor
Reprodução A Câmara dos Deputados deu sinal verde, na madrugada desta quarta-feira, para o projeto de lei que endurece a tributação sobre bets, fintechs e o Juro sobre Capital Próprio (JCP), além de cortar linearmente 10% de incentivos fiscais.
A medida é a aposta do governo para fechar as contas. Com 310 votos favoráveis e 85 contrários, o texto aprovado garante uma arrecadação extra estimada em cerca de R$ 20 bilhões para o ano que vem. O projeto agora corre contra o tempo e deve ser votado no Senado ainda nesta quarta.
O que foi decidido
O relatório do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) foi aprovado próximo de 1h da manhã, após uma intensa maratona de negociações liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O objetivo central é claro: garantir recursos para o Orçamento de 2026.
Para viabilizar a aprovação, o texto sofreu alterações importantes:
• Corte de Incentivos: A proposta original atingiria empresas com faturamento A proposta original atingiria empresas com faturamento acima de R$ 1,2 milhão. O novo texto subiu esse teto para R$ 5 milhões, protegendo companhias médias.
• Impacto Financeiro: Com a mudança no teto, a arrecadação prevista com os cortes caiu de R$ 19,9 bilhões para R$ 17,5 bilhões.
• Compensação: Para cobrir a diferença, entraram no pacote o aumento da tributação de apostas e mudanças no JCP.
Cerco às Bets e Fintechs
O projeto traz regras duras para o setor financeiro digital ligado às apostas. Bancos e fintechs que permitirem transações para casas de apostas não regularizadas serão responsáveis pelo recolhimento dos tributos dessas operações ilegais.
A responsabilidade também recai sobre a publicidade: pessoas físicas (influenciadores) e jurídicas que divulgarem bets não autorizadas serão penalizadas.
"Concessão indiscriminada"
O relator defendeu o rigor do projeto, argumentando que o atual sistema de benefícios cria distorções. Segundo Ribeiro:
"Não somos contrários a políticas de estímulo a setores estratégicos da economia. No entanto, o uso de benefícios fiscais para esse fim costuma ser a ferramenta mais dispendiosa, menos eficaz e menos transparente e, em muitos casos, serve apenas para beneficiar interesses privados sem gerar retorno social"
Ele reconheceu o aumento da carga tributária, mas justificou que a medida expõe o peso desproporcional carregado por quem não tem acesso a essas renúncias fiscais.
Como funciona o corte linear
Se aprovado pelo Senado, o corte de 10% nos benefícios fiscais valerá já para o próximo ano.
• Exceções: Incentivos constitucionais, como a Zona Franca de Manaus, não serão afetados.
• Revisão: Foi estabelecida uma revisão obrigatória dos benefícios a cada cinco anos, condicionada ao cumprimento de metas.
Bastidores da negociação
A aprovação foi fruto de uma força-tarefa do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acionou diretamente o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), enquanto Haddad se reuniu com líderes partidários.
O governo jogou com todas as cartas, alertando para o risco de cortes em emendas parlamentares caso a arrecadação não fosse garantida. A meta é um superávit de 0,25% do PIB (cerca de R$ 34 bilhões) no próximo ano.
"O volume de recursos necessário para fechar a peça orçamentária é da ordem de R$ 20 bilhões" — disse Haddad.