Corretora encontra novo jeito de vender casas de luxo zombando dos ricos

Sob o céu azul da Flórida, Breanna Banaciski posicionou-se diante de uma mansão, olhou para a câmera em um tripé e iniciou sua fala. Ela começou com um tom de irritação encenada.
“Isso está ficando ridículo. Esta casa tem 650 metros quadrados. Nem consigo encaixá-la no quadro”, disse, censurando um palavrão antes de “quadro”. “Cinco quartos, seis banheiros, 3,5 milhões de dólares.”
Corte rápido para Banaciski caída no chão, como se o luxo exagerado das palavras a tivesse derrubado. Corte para ela em pé em um quarto enorme. “Esta casa continua e continua e continua. Não acaba!” gritou, com voz irritada. “É como a série ‘John Wick’.”
Há uma piada sobre o “Titanic”, outra sobre festas do Diddy e até uma brincadeira sobre a piscina ser menor do que o esperado. No fim, ela convida os espectadores a mostrarem o vídeo aos amigos — justamente porque isso vai deixá-los irritados por não poderem pagar.
Se alguém não a conhecesse, poderia pensar que o vídeo de 1 minuto e 13 segundos era uma sátira provocativa sobre desigualdade, feita por uma comediante que pegou emprestada a casa de um milionário. Mas Banaciski é uma corretora licenciada, e o vídeo é um anúncio real de uma mansão em Belleair, na Flórida.
O humor sarcástico e o mercado imobiliário formaram uma combinação poderosa. Com 30 anos, Banaciski conquistou um público imenso nas redes sociais — o vídeo da casa em Belleair já teve cerca de 2,7 milhões de visualizações no TikTok, onde ela soma 328 mil seguidores (e ainda mais no Instagram). Embora a maioria assista apenas para rir, muitos acabam interessados em comprar.
No mercado instável de Tampa, ela recebeu tantas ligações que precisou repassar diversos clientes a colegas da imobiliária Realty One Group Advantage, de Lutz, Flórida.
Até o momento, vendeu três casas e tem quatro em negociação — um início promissor para quem obteve a licença no fim do ano passado, segundo Dara Khoyi, corretor e proprietário da Realty One. “Ela é uma agente em ascensão”, afirmou, “que parece que vai bater alguns recordes.”
Vivendo com o noivo em um subúrbio de Tampa, Banaciski não imaginava esse sucesso. Começou a postar vídeos engraçados em março. Antes disso, havia feito alguns tours virtuais sem graça e se irritou com as poucas visualizações. Então decidiu apostar no humor em um vídeo sobre uma casa nova com cinco quartos em Lutz.
“Eu nunca poderia morar aqui. Primeiro, porque tem um inseto morto no chão”, disse, apontando. “E, segundo”, acrescentou, olhando de cima, “eu não gosto de alturas.” Seu chefe não gostou dos palavrões, mas depois elogiou a leveza. “Ela suavizou um pouco, e estou feliz com isso”, disse Khoyi. “Sempre que preciso rir, vejo as postagens dela.”
Os vídeos de Banaciski atraem tanto quem busca imóveis quanto fãs de comédia. Produtoras de TV já a contataram. Em junho, ela assinou contrato com o empresário de Hollywood Lee Kernis, que trabalhou com grandes nomes da comédia. Ele e o estúdio Tornante Television, responsável por “Bojack Horseman”, planejam um programa estrelado por ela.
“Você pode assistir a um monte de corretores imitando-a online agora e eles não têm ideia”, disse Kernis. “Ela sabe escrever uma piada e sabe como editar para entrar e sair rapidamente.”
Desde criança, Banaciski se interessava por comédia e atuação. Se tivesse condições financeiras, teria seguido o conselho de um professor para tentar a sorte no showbiz.
Ela cresceu com cinco irmãos em uma casa simples nos arredores da Flórida. Às vezes faltava energia e o que havia na geladeira eram apenas condimentos. Seu pai, vendedor de carros, ganhava pouco quando não fechava negócios.
Com medo de dívidas estudantis, evitou empréstimos e trabalhou em vários empregos — na Kmart, no Busch Gardens, no Kennedy Space Center, tirando fotos de turistas. Depois, trabalhou no setor de veículos do escritório de impostos do Condado de Pasco, ganhando US$ 12 por hora.
Quando um cliente disse que havia comprado um Subaru, ela respondeu: “Bem, esse é o seu primeiro problema.”
Mais tarde, trabalhou para uma empresa de semicondutores, vendendo a fabricantes de placas de circuito. Cansada disso, pensou em transformar seu hobby de explorar casas no Zillow em profissão.
Antes do sucesso, quase desistiu. Apesar de ainda haver muita gente se mudando para a Flórida, o ritmo diminuiu, e o mercado está saturado, segundo Chen Zhao, da Redfin. De 10.000 a 15.000 novas listagens aparecem toda semana, quatro vezes mais que o normal, de acordo com Philip Simonetta, da Pier 21 Realty.
“Muitas pessoas estão tentando sacar seu patrimônio porque têm medo de perdê-lo à medida que o mercado está caindo”, disse Simonetta. “Os preços em partes da Flórida caíram 13%.” Juros altos e seguros caros por causa de furacões e enchentes agravaram a situação.
Mesmo assim, o humor e os algoritmos ajudaram Banaciski a se destacar. Proprietários de mansões pedem seus vídeos irônicos, que podem multiplicar as visualizações em até mil vezes.
A Realty One não interfere no conteúdo. As únicas regras que ela segue são legais — como as restrições de Habitação Justa, que impedem descrições de bairros “seguros” ou “em ascensão”.
Essas normas ainda deixam espaço para o sarcasmo. “Esta garagem é alta o suficiente para caber sua F-150 elevada”, disse ela em outro vídeo, “mas não alta o suficiente para preencher o vazio de quando seu pai partiu.”