Mesmo saindo do governo, União Brasil e PP ainda têm 140 filiados em órgãos de orçamento bilionário

O GLOBO
Mesmo saindo do governo, União Brasil e PP ainda têm 140 filiados em órgãos de orçamento bilionário Reprodução

O anúncio da saída do ministro Celso Sabino (Turismo) do governo Lula, após o ultimato do União Brasil, marcou o primeiro passo de um movimento que pode se expandir pela máquina pública e gerar mudanças em cargos de órgãos com orçamentos bilionários. Levantamento do GLOBO identificou 140 filiados ao partido e ao PP, que integra a mesma federação, ocupando postos de confiança no Executivo. A pressão das lideranças partidárias pelo desembarque já despertou o interesse de outras legendas e abriu a disputa por espaços.

No primeiro escalão, além de Sabino, o deputado federal licenciado André Fufuca (PP-MA) comanda o Ministério do Esporte. As situações estão em níveis diferentes. Sabino entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma carta de demissão na sexta-feira, uma semana depois de Antonio Rueda, presidente do União Brasil, exigir sua saída imediata em meio a um conflito particular com o governo.

Lula solicitou que o ministro permaneça até o fim desta semana, numa tentativa de ganhar tempo e manter o apoio do partido. Fufuca, por sua vez, segue no cargo enquanto não recebe ordem partidária.

Indicações

Além de cargos no primeiro escalão, os partidos estão presentes na administração federal, com filiados ou indicados por parlamentares e dirigentes. No Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), o diretor administrativo é Narcélio Moreira Albuquerque, que foi secretário parlamentar da deputada Fernanda Pessoa (União-CE). O diretor-geral do órgão, com orçamento de R$ 1,3 bilhão, é indicação do PP desde a gestão de Jair Bolsonaro.

"Ele (Moreira) tem atributos que transcendem qualquer vinculação partidária e nunca almejou disputar mandatos.", afirma a deputada, defendendo a permanência do aliado. Moreira não se manifestou.

Na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), o diretor de gestão de fundos é Heitor Freire, ex-deputado federal do União Brasil pelo Ceará. Apesar da posição do partido, ele tenta se manter no cargo e afirmou que pedirá sua saída caso não haja aval:

"Já pedi agenda com o presidente Rueda. Vou buscar um diálogo, e se existir um desconforto, quiserem realmente que eu saia, pedirei minha carta de anuência e saio do partido."

Outro nome é José Lindoso de Albuquerque Filho, secretário parlamentar do deputado Luciano Bivar, ex-presidente do União Brasil, que ocupa cargo de direção na Sudene, órgão do Ministério da Integração Nacional, chefiado por Waldez Góes, apadrinhado de Davi Alcolumbre (União-AP). Lindoso não se pronunciou.

Na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), presidida por Lucas Felipe de Oliveira, Alcolumbre também indicou cargos. O orçamento do órgão em 2025 é de R$ 2,1 bilhões. Segundo levantamento do GLOBO, a Codevasf tem três filiados do PP e dois do União Brasil em cargos comissionados.

O levantamento usou a lista de filiados mais recente do TSE e o cadastro de servidores DAS, CCX e NES do Portal da Transparência. Atualmente, o União Brasil soma 97 filiados em cargos de confiança e o PP, 43.

Durante o governo Lula, o movimento nos dois partidos foi semelhante: havia mais filiados em cargos comissionados ao final da gestão Bolsonaro, caiu no início do mandato de Lula e voltou a crescer com a abertura de espaços para congressistas dessas siglas. Nos últimos dois anos, o PP adicionou 12 filiados e o União Brasil, 19.

O União Brasil mantém cinco representantes na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), com orçamento de R$ 830,5 milhões. Há ainda filiados em cargos no Palácio do Planalto, Funai e superintendências estaduais do Ministério da Saúde.

Enquanto o União Brasil já iniciou o desembarque, o PP só começará a aplicá-lo no fim do mês. Em nota, o União reiterou que “todos os seus filiados devem cumprir integralmente” a resolução de saída das funções e que os filiados devem solicitar sua exoneração. A legenda afirmou que “acompanhará cada situação individualmente, adotando medidas cabíveis sempre que houver descumprimento” e que a normativa prevê sanção aos que não pedirem exoneração, incluindo processos disciplinares e possível expulsão. O PP não respondeu.

Pretensos herdeiros

Com a possibilidade de movimentações derivadas das decisões das cúpulas, siglas do Centrão começaram a se articular para ocupar espaços. No caso da Esplanada, o ministro do Turismo é o único filiado ao União Brasil. Mesmo assim, Alcolumbre indicou ministros na Integração Nacional e das Comunicações, que não são afetados pela decisão.

Com a saída de Sabino, o PT demonstrou preferência por Marcelo Freixo para a pasta, enquanto deputados do PDT sugerem André Figueiredo (CE). O PSD também manifestou interesse no cargo.

O cientista social Yagoo Moura, da FGV, avalia que a movimentação dos partidos ocorre num contexto em que emendas se tornaram o principal ativo de negociação no Congresso, com R$ 53 bilhões destinados em 2024. Para Moura, isso reduz o interesse por cargos ministeriais:



















"O que é mais vantajoso para uma liderança parlamentar? Ter um ministério esvaziado politicamente, com orçamento reduzido, que não serve como vitrine eleitoral e ainda apresenta desafios de execução, ou ter acesso a uma fatia maior das emendas, que oferece retorno eleitoral mais rápido e efetivo porque direciona políticas para a base?", questiona. "O que vai pesar na balança na hora das votações não é o ministério, é emenda."




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