Sabino entrega carta de demissão a Lula após ultimato do União Brasil

Folha de S. Paulo
Sabino entrega carta de demissão a Lula após ultimato do União Brasil O ministro do Turismo, Celso Sabino, em seu gabinete - Gabriela Biló - 18.jul.23/Folhapress

O ministro do Turismo, Celso Sabino, anunciou nesta sexta-feira (26) que entregou uma carta de demissão ao governo Lula (PT) após ultimato dado pela cúpula do seu partido, o União Brasil. No entanto, ele diz que vai seguir dialogando com a cúpula da legenda para tentar ficar no cargo.

A decisão ocorreu após Sabino não conseguir convencer os dirigentes partidários e, sobretudo, o presidente da sigla, Antonio Rueda, a ficar na pasta ao menos até o final do ano — ele é deputado federal licenciado. Ele esteve com Lula no Palácio do Planalto no início da tarde.

"Tive uma conversa hoje com o presidente da República, em virtude da decisão do partido ao qual eu sou filiado tomou, de deixar o governo. E vim hoje aqui cumprir o meu papel, entreguei ao presidente a minha carta e o meu pedido de saída do Ministério do Turismo, cumprindo a decisão do meu partido", disse Sabino em entrevista coletiva após encontro com Lula.

"Vou seguir conversando com lideranças do meu partido (...) Acredito no diálogo e que os homens públicos que têm compromisso com a nação vão trabalhar juntos pelo bem do país", acrescentou.

Sabino afirmou que Lula pediu que ele seguisse no cargo na próxima semana, quando o petista irá ao estado do Pará para inaugurar obras relacionadas à estrutura para receber a COP30, a conferência do clima das Nações Unidas, que será realizada em novembro. "Está a cargo do presidente Lula [aceitar ou não a carta]", afirmou Sabino.

"Na próxima semana, na quinta-feira, o presidente irá ao estado do Pará para inaugurar boa parte dessas obras. O presidente pediu que eu o acompanhasse nessa missão na cidade de Belém na quinta-feira. Vou como ministro [a Belém]", disse Sabino, que é deputado federal licenciado pelo Pará.

A intenção do ministro é usar esse tempo para tentar viabilizar sua permanência no cargo. Para isso, terá que convencer a cúpula do partido. A seu favor existe um movimento, que foi intensificado nos últimos dias, de distensionar a relação do comando do União Brasil com o Palácio do Planalto.

A expectativa, segundo pessoas a par das conversas, é que ocorra nos próximos dias um encontro entre Rueda e o próprio Lula. Estariam atuando nesse movimento nomes como os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e do PT, Edinho Silva.

Um integrante da cúpula do partido diz que há uma disposição dos dois lados para baixar o tensionamento. Ele reconhece que uma ruptura total da sigla com o governo não é vantajosa para nenhum lado — ainda mais a mais de um ano das eleições de 2026. Além disso, integrantes da sigla têm indicações em cargos federais e não estariam dispostos a abrir mão desses postos neste momento.

Caberia à executiva nacional do União Brasil rever a exigência de saída de Sabino. Uma vez que foi essa instância partidária que deliberou, de forma unânime, pelo desembarque do governo.

No último dia 18, a cúpula do partido decidiu que os filiados deveriam antecipar a saída da gestão federal, fixando esta sexta-feira como prazo final. Inicialmente, a decisão da federação entre União Brasil e PP era que todos os políticos "detentores de mandatos" deixassem a gestão federal até o dia 30 de setembro, sob risco de expulsão.

O ultimato do União foi dado após reportagem publicada pelo ICL (Instituto Conhecimento Liberta) e pelo UOL revelarem acusações feitas por um piloto de que o presidente do partido, Antonio Rueda, é dono de aviões operados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Rueda nega a acusação.

Um dia depois dessa decisão do partido, Sabino se reuniu com Lula e avisou que pediria demissão do cargo. Sabino vinha defendendo à cúpula do União Brasil que pudesse se licenciar da legenda para poder seguir à frente da pasta até o fim da COP30, que ocorre em novembro, em Belém.

Com domicílio eleitoral no estado, Sabino é uma das autoridades do governo petista mais atuantes na realização do megaevento e avalia que isso poderá ajudar a consolidar sua candidatura ao Senado, em 2026. Ele preside o diretório estadual da legenda.

A relação de Rueda com o governo federal já estava estremecida. O dirigente partidário reclamava a aliados pelo fato de nunca ter sido recebido pelo petista. A primeira reunião ocorreu em julho, um dia após o Congresso derrubar um decreto do governo com mudanças no IOF (Imposto sobre Circulação), e foi descrita por integrantes do União Brasil como "péssima".

De lá para cá, o presidente da República se queixou de declarações públicas do dirigente partidário com críticas ao governo federal. Rueda é presidente da federação com o PP e tem se posicionado na oposição à gestão petista e em apoio a uma candidatura da centro-direita em 2026. Em agosto, em reunião ministerial, o presidente cobrou fidelidade dos ministros do centrão e citou nominalmente Rueda, afirmando que não gostava dele e sabia que a recíproca era verdadeira.

Sabino é o único nome indicado pelo partido para integrar a Esplanada petista. Os ministros Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) são da cota de Alcolumbre e não deverão deixar os cargos.

Integrantes do primeiro escalão do Planalto avaliam que a aliança da gestão com o União Brasil se sustenta, há algum tempo, numa relação com o presidente do Senado, e não com a direção da sigla.

Além de Sabino, a federação entre União Brasil e PP tem outro indicado, ministro André Fufuca (Esportes). Para evitar deixar o comando da pasta na próxima terça (30), Fufuca, que é deputado federal licenciado, tenta costurar um acordo com a cúpula do PP para que possa permanecer no posto até o fim do ano. A ideia seria que ele se licenciasse da sigla neste período.

De acordo com políticos do PP, o presidente do partido, Ciro Nogueira (PI), não se opõe à ideia. Há uma avaliação, no entanto, que com a saída de Sabino a pressão aumente para que Fufuca também deixe a Esplanada.

Diante desse cenário, aliados do presidente apostam na tentativa de reacomodar os partidos da própria base aliada, inclusive do centrão, nesses espaços. Entre as legendas que podem ser contempladas estão PSD, PDT, PSB e até Republicanos.






















Auxiliares do presidente afirmam que, diferentemente do momento de montagem do governo, ainda na transição, quando a prioridade era garantir governabilidade, agora pesa também a construção de alianças regionais para 2026, buscando apoio à reeleição do petista.




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