A manhã desta quinta-feira (25) em Sobral, Ceará, foi marcada por um episódio de violência que chocou a comunidade escolar. A Escola Estadual Luis Felipe, situada no bairro Campo dos Velhos, foi alvo de um ataque a tiros que resultou na morte de dois adolescentes, de 16 e 17 anos, além de três feridos. O tiroteio aconteceu durante o intervalo, quando os alunos estavam reunidos no pátio. Segundo relatos, dois homens passaram em uma moto e dispararam contra os estudantes.

De acordo com informações da Santa Casa de Misericórdia de Sobral, três adolescentes baleados foram encaminhados ao hospital e seguem recebendo atendimento. A Polícia Militar afirma já ter identificado os autores do crime, que estaria ligado à disputa pelo tráfico de drogas nas proximidades da escola. A Secretaria de Segurança Pública confirmou a apreensão de droga, balança de precisão e embalagens com uma das vítimas.

O bairro Campo dos Velhos, palco do ataque, já havia registrado outros dois episódios violentos recentemente, ambos relacionados à guerra entre facções criminosas. Sobral figura entre as cidades mais violentas do Brasil, ostentando uma taxa de 59,9 homicídios por 100 mil habitantes — a 12ª maior do país, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

O governador Elmano de Freitas (PT) lamentou profundamente o ocorrido, classificando-o como “um fato intolerável e gravíssimo”. Ele reforçou o policiamento e determinou o envio da cúpula da SSP ao município para medidas urgentes. "Externo minha solidariedade aos familiares e amigos das vítimas desse ato tão cruel", afirmou o governador.

A Polícia Militar esclareceu que o ataque foi motivado por uma disputa territorial entre facções e não por extremismo, diferentemente de casos anteriores registrados em Suzano (2019) e em uma creche de Santa Catarina (2023). Em resposta ao episódio, a Secretaria Estadual de Educação do Ceará anunciou a suspensão das aulas na sexta-feira (26) e destacou o reforço constante das ações de segurança física e psicológica no ambiente escolar. "A comunidade escolar também contará com suporte dos profissionais de psicologia da coordenadoria regional no retorno às aulas, a partir de análise da escola."

O ministro da Educação, Camilo Santana, expressou seu pesar: "tristeza e indignação". Ele colocou equipes do Ministério à disposição do governador e do prefeito de Sobral, ressaltando o acompanhamento próximo do caso pelo Núcleo de Resposta e Reconstrução de Comunidades Escolares. "A hora é de unir forças e trabalharmos, juntos, para preservar a escola como espaço sagrado, lugar de paz e de acolhimento. Meus sentimentos e minha solidariedade às famílias das vítimas, estudantes, professores e toda a comunidade escolar", acrescentou.

O impacto da violência nas escolas

Telma Vinha, professora da Unicamp e coordenadora adjunta do Idea, explica que casos de violência extrema em escolas costumam ter motivações específicas, como ressentimento ou pensamentos extremistas — misoginia ou supremacia branca, por exemplo. “Ele planeja por algum tempo, e o ataque, quando acontece na escola, tem um sentido de mudar a visão que as pessoas têm sobre o agressor”, diz. No Brasil, a maioria desses ataques é praticada por estudantes ou ex-estudantes, o que diferencia o caso de Sobral dos demais.

A especialista reforça que a escola é um espaço de proteção e cuidado. "Quando isso ocorre nas escolas, há um sentimento de insegurança e ansiedade que gera nas crianças e famílias", explica. Por isso, a suspensão das aulas e o acolhimento dos professores são fundamentais. "Fazemos círculos de diálogo, há uma série de procedimentos, mas precisamos primeiro cuidar das pessoas que estão na escola", afirma Telma Vinha. Ela orienta que funcionários da escola não devem limpar o sangue de alunos: "São alunos deles, eles estão de luto". Só após o acolhimento inicial dos funcionários é que se organiza o suporte aos alunos.