Dois dias após a aprovação do pacote fiscal trilionário apresentado pelo presidente Donald Trump no Congresso dos Estados Unidos, Elon Musk defendeu publicamente a criação de um novo partido político. A proposta, segundo o bilionário, seria uma forma de frear medidas legislativas que, na sua avaliação, não representam a vontade popular.

“Uma forma de concretizar isso seria concentrar-se apenas em 2 ou 3 cadeiras no Senado e em 8 a 10 na Câmara dos Deputados”, escreveu Musk na rede social X. “Dadas as margens legislativas extremamente estreitas, isso seria suficiente para servir como voto decisivo em leis controversas, garantindo que elas atendam à verdadeira vontade do povo”, completou.

Antes da publicação, Musk promoveu uma enquete em seu perfil perguntando aos seguidores se apoiariam a criação de um novo partido. O resultado parcial indicava que mais de 60% votaram a favor.

A ideia de fundar o “Partido da América” surgiu como reação direta ao pacote fiscal de Trump, que foi votado e aprovado na última quinta-feira (3). O texto aprovado pelo Congresso prevê corte de impostos para empresas e famílias, redução de programas sociais, fim de incentivos a fontes de energia limpa e aumento de verbas para políticas de segurança e imigração. Segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO), a medida acrescentará US$ 3,3 trilhões à dívida pública americana até 2034. Atualmente, o déficit dos EUA está em US$ 36,2 trilhões.

Musk declarou que fará o possível para impedir a reeleição de parlamentares que apoiaram o pacote. “Eles não merecem continuar no Congresso”, afirmou. Ele também criticou a estrutura bipartidária que domina a política norte-americana, afirmando que o novo partido representaria uma alternativa ao atual modelo “democrata-republicano”.

A insatisfação de Musk marca uma guinada no relacionamento com o ex-presidente Trump. Em 2024, Musk foi um dos principais financiadores da campanha republicana e chegou a ocupar um cargo estratégico no governo, comandando o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Na função, foi responsável por cortes drásticos de gastos públicos e pelo encerramento de milhares de contratos e empregos. Deixou o cargo discretamente no fim de maio.

Apesar da saída, Trump elogiou o desempenho de Musk durante uma cerimônia no fim do mandato do bilionário à frente do DOGE. No entanto, poucos dias depois, a relação entre os dois se deteriorou. Durante uma reunião com o chanceler alemão Friedrich Merz, na Casa Branca, Trump expressou frustração com Musk, acusando-o de fazer críticas públicas ao projeto fiscal já sabendo de sua tramitação.

Musk, por sua vez, negou que tivesse conhecimento prévio da proposta. “Trump está sendo ingrato. Sem mim, ele teria perdido a eleição”, rebateu pelo X. A resposta gerou nova reação do ex-presidente, que publicou no Truth Social uma ameaça direta: “A maneira mais fácil de economizar bilhões e bilhões de dólares em nosso Orçamento é encerrar os subsídios e contratos governamentais de Elon Musk”.

O embate entre os dois magnatas da política e dos negócios promete movimentar o cenário eleitoral americano em 2025, quando haverá novas eleições para parte do Senado e toda a Câmara dos Representantes. Enquanto isso, Musk continua incentivando a criação de uma nova força política que rompa com o domínio das duas legendas tradicionais nos Estados Unidos.