Pós-graduação se consolida como diferencial no mercado de trabalho

O crescimento da parcela de brasileiros com ensino superior completo e a ampliação da oferta de cursos no país nos últimos anos têm provocado uma transformação no mercado de trabalho. A pós-graduação passou a ser vista como um diferencial relevante na busca por melhores salários e oportunidades.
Levantamento do economista Naercio Menezes Filho, do Insper, mostra que profissionais com pós-graduação têm rendimento médio de R$ 11.539 — quase o dobro do salário de quem concluiu apenas a graduação (R$ 6.160). Já aqueles com ensino médio ganham, em média, R$ 2.655.
A valorização da graduação continua, mas sua vantagem em relação ao ensino médio tem diminuído. Em 2001, o salário de um diplomado era 2,5 vezes maior que o de um profissional com ensino médio. Hoje, essa diferença caiu para 2,3 vezes. A explicação está no crescimento do número de brasileiros com diploma universitário: de 6% no início dos anos 2000 para 20% atualmente.
“O diferencial salarial do ensino superior começou a cair a partir do momento em que as matrículas nas universidades aumentaram. O que passou a crescer foi a importância da pós-graduação”, analisa Menezes Filho. Segundo ele, apenas 1% da população brasileira concluiu essa etapa.
Aprender ao longo da vida
Para o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), os ganhos de quem tem pós-graduação vão além do salário. Segundo ele, esses profissionais também têm mais chances de conseguir empregos formais e acesso a benefícios.
“Você não estuda para depois trabalhar, mas trabalha e estuda. A pós-graduação está no meio desse processo de conciliar trabalho e aprendizado contínuo”, afirma Neri, referindo-se ao conceito de lifelong learning, que prega a atualização constante ao longo da carreira.
Esse modelo já é incorporado por grandes empresas. Na Subsea 7, especializada em engenharia submarina para a indústria de energia, a pós-graduação é vista como diferencial em áreas como finanças, engenharia e cargos de gestão. A empresa financia até 50% do valor de cursos de pós, mestrado e doutorado para funcionários selecionados.
Na Nestlé, a capacitação também é incentivada. O programa Talent Hub permite que os colaboradores escolham cursos de curta ou longa duração, inclusive pós-graduações. “Formações assim demonstram compromisso com o desenvolvimento constante”, afirma Izabel Azevedo, diretora de Talento e Cultura da empresa.
Exigência do mercado
O aumento da complexidade dos cargos, impulsionado pela transformação digital, também ajuda a explicar a valorização da pós-graduação. “Não se trata da desvalorização da graduação, mas da elevação do nível de exigência diante da competitividade do mercado”, avalia Patricia Suzuki, diretora de RH do grupo Redarbor, dono da Catho.
Antonio Freitas, pró-reitor da FGV, observa que muitos dos estudantes de pós já ocupam bons cargos, mas buscam a especialização como forma de avançar na carreira. “A pós virou um diferencial significativo”, afirma.
Na consultoria Robert Half, a gerente Laís Vasconcelos reforça que a atualização constante, seja por meio de pós ou cursos livres, é cada vez mais valorizada nas seleções.
A demanda acompanha esse movimento. No Ibmec, a procura por pós-graduação presencial aumentou em 2024, com destaque para programas executivos voltados a gestores e MBAs em áreas como inteligência artificial, data science e big data. “O aluno quer uma capacitação técnica que não teve na graduação para conseguir promoções ou mudar de carreira”, afirma Paula Steban, diretora de ensino da instituição. Só os cursos ligados à tecnologia cresceram quase 60% no ano.
Relatos de quem vive a transformação
A valorização da especialização se reflete na trajetória de profissionais como Matheus Viug, 30 anos, historiador que concluiu o mestrado profissional em Ensino de História em 2024. Ele vê na pós um diferencial para conquistar espaço nas melhores instituições de ensino. “Postos de trabalho de elite exigem profissionais qualificados”, diz.
Bárbara Rodrigues, 49 anos, é dentista e servidora pública no Rioprevidência desde 2010. Ela concluiu uma pós em Recursos Humanos e está finalizando o mestrado. “Já tenho planos para o doutorado”, afirma. Segundo ela, doutores no órgão podem ter até 40% de aumento salarial.
Já a engenheira química Thaiane Nolasco, 35 anos, acredita que seu mestrado foi determinante para alcançar seu cargo atual. “O título foi um diferencial. Eu dominava técnicas que muitos concorrentes não conheciam”, diz. Para ela, a especialização abre portas para melhores salários e planos de carreira mais promissores.