Censo 2022: por que brasileiros estão deixando a Igreja Católica por templos evangélicos

Os dados do Censo 2022, divulgados pelo IBGE, confirmam uma mudança importante no cenário religioso brasileiro: o número de católicos caiu significativamente nos últimos 12 anos, enquanto os evangélicos atingiram sua maior participação histórica, representando 26,9% da população. Apesar de o catolicismo ainda ser a religião com mais adeptos no país, nunca foi tão pequena sua proporção em relação ao total de brasileiros.
Por trás desses números estão histórias como a da jovem Danielle Felipeto, de 21 anos. Filha de um ministro católico em Santa Catarina, ela decidiu, aos 19, deixar a igreja da família e conhecer uma nova experiência espiritual em uma congregação evangélica. Hoje, frequenta a Revival Church, em Itajaí, e compartilha nas redes sociais sua rotina de fé. Para ela, a mudança veio da busca por uma conexão mais intensa com Deus.
“Aprendi com meus pastores que é melhor procurar uma igreja mais próxima da Bíblia do que da sua casa. Eu precisava de algo mais vivo, mais direto”, conta. Segundo Danielle, os cultos católicos, por seguirem um roteiro fixo, não permitiam que o Espírito Santo agisse de forma espontânea, como ela passou a vivenciar na igreja evangélica.
A baiana Jaine Nery, de 28 anos, também fez essa transição. Criada como católica, ela se sentia distante e pouco envolvida nos ritos da igreja. A virada veio aos 21 anos, quando começou a frequentar um templo evangélico em Mutuípe (BA) e, depois, ingressou na Assembleia de Deus. Lá, diz ter encontrado participação ativa, acolhimento e transformação espiritual — junto com sua filha de três anos, que passou a participar dos grupos infantis.
“Na Igreja Católica, tudo parecia no automático. Já na evangélica, me senti parte de algo. Comecei a estudar a palavra de verdade”, relata.
Jaine também destaca como o crescimento das igrejas evangélicas tem se associado à presença na política local. Em sua cidade, um membro da igreja entrou para a política e ajudou a instituir o Dia do Evangélico, ampliando a visibilidade da fé na comunidade. Apesar disso, ela faz uma ressalva:
“A entrada na política precisa ser feita com responsabilidade. Se for por interesse próprio, vira bagunça.”
Já a esteticista Patrícia Lazzarini, de 55 anos, e sua filha Julia, de 29, optaram por uma vivência religiosa mais diversificada. Embora tenham sido criadas no catolicismo e cumprido seus ritos — batismo, primeira comunhão, crisma —, decidiram explorar outros caminhos espirituais. Patrícia se define como espiritualista, frequentando tanto igrejas evangélicas como centros espíritas, enquanto sua filha se encontrou na Igreja Batista da Lagoinha (IBL), conhecida por atrair muitos jovens e influenciadores.
“Vivemos tempos difíceis, e a fé é um refúgio. Acredito em Deus e procuro sempre aprender com diferentes formas de espiritualidade”, conclui Patrícia.
Essas histórias refletem uma tendência cada vez mais comum no Brasil: a busca por um relacionamento religioso mais direto, engajado e emocional — muitas vezes fora dos limites das tradições familiares ou culturais. A mudança de religião, para muitos, tem sido menos uma ruptura e mais uma descoberta de novas formas de se conectar com o sagrado.