Lula promove mudança no Turismo para se aproximar de Motta e melhorar relação com a Câmara
reprodução A troca no comando do Ministério do Turismo faz parte de uma estratégia do Palácio do Planalto para melhorar a relação com a Câmara dos Deputados e é vista como um gesto ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). Integrantes do governo Lula (PT) também avaliam a mudança como uma oportunidade de aproximar uma ala do União Brasil do petista, com foco nas eleições de 2026.
Em outubro, Motta foi procurado por integrantes do governo para integrar o processo de recomposição da base aliada no Congresso, após a Câmara impor derrota ao Executivo ao não apreciar uma medida provisória que aumentava impostos. Desde então, porém, aliados do presidente da Câmara reclamavam da falta de avanço nas negociações e diziam que Motta não tinha espaço no primeiro escalão, diferentemente do ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Pressão do União Brasil e saída de Celso Sabino
Aliados de Motta afirmam que ele vinha sendo cobrado por parlamentares do União Brasil para ajudar a emplacar um nome que representasse a bancada no lugar de Celso Sabino (União Brasil-PA). Sabino foi expulso do partido por ter permanecido no governo e tinha sua atuação criticada por deputados.
Na quarta-feira (17), Lula anunciou ao fim de uma reunião ministerial que Sabino deixaria o governo. Um dia antes, o presidente conversou por telefone com Motta e avisou sobre a troca. Segundo relatos, o presidente da Câmara cobrava celeridade para a oficialização da mudança, tema que foi tratado na ligação.
Novo nome e articulação política
Para o lugar de Sabino, deve ser nomeado Gustavo Feliciano, filho do deputado Damião Feliciano (União Brasil-PB) e aliado de Motta na Paraíba. Pessoas próximas ao futuro ministro afirmam que ele não pretende disputar cargos eletivos e pode permanecer no posto até o fim de 2026.
Interlocutores dizem que Motta se sente contemplado com a indicação e elogia a atuação de Gustavo no governo da Paraíba. Aliado do governador João Azevêdo, o presidente da Câmara espera contar com apoio dele e de Lula para eleger o pai, Nabor Wanderley (Republicanos-PB), ao Senado em 2026. Nesse contexto, aliados afirmam que é estratégico para Motta ter um nome de seu grupo à frente de um ministério com capilaridade para entregas políticas.
Há expectativa de que um encontro entre o futuro ministro e o presidente da República ocorra ainda nesta semana, com possibilidade de Motta acompanhar a reunião.
Negociações e encontro com União Brasil
O movimento ocorre em meio a críticas de governistas à condução de Motta na Câmara. Aliados de Lula e do parlamentar falam em desconfiança mútua, mas defendem aproximação para reduzir tensões. As conversas sobre a troca no ministério vinham ocorrendo desde o fim de outubro, antes da COP 30, e se intensificaram nos últimos dias.
A ministra Gleisi Hoffmann (SRI) se reuniu com o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, para obter aval à nomeação de Gustavo Feliciano. Motta participou do encontro, que contou ainda com o presidente do PT, Edinho Silva, e parlamentares do União, como o líder da sigla na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA).
Na pauta, estiveram temas como governabilidade, a votação do Orçamento de 2026 e a PEC da Segurança Pública. Integrantes do governo falam em entendimento que garante cerca de 25 votos da bancada do União (que tem 59 deputados), podendo chegar a até 30 votos, a depender das matérias. Avaliam ainda que, com o aval de Motta, o cenário tende a ser mais favorável ao Planalto.
Cenário para 2026 e ajustes no governo
A participação de Rueda no encontro não significa apoio a Lula — ele atua para construir uma candidatura de centro-direita para 2026. Ainda assim, aliados veem sinalização de espaço para aproximação. A chegada de um novo nome representando a bancada do União na Câmara é tratada como tentativa de recompor a relação após atritos recentes.
Segundo um auxiliar de Lula, a orientação será manter no governo apenas quem votará com o petista em 2026, incluindo ministros e cargos do segundo escalão. A SRI deve mapear esses postos e propor eventuais trocas. Governistas avaliam haver espaço para alianças regionais com alas do centrão, especialmente diante da irritação do grupo com a candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência.