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Estado de Goiás,24/10/2025

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    Reestruturação dos Correios deve incluir mudanças em plano de saúde e redução de agências

    Folha de S. Paulo
    Reestruturação dos Correios deve incluir mudanças em plano de saúde e redução de agências reprodução

    O plano de reestruturação dos Correios deve incluir mudanças no plano de saúde dos funcionários e a otimização das agências da estatal, além da criação de um fundo imobiliário para ampliar receitas da empresa.

    As medidas de ajuste são uma contrapartida essencial ao empréstimo de R$ 20 bilhões em negociação com Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e bancos privados, como revelou a Folha.

    O plano precisa garantir a viabilidade de pagamento das prestações, um dos elementos cruciais para embasar a decisão das instituições financeiras de conceder o financiamento. Outro fator relevante é a garantia do Tesouro Nacional, que honrará os valores em caso de inadimplência.

    A avaliação de técnicos envolvidos nas discussões é que, embora a crise dos Correios seja financeira, o desequilíbrio é estrutural e decorre de medidas de gestão, como aumentos sequenciais de custos, uso do caixa próprio para fazer investimentos e estratégia precária de negócios. O plano de reestruturação precisará convencer os bancos de que os problemas serão atacados.

    Um dos pontos dessa estratégia será a necessidade de retomar a liquidez do Postal Saúde, plano de saúde dos empregados dos Correios que conta com quase 203 mil beneficiários — 25% deles com 59 anos ou mais.

    Com restrições de caixa, a empresa reduziu os repasses à operadora, que também passou a enfrentar dificuldades. Segundo as demonstrações financeiras do segundo trimestre de 2025, o saldo de obrigações dos Correios com o Postal Saúde alcançou R$ 692,2 milhões, alta de 80% em relação ao passivo registrado um ano antes (R$ 385,2 milhões).

    A reestruturação deve prever um valor mínimo para recuperar a liquidez do plano e também propostas para reduzir a despesa no futuro, o que passa por uma mudança no modelo.

    Hoje, os Correios são o mantenedor do plano de saúde, sendo responsáveis por todos os riscos da operadora e por eventuais débitos que surjam — o que representa uma fonte potencial de custos crescentes, dado o perfil etário dos beneficiários. É diferente de ser um patrocinador, que faz contribuições ao plano, mas não arca com o risco da operação.

    Em 2022, sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), o Postal Saúde chegou a aprovar um estatuto que permitia a saída dos Correios da situação de mantenedor. Para tornar a transição viável, a empresa repassou R$ 221 milhões, em valores da época, para que o plano de saúde constituísse reserva para administrar o risco da operação.

    Em 2024, já na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), esse processo foi interrompido, e o dinheiro foi restituído ao caixa da estatal — o que, segundo a operadora, afetou significativamente seu patrimônio líquido.

    Segundo interlocutores, o novo modelo ainda não está definido, mas há algumas opções: credenciar uma operadora e oferecer patrocínio, ou pagar um auxílio-saúde mensal, deixando a cargo do empregado a decisão de como utilizar o recurso para fins de saúde.

    O segundo modelo seria mais econômico, mas também pode gerar mais resistências entre os funcionários da empresa. A decisão final será tomada a partir de conversas com sindicatos da categoria, Sest (Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais), ligada ao MGI (Ministério da Gestão e Inovação), e ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

    Em qualquer cenário, a obrigação de honrar o passivo já acumulado com o Postal Saúde permanecerá com os Correios.

    O secretário-geral da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos), Emerson Marinho, diz que a reformulação do plano de saúde preocupa. “É o nosso benefício mais valioso, que dá segurança aos nossos familiares”, afirma. Para ele, é preciso primeiro analisar os números do plano para detectar as razões do aumento dos custos.

    A empresa também vai reavaliar sua rede de agências. Hoje, os Correios têm cerca de 10 mil unidades de atendimento, das quais 7.000 são agências próprias ou franqueadas. Segundo relatório da administração de 2024, apenas 15% eram superavitárias, ou seja, geravam receitas maiores do que o custo para mantê-las.

    Diante da necessidade de cortar gastos, a empresa vai mapear possíveis sobreposições, ou seja, se há agências muito próximas uma da outra sem necessidade. A companhia também tenta reduzir gastos com aluguéis ou até liberar imóvel próprio para venda.

    Como mostrou a Folha, a Caixa planeja um fundo imobiliário com imóveis dos Correios para ajudar a estatal a alavancar novas receitas. A informação foi dada pelo presidente do banco, Carlos Vieira. “Eu capitalizo os Correios com essa medida, e esses imóveis passariam a um fundo”, disse.

    Segundo técnicos envolvidos na discussão do fundo, há duas possibilidades. Uma delas é repassar imóveis que hoje já estão ociosos. A venda do bem para os investidores do fundo gera receita imediata para os Correios, ajudando na recuperação do caixa, e os cotistas ficam com a rentabilidade futura da operação (obtida com aluguéis, por exemplo).

    Outra possibilidade é repassar também os imóveis em uso pelos Correios, que continuaria ocupando as instalações mediante o pagamento de aluguel (transação chamada de “leasing back”). Essa segunda opção gera receitas imediatas, mas cria também uma despesa administrativa hoje inexistente, o que requer um cálculo de custo-benefício.

    Por isso, ainda não se sabe se todos os imóveis da estatal serão incluídos no fundo. O estudo ainda deve levar alguns meses, e não há até agora estimativa preliminar do potencial de arrecadação.

    Além dessas medidas, o presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, anunciou em sua primeira entrevista coletiva o lançamento de um novo PDV (programa de demissão voluntária).

    A iniciativa, porém, não será igual ao que já foi feito neste ano e que teve adesão de 3.705 funcionários, com economia anual estimada em R$ 700 milhões. Segundo o presidente, o novo programa vai priorizar desligamentos em áreas onde já se detectou ociosidade. Se fosse uma política ampla e linear, o risco seria haver demissões em locais onde a empresa tem demanda por maior capacidade de operação.

    O executivo também citou uma possível revisão em custos com o Postalis, fundo de pensão dos funcionários da estatal, mas não citou detalhes. Desde o ano passado, o pagamento de parte do acordo feito para equacionar um rombo no Postalis contribuiu para desequilibrar o caixa da empresa.

    Marinho, da Fentect, diz que o empréstimo dos bancos será importante para “estancar a sangria” dos prejuízos da estatal, mas afirma que os funcionários têm ressalvas às demais contrapartidas, como o próprio PDV. A entidade cobra renovação dos quadros com a convocação de servidores no último concurso, realizado em 2024.

    O dirigente sindical afirma que os trabalhadores estão abertos à discussão, mas reivindica contrapartidas da cúpula da empresa, como cortes em gratificações e cargos usados para loteamento político. “Nós não vamos cortar na nossa carne para a ponta da pirâmide continuar se beneficiando”, diz.




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