Veja por que Bolsonaro se preocupa tanto com os ataques de Eduardo nas redes

Aliados que visitaram Jair Bolsonaro em sua prisão domiciliar em Brasília nas últimas semanas e ouviram dele pedidos para que convencessem o filho Eduardo (PL-SP) a reduzir a agressividade nas redes sociais relatam que a maior preocupação do ex-presidente não é o tarifaço, mas sim Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.
Às vésperas de começar a cumprir a pena de 27 anos e 3 meses pela trama golpista em regime fechado, Bolsonaro evita atritos com o aliado por receio de que disputas públicas atrapalhem tanto a articulação pela anistia bolsonarista no Congresso quanto a construção de uma chapa competitiva para 2026 com um integrante da família como candidato à Presidência ou à Vice.
Na última semana, Eduardo e Valdemar trocaram provocações pela imprensa após o dirigente afirmar à Folha de S. Paulo que, caso o deputado insistisse em disputar a Presidência em 2026 sem o aval do pai, iria “matar seu pai”. Eduardo respondeu chamando a fala de “canalhice” em conversa com a colunista Bela Megale, do GLOBO, e cobrou retratação. Valdemar, por sua vez, elevou ainda mais a tensão.
“Canalhice é xingar o próprio pai e pensar que tem votos. Os votos são do seu pai, não seus. Mas, se o seu pai te escolher, vai ter o apoio do partido. Diferente de você, respeito muito seu pai”, disse o presidente do PL, mencionando diálogos revelados pela Polícia Federal (PF) nos quais o 03 ofendia Jair Bolsonaro.
Nos bastidores, Valdemar afirma a aliados que o problema de Eduardo é dinheiro, apontando reclamações sobre desigualdade na divisão de verbas do PL entre ele e Michelle Bolsonaro.
“O que ele quer que a gente faça? Fique mandando dinheiro para ele lá nos Estados Unidos? Michelle é presidente do PL Mulher e o partido tem cotas para gastar com candidaturas femininas”, declarou um aliado próximo de Valdemar.
“O PL não tem atuação internacional. Não existe um PL Dallas ou um PL Houston [cidades do Texas, estado onde Eduardo vive no seu autoexílio nos EUA]. Além disso, a chance de mandar dinheiro público para ele é zero por conta do bloqueio nas contas determinado pelo STF”.
Do outro lado, aliados de Eduardo contestam essa versão. Lembram que ele foi nomeado secretário de Relações Institucionais e Internacionais no fim do ano passado, após a vitória de Donald Trump nos EUA, e sustentam que Valdemar havia prometido estrutura e novos projetos internacionais ao PL, o que nunca teria acontecido.
Impedido pelo ministro Alexandre de Moraes (STF) de falar com Eduardo desde julho, Bolsonaro teria pedido a interlocutores que repassassem ao deputado seus apelos por uma trégua com Valdemar.
As rusgas não são recentes. Como publicado em agosto, Eduardo já se queixava de falta de apoio do PL durante sua campanha por sanções contra autoridades brasileiras no autoexílio nos EUA, que já dura seis meses e resultou em denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por coação à Justiça.
Interlocutores próximos a Valdemar admitem incômodo com os ataques de Eduardo, mas afirmam que isso não abala a relação entre o dirigente e Bolsonaro.
Apesar disso, Eduardo tem se mostrado resistente ao pedido do pai. Após Valdemar declarar que ele não teria votos, voltou a criticar nas redes sociais:
“Não abdiquei de tudo para trocar afagos mentirosos com víboras. Não lutei contra tiranos insanos para me sujeitar aos esquemas espúrios dos batedores de carteira da ocasião. Esse é o momento para resgatarmos a direita, não para a enfiarmos nas mãos sujas do aproveitador de ocasião”.
Antes das medidas cautelares do STF, Bolsonaro já havia atuado para conter disputas entre Eduardo e outro aliado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). De olho em 2026, Eduardo tem tratado Tarcísio como rival da família e criticado articulações do Centrão para lançá-lo à Presidência.
Conversas de WhatsApp reveladas pela PF também evidenciam divisões internas no clã Bolsonaro sobre o papel de Tarcísio nas eleições do próximo ano.
“Só para te deixar ciente: Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo vc se fuder e se aquecendo para 2026”, escreveu Eduardo ao pai, refletindo incômodo antigo da base bolsonarista com o governador paulista.
"A narrativa de Tarcísio te sucedendo, que já há acordo para isto, está muito forte. Precisamos segurar isso para nos mantermos vivos aqui".
Como Eduardo já ignorou advertências anteriores, dificilmente aceitará o pedido de Bolsonaro para aliviar o clima na direita.