Zelensky diz que Lula prometeu fazer ‘tudo o que estiver ao seu alcance’ para paz na Ucrânia

O líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta quarta-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu a “fazer tudo o que estiver ao seu alcance” para aproximar a Ucrânia da paz. A declaração foi feita pouco após o encontro bilateral entre os líderes, realizado na semana da Assembleia Geral da ONU, em Nova York — a primeira reunião formal entre os dois desde 2022, quando se encontraram também na sede das Nações Unidas.
— Tivemos boas conversas com o presidente Lula. Na última vez, tivemos uma conversa ampla aqui em Nova York, e isso foi há dois anos. É bom que haja sinais do Brasil, do presidente do Brasil e de sua equipe, de que eles apoiam, antes de tudo, o cessar-fogo e a paz para o povo ucraniano — disse Zelensky, agradecendo pela “posição clara” do líder brasileiro no encontro, que durou cerca de uma hora e também abordou temas como comércio e economia. — Acho que continuaremos da próxima vez, talvez em um futuro próximo.
A declaração de Zelensky veio um dia depois de Lula voltar a defender, em seu discurso na ONU, a via diplomática como única saída viável para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia. O presidente citou como exemplo o recente encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, realizado no Alasca no mês passado, e reiterou o compromisso do chamado “Grupo de Amigos da Paz” — iniciativa liderada por Brasil e China — com a mediação do conflito.
— No conflito na Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar. O recente encontro no Alasca despertou a esperança de uma saída negociada. É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista. Isso implica levar em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as partes. A Iniciativa Africana e o Grupo de Amigos da Paz, criado por China e Brasil, podem contribuir para promover o diálogo — disse.
Apesar das expectativas, Lula e Zelensky não se reuniram durante a cúpula do G7 realizada no Canadá em junho deste ano. Ambos participaram do encontro, mas não houve conversas bilaterais. Meses antes, o presidente ucraniano havia criticado publicamente a decisão do brasileiro de viajar a Moscou para participar da celebração dos 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista, e chegou a recusar uma ligação de Lula.
Zelensky também já havia minimizado o papel do petista na mediação do conflito com a Rússia, dizendo que ele “não era um ator relevante” e acusando-o de enxergar as relações com Moscou como se ainda estivesse em vigor a lógica da antiga União Soviética. Em 2023, Lula irritou Kiev ao afirmar que Ucrânia e Rússia dividiam a responsabilidade pelo início da guerra — declaração considerada inaceitável pelo governo ucraniano, que foi alvo de uma invasão unilateral.
Diante desse histórico, a recepção mais amistosa de Zelensky nesta nova rodada de conversas surpreendeu interlocutores do governo brasileiro, conforme publicado pelo GLOBO na terça-feira. A avaliação é a de que o ucraniano tenta diversificar alianças e atrair apoios fora do eixo EUA-Otan, especialmente após a cúpula promovida por Trump no Alasca não ter apresentado avanços nas negociações.