Cooperativas precisam ‘injetar inovação’ e de gestão mais profissional

GLOBO RURAL
Cooperativas precisam ‘injetar inovação’ e de gestão mais profissional Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB — Foto: OCB/Divulgação

Com mais de 4.700 cooperativas em operação e 24 milhões de associados, o cooperativismo se consolidou como um dos pilares da economia brasileira. Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o setor movimenta cerca de R$ 700 bilhões por ano — o equivalente a quase 10% do PIB nacional — e vem expandindo sua presença especialmente no agronegócio, onde é responsável por mais da metade da originação de grãos e fibras, além de ter participação expressiva na produção de carnes, como suínos e frangos.

O reconhecimento internacional desse modelo econômico solidário e eficiente ganhou força com a decisão da ONU de declarar 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. A medida simboliza o papel fundamental das cooperativas na promoção de resiliência econômica e inclusão social — especialmente em tempos de crise.

Um modelo que resiste às crises

Em entrevista à Globo Rural, o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, destacou que o cooperativismo tem sido um porto seguro em momentos de instabilidade econômica. “Na crise global de 2008, países com forte presença cooperativa, como Alemanha e Estados Unidos, demonstraram mais resiliência. E isso se repetiu na pandemia, quando o sistema financeiro recuou e as cooperativas de crédito cresceram 24% ao ano — quase três vezes mais que os bancos tradicionais”, explica Freitas.

Segundo ele, esse desempenho é resultado do compromisso das cooperativas com seus associados e com as comunidades locais. “Não se trata de amadorismo. É um modelo profissional, mas que prioriza o vínculo com o cooperado e a sociedade”, afirma.

Na rota da COP30

Com a realização da COP30 prevista para novembro de 2025, em Belém (PA), o setor cooperativista pretende aproveitar os holofotes para se posicionar como agente relevante no debate sobre sustentabilidade. A OCB já apresentou um manifesto com cinco compromissos prioritários: segurança alimentar, tecnologia e agricultura de baixo carbono, valorização das comunidades e financiamentos climáticos, transição energética e bioeconomia.

“O cooperativismo é um modelo de negócios baseado em pessoas. Se uma cooperativa não cuida da sua gente, ela desaparece. Queremos mostrar que é possível gerar desenvolvimento econômico com responsabilidade social e ambiental”, afirma Freitas.

Papel no campo e nas cidades

O impacto do cooperativismo é especialmente visível no campo. No agronegócio, 1.200 cooperativas agrícolas atendem cerca de um milhão de produtores — um quinto dos agricultores do país — e são responsáveis por 53% da produção nacional de grãos e fibras. No setor de carnes, cooperativas respondem por 80% da produção de carne suína.

O modelo também promove o desenvolvimento regional. Estudo realizado pela OCB em parceria com a Fipe e a FEARP-USP demonstrou que municípios com presença de cooperativas apresentam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 10% superior a cidades semelhantes sem cooperativas. “O resultado da cooperativa não vai para a Faria Lima, ele permanece no município, ativa a economia local e fortalece o capital social”, destaca o presidente da OCB.

Informação, crédito e mercado para o produtor

Para o produtor rural, a cooperativa oferece vantagens estratégicas: acesso à informação de qualidade, crédito facilitado, assistência técnica e canais de comercialização. “As cooperativas permitem que o agricultor tome decisões melhores, tenha apoio técnico qualificado — como acontece no Rio Grande do Sul, onde há mais de 8 mil extensionistas — e consiga vender sua produção com mais segurança, por meio de contratos com tradings e compradores regulares”, explica Freitas.

Desafios: gestão, inovação e representação

Apesar dos avanços, o setor cooperativista ainda enfrenta desafios significativos. O primeiro deles é a profissionalização da gestão e o fortalecimento da governança. “Temos cooperativas que movimentam R$ 5 bilhões por ano. Isso exige líderes preparados, com visão estratégica e conexão com o mercado. Gestão é o dia a dia. Governança é garantir que a cooperativa esteja alinhada com os objetivos de seus donos, os cooperados”, define Freitas.

Outro desafio é a inovação. O setor precisa avançar na digitalização, adoção de inteligência artificial e presença nas redes sociais. “Precisamos romper barreiras e entrar de vez na era digital.”

Além disso, Freitas defende o fortalecimento da representação institucional e política do setor. “O cooperativismo representa 24 milhões de brasileiros. Com suas famílias, isso chega a quase 100 milhões de pessoas. É preciso ter voz nas esferas de poder, com representantes que compreendam e defendam esse modelo, sem partidarismo ou ideologia”, afirma.


















Para Freitas, a missão do cooperativismo vai além da economia: “Queremos ser guardiões da sustentabilidade, da qualidade de vida e do futuro. Cooperativa que não gera prosperidade para sua comunidade não cumpre seu papel.”




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