Etanol ganha força no agro e fabricantes ampliam testes com máquinas sustentáveis

A corrida pela descarbonização no agronegócio brasileiro tem ganhado ritmo acelerado com o avanço de tecnologias limpas voltadas à redução de combustíveis fósseis. A transição energética, antes restrita a conceitos e protótipos, agora começa a ganhar espaço nos campos do país, com destaque para o uso do etanol como alternativa sustentável ao diesel.
Fabricantes de máquinas agrícolas têm apresentado soluções cada vez mais focadas em biocombustíveis como etanol, biodiesel, biometano, gás natural e eletricidade. Esses modelos, além de mais eficientes no consumo, poluem menos e atendem a uma demanda crescente de grandes propriedades e mercados internacionais por sustentabilidade.
“Redução de custo e pegada de sustentabilidade”
Um dos destaques recentes é o trator 8R da John Deere, agora em fase de testes de campo no Brasil com motor movido a etanol. Exibido como conceito em 2023, o modelo evoluiu e passou a ser testado, especialmente nos segmentos de cana-de-açúcar e grãos. “A maior e melhor novidade é o trator com motor a etanol, protótipo, ainda fazendo vários testes para assegurar que quando venha a produção esteja 100%”, afirmou Cristiano Correia, vice-presidente da John Deere para a América Latina, durante a Agrishow.
O motor a etanol foi calibrado por meio de ajustes de software, apresentando desempenho similar ao dos movidos a diesel, mas com redução significativa nas emissões.
A fabricante nacional Grunner também aposta no etanol e apresentou em abril um protótipo funcional de motor movido ao combustível derivado da cana. A expectativa é que o modelo entre em operação no segundo semestre. A vantagem, além da redução de poluentes, é a dispensa do uso de arla — solução utilizada em veículos a diesel para controlar emissões de óxidos de nitrogênio.
Já a Cummins apresentou o conceito do motor B6.7, desenvolvido para funcionar com 100% de etanol hidratado. Segundo a empresa, o modelo deverá manter o mesmo desempenho de um motor a diesel.
Case IH testa colhedora movida a etanol
Outro avanço importante vem da parceria entre a Case IH e a Usina São Martinho, em Pradópolis (SP), com o desenvolvimento da primeira colhedora de cana movida a etanol. O projeto, iniciado há mais de uma década, chegou ao campo nesta safra com a Austoft 9000 equipada com motor de Ciclo Otto, o mesmo dos carros flex.
“É uma máquina que começou a trabalhar na safra passada. E os resultados já foram muito promissores. A busca do Santo Graal do etanol não é nova. Nós mesmos já fizemos testes com motor diesel convertido e com tratores híbridos”, afirmou Christian Gonzalez, vice-presidente da Case IH para América Latina.
Avanços e pioneirismo brasileiro
Para João Marchesan, presidente da Agrishow, o protagonismo do Brasil na produção e uso de etanol impulsiona o setor de máquinas agrícolas a apostar em tecnologias renováveis. A New Holland, por exemplo, lançou um trator elétrico com recursos autônomos e possui modelos movidos a biometano, com combustível gerado a partir de dejetos de suínos.
O etanol no campo, porém, não é novidade. A Embraer lançou em 2004 o Ipanema, primeiro avião agrícola movido a etanol, que hoje representa cerca de 60% do mercado. Nos últimos três anos, mais de 180 unidades foram comercializadas.
Até mesmo fabricantes focadas em diesel têm buscado otimizar o consumo, desenvolvendo motores mais eficientes, com redução de até 10% no uso de combustível fóssil, segundo dados do setor.
O agronegócio responde hoje por 29% da oferta de energia do país, e chega a 60% quando consideradas apenas fontes renováveis, conforme estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). A biomassa da cana-de-açúcar representa 16,87% dessa matriz, tornando o etanol peça-chave para uma agricultura mais limpa.
Projeções indicam que, até 2040, a produtividade das lavouras poderá dobrar, impulsionada por avanços em seleção genômica, IA, combate a pragas e novos sistemas de plantio com sementes sintéticas. Nesse cenário, o uso de combustíveis limpos se consolida como uma das principais apostas para um agro mais sustentável.