"Prisão dos jacarés": Trump inaugura prisão no meio do pântano para imigrantes

O primeiro grupo de imigrantes foi transferido para a recém-inaugurada prisão no meio dos pântanos da Flórida, apelidada de “Alcatraz dos Jacarés”, confirmou nesta quinta-feira (3) o porta-voz do procurador-geral do estado, Jae Williams, à agência Associated Press (AP). “Já há pessoas lá”, afirmou Williams, sem revelar o número de detidos ou a data exata da chegada.
O complexo de segurança máxima, oficialmente batizado como Centro de Detenção dos Everglades, foi inaugurado na última terça-feira (1º) pelo presidente Donald Trump. Segundo o procurador-geral da Flórida, James Uthmeier, a unidade começou a funcionar com a recepção de “centenas de imigrantes ilegais com antecedentes criminais”. “Próxima parada: de volta para onde vieram”, escreveu ele nas redes sociais.
Apesar de o governo federal ainda não ter confirmado oficialmente o início das operações da prisão, autoridades estaduais já haviam indicado que os primeiros detentos chegariam ainda nesta semana.
Prisão cercada por pântano e jacarés
A instalação foi construída a partir de uma antiga pista de pouso usada em treinamentos militares e está localizada dentro do Parque Nacional dos Everglades, uma área protegida de 600 mil hectares a cerca de 80 quilômetros de Miami. Seu apelido faz alusão à prisão de Alcatraz, famosa pelo isolamento geográfico na Baía de São Francisco e desativada em 1963.
De acordo com a Casa Branca, a nova unidade poderá abrigar até 5 mil detentos e foi projetada com o objetivo de enviar uma mensagem dura contra a imigração ilegal. O isolamento extremo e a presença de jacarés, cobras píton e mosquitos são vistos como mecanismos “naturais” de segurança.
“Vamos ensinar eles [os presos] a fugir de um jacaré”, disse Trump, ao participar da inauguração. Em tom de deboche, acrescentou: “Não corra em linha reta. Corra assim” — e fez um gesto em zigue-zague com as mãos. “Suas chances aumentam em cerca de 1%. Tá? Não são boas”, ironizou o presidente antes de embarcar no Air Force One.
Trump também afirmou que o governador da Flórida, Ron DeSantis, estaria construindo uma segunda prisão com o mesmo modelo, sem fornecer mais detalhes. “Vamos transformá-las em centros permanentes, que até podem servir para o sistema prisional regular”, declarou.
Reações e críticas
A construção da prisão provocou forte reação de ambientalistas, defensores de direitos humanos e lideranças indígenas. O projeto é acusado de gerar impacto ambiental grave sobre o ecossistema do pântano e de profanar terras consideradas sagradas por comunidades nativas da região.
O ex-deputado federal David Jolly, da Flórida, que hoje concorre ao governo estadual como democrata, criticou duramente a iniciativa, classificando o centro como “uma encenação política insensível”.
Durante seu primeiro mandato, em 2019, Trump já havia causado polêmica ao negar publicamente que teria sugerido a construção de um fosso com jacarés na fronteira com o México. “Posso ser duro na segurança de fronteira, mas nem tanto”, disse na época. Agora, em sua nova gestão, o presidente voltou a mencionar a possibilidade de reabrir Alcatraz, como símbolo de rigidez penal.
A Casa Branca também estuda o impacto político de transferir imigrantes para instalações mais remotas, como Guantánamo, em Cuba, ou uma megaprisão em El Salvador. A medida é avaliada como forma de endurecer a política migratória e reduzir a entrada irregular no país.
Os detentos encaminhados à “Alcatraz dos Jacarés” estão sob custódia do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE). A maioria responde por entrada ilegal ou permanência irregular no país e aguarda o processo de deportação ou julgamento em tribunais de imigração.