Um idoso é morto a cada 8 dias no Japão por cuidadores

O Globo
Um idoso é morto a cada 8 dias no Japão por cuidadores Reprodução

Uma pesquisa conduzida pela professora Etsuko Yuhara, especialista em bem-estar social da Universidade Nihon Fukushi, revelou um dado alarmante: no Japão, uma pessoa com 60 anos ou mais é morta a cada 8 dias por um parente cuidador em estado de exaustão física e emocional. O fenômeno tem nome: "care killing" – assassinatos cometidos por cuidadores familiares sob extrema pressão.

O estudo identificou 443 mortes em 437 casos ocorridos ao longo de dez anos, com base em reportagens de 38 jornais japoneses desde 1996. Esses episódios envolveram pessoas com mais de 60 anos, dependentes de cuidados domiciliares, e incluíram tanto assassinatos isolados quanto seguidos de suicídio.

Relações familiares nos casos

Do total de casos, os cônjuges foram responsáveis por 214 assassinatos, enquanto pais, filhos e parentes por afinidade somaram 206. Também foram identificadas ocorrências envolvendo irmãos (13 casos), avós e netos (7), além de outros vínculos familiares.

Envelhecimento e abandono

O cenário é agravado pela crise demográfica enfrentada pelo Japão. De acordo com o Ministério de Assuntos Internos e Comunicações, o país perdeu 900 mil habitantes em 2023, maior queda populacional em 74 anos. Ao mesmo tempo, a população com 65 anos ou mais já representa 29,3% do total – cerca de 36,24 milhões de pessoas.

Segundo Yuhara, mais de 5,5 milhões de idosos precisam de assistência diária e quase 30% dos cuidadores têm mais de 70 anos. Muitos enfrentam dificuldades econômicas, físicas e emocionais, sentem-se isolados e desesperançosos, o que acaba levando, em casos extremos, ao assassinato da pessoa cuidada e ao suicídio.

Casos recentes e angustiantes

Em junho de 2024, um homem de 77 anos foi preso em Tóquio após matar a irmã de 81, diagnosticada com esquizofrenia há três décadas. Ele cuidava dela sozinho e apresentava sinais de depressão e demência.

Outro caso citado é o de Hiroshi Fujiwara, de 81 anos, condenado por matar a esposa cadeirante, após cuidar dela por 40 anos.

Violência doméstica e abuso

Desde que entrou em vigor a lei de prevenção ao abuso de idosos, em 2006, o Ministério da Saúde japonês vem monitorando esses casos. Até 2021, foram 242 incidentes fatais envolvendo idosos atendidos em casa.

No último relatório:

57,6% dos casos envolveram abuso físico

33% registraram abuso psicológico

23,2% foram de negligência ou abandono

A pesquisa indica que quanto mais dependente o idoso, mais severo tende a ser o abuso. Estima-se que 1 em cada 15 idosos japoneses já sofreu algum tipo de violência.

Isolamento urbano

O isolamento é outra realidade brutal. Só em Tóquio, mais de 1 milhão de idosos vivem sozinhos, e muitos têm pouco ou nenhum contato diário. Apenas 50% dos homens e 60% das mulheres com mais de 65 anos conversam com alguém todos os dias.

Sobre o esgotamento dos cuidadores

Yuhara destaca a importância de identificar sinais de fadiga no cuidador:

Sensação constante de exaustão ou preocupação

Alterações drásticas no humor ou no sono

Aumento no consumo de álcool ou medicamentos

Problemas físicos frequentes, como dores de cabeça ou no estômago

Abandono do autocuidado

Ela recomenda buscar apoio externo, como serviços de entrega de alimentos, fornecimento de equipamentos de enfermagem, casas de repouso ou profissionais de saúde.

 “Cuidar não pode ser uma responsabilidade solitária”

“Em muitos casos o cuidador fica sobrecarregado e não possui habilidades necessárias para superar as diversas dificuldades, resultando em fadiga do cuidador. Em uma situação em que as pessoas normalmente não gostariam de abusar de outras, elas se tornam agressoras por se sentirem presas. Hoje em dia, é fisicamente impossível confiar a responsabilidade de cuidar exclusivamente a familiares”, alertou Yuhara em entrevista à imprensa japonesa.

Ela finaliza com um apelo direto às autoridades: “Os incidentes não vão diminuir se não houver apoio suficiente aos cuidadores. Os governos locais precisam entender o contexto desses crimes e agir para preveni-los com urgência”.




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