É amizade ou é romance? Quando a dúvida vira uma companhia constante

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É amizade ou é romance? Quando a dúvida vira uma companhia constante Reprodução

Eles se veem todos os dias. Todo santo dia. Depois do trabalho, ele passa no apartamento dela. Sem convite, sem cerimônia. Já virou rotina. Sentam-se no sofá, dividem o controle remoto, comentam os episódios da série, pedem comida, lavam a louça juntos, dão risada. Às vezes, ele dorme por lá — quando está tarde demais ou quando a presença dele parece mais natural do que a ausência.

Eles se falam o tempo todo por mensagem. Compartilham os memes do dia, avisam quando chegam em casa, contam os perrengues do trabalho. Ele pergunta se ela almoçou, ela manda um emoji com olhinhos brilhando quando ele diz algo gentil. Saem juntos nos finais de semana, vão ao bar com os amigos, pegam a mesma carona, chegam juntos, voltam juntos. São cúmplices — e isso acontece há pelo menos 6 meses.

"Mas nunca se beijaram. Nunca um toque que denunciasse desejo. Nunca um olhar demorado que autorizasse o próximo passo. Mas ela sente atração sexual - o deseja, fantasia com esse momento, mas não dá sequer um sinal."

Quando pergunto por que, ela suspira e confessa:

— Tenho medo de estragar tudo. Se ele não quiser, perco o que já tenho. E, se quiser, talvez eu perca também. Porque aí muda tudo.

O medo não é do beijo em si, mas do que ele pode desencadear. Porque o beijo convida à clareza, e ela está presa no conforto ambíguo da dúvida.

Essa não é a primeira vez. Outras vezes Regina também viveu relações assim, meio amor, meio amizade, meio zona neutra. Chamava de "meus brothers". Ela sente, não age, observa e não se arrisca.

Tem dificuldade em se mostrar interessada e fica envergonhada diante do desejo. Tem medo de parecer carente, vulgar, inadequada. Então sufoca a sedução, e vive num eterno talvez.
Na cabeça dela, fervem perguntas que não são feitas: Será que ele sente o mesmo? Será que ele é gay? Será que é tímido? Assexual? Será que ele tem algum trauma? Alguma insegurança? Pinto pequeno? Será que ele sente atração por mim? Será que…?

"Esse tipo de relação não é raro. Muita gente vive em vínculos com aparência de intimidade amorosa, mas com os limites do romance jamais atravessados. Chamam de amizade. Mas, no fundo, ficam à espera de um sinal — que talvez nunca venha."

Por trás dessa espera, mora um exército de inseguranças silenciosas. Não ser atraente o suficiente para despertar desejo e excitação; não performar o suficiente, não ser sedutor o suficiente. É o medo de gozar rápido demais, de não gozar, de não ter uma ereção ou perdê-la, de ter um genital estranho, torto, diferente ou que cheira mal. Piora tudo quando alguém já fora recusado antes. Eu sei, difícil quem nunca passou por isso, mas há quem tenha mais dificuldade de perceber que não é uma unanimidade.

A psicanálise já falava do quanto o desejo é atravessado por inibições inconscientes. A psicologia das personalidades inseguras aponta o quanto o medo do abandono e da rejeição molda estratégias de evitação, mesmo nas relações mais promissoras. E aí, a pessoa passa a desejar o que não vive, e a se angustiar com o que não nomeia.

Claro, uma dose de insegurança é humana, legítima. Mas escolher viver nela — fazer dela morada — pode ser um caminho perigoso. A dúvida, quando ocupa espaço demais, começa a nos impedir de viver o que poderia ser prazer, alegria, encontro.

"Há relações que não se realizam por falta de sentimento. Mas há outras — e são muitas — que não se realizam por falta de coragem."




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