Inflação desacelera, mas pressão em serviços persiste

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do Brasil, apresentou uma desaceleração em abril, registrando alta de 0,43%, após uma variação de 0,56% no mês anterior, conforme dados do IBGE. Contudo, economistas alertam para sinais de pressão que dificultam uma política monetária mais flexível, especialmente com os aumentos nos preços dos serviços e a disseminação dos reajustes para outros setores.
A inflação acumulada em 12 meses atingiu 5,53%, acima da meta estipulada pelo Banco Central, que é de 3%, e do teto de 4,5%. O IPCA tem ultrapassado o teto da meta desde outubro do ano passado, refletindo um cenário inflacionário desafiador.
Dos nove grupos de produtos e serviços analisados, oito registraram alta em abril. A principal contribuição para o índice foi o aumento no grupo de Alimentos e Bebidas, que subiu 0,82%, embora tenha desacelerado em relação a março (1,17%). A maior queda dentro deste grupo foi registrada nos preços de itens como arroz (-4,19%) e ovo (-1,29%), com destaque para a cenoura, que sofreu uma deflação de 10,4% (36,9% em 12 meses).
Além disso, o grupo de Saúde e Cuidados Pessoais teve alta de 1,18%, impulsionada pelo aumento de 2,32% nos produtos farmacêuticos, após o governo federal autorizar reajustes de até 5,09% nos medicamentos.
No setor de Transportes, houve uma queda de 0,38%, com combustíveis e passagens aéreas mais baratos. A expectativa é de que, com a possível redução no preço do petróleo devido a tensões comerciais, os combustíveis sigam em uma trajetória mais moderada.
Apesar de uma desaceleração no aumento dos alimentos, economistas destacam que o cenário continua preocupante devido à disseminação da inflação para outros setores. A inflação de serviços subiu 0,2% em abril, com um acumulado de 6,03% em 12 meses, bem acima do teto da meta. Esse aumento é uma preocupação, pois a inflação de serviços está mais vinculada à dinâmica da demanda, que reage diretamente às políticas de juros e ao cenário econômico.
A pressão nos preços de serviços, somada à maior disseminação da inflação, foi ressaltada por analistas, como Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, que considerou a desaceleração de abril "amarga". A disseminação da inflação, medida pelo índice de difusão, subiu para 67% em abril, o maior nível desde dezembro.
Economistas apontam que, embora o ciclo de aumento da taxa Selic esteja próximo de um fim, a inflação de serviços ainda não apresenta sinais claros de desaceleração. Isso dificulta a expectativa de uma redução nos juros pelo Banco Central, já que os preços de serviços são mais sensíveis a mudanças nas condições de consumo e no mercado de trabalho, que tem mostrado sinais de melhora, com queda na taxa de desemprego e aumento da massa salarial.
O governo, por sua vez, segue otimista. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou estar confiante de que o Brasil terminará o ano com um desempenho econômico melhor do que o projetado, e que, em 2024, a situação será mais confortável. Contudo, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, alerta que, sem avanços nas contas públicas, a inflação pode continuar pressionada, mantendo-se próxima ao teto da meta.
Apesar das dificuldades, a expectativa de estabilidade nos preços dos combustíveis e o controle dos aumentos em alimentos como arroz e carne oferecem uma leve perspectiva de alívio no cenário inflacionário para os próximos meses.