Angelo Cavalcante
Mais que crise política: um Congresso que mina o Executivo e transformou política em balcão de negócios

Este é um Congresso Nacional integralmente conflagrado; seu interior, reparem bem, está tomado e emparedado por bancadas de direita/extrema direita e dispostas, de fato, a estabelecer o caos no país e; externamente, a "Casa do Povo", está submetida a pressões duras e ininterruptas de segmentos ou corporações das mais diversas.
São pastores vendilhões com seus vastos rebanhos de parvos, lunáticos e mal-intencionados; é o "frentão do agro" e que, nesse momento, segue ressentido e magoado pelo fracasso da intentona do "08 de janeiro"; aliás, evento financiado, sobretudo, pelos donatários brasileiros.
Existem as corporações empresariais e industriais brasileiras e que exigem isenções, financiamentos, refinanciamentos e quem sabe, anistia fiscal e tributária.
São ainda, milhões de funcionários públicos e que, por direito, exigem reposição e atualização em seus soldos. Nas áreas rurais, pequenos produtores também querem seu "quinhão" e berram por linhas de créditos e acesso a bens e serviços sem os quais, "não há como produzir".
No estirão da Faria Lima, no miolo da capital paulistana, um consórcio da fina flor do capitalismo brasileiro, opera por abocanhar mais e mais recursos públicos; não vêem, não enxergam sentido na ampliação de investimentos sociais e, de outro modo, tais inversões comprometem suas taxas médias de lucros.
Este, de longe, é o pior dentre os piores para o Brasil. São gestores e acionistas de bancos, financeiras, grandes fundos e corporações operantes aqui e no além-mar.
Estão absolutamente dispostos a explodir o país caso suas demandas não sejam rigorosamente atendidas e, como se bem sabe, fazem o que estão a ameaçar.
Por pura lembrança, o impeachment da Presidente Dilma, apetecido em 2016, aliás, processo evidentemente político, sem base jurídica, vazio de qualquer substância comprobatória e carente de todo e qualquer real sentido de justiça só foi, de fato, possível pela ação decidida e militante dessa minúscula, porém, poderosa parcela de agentes do capitalismo dependente do Brasil.
Eles fazem porque já fizeram!
Nessa intempérie, nesse maremoto político, se mantêm, ainda se mantêm, firme o Presidente Lula e que agora, tem que reacomodar forças e interesses desse e que já é o pior Congresso Nacional da história brasileira.
É desafio imenso, considerando, sobretudo, que, não Lula, mas o instituto da Presidência da República está sendo corroído, carcomido desde o seu interior.
É o objetivo resultado das imensas liberações das ditas emendas parlamentares, as tais das emendas impositivas e que, em primeiro, "mata a política", a capacidade ou possibilidade de construir e fazer acordos possíveis.
Sim... Ninguém conversa mais no Congresso Nacional porque imensas quantidades de dinheiro são liberadas em bicas e cachoeiras para todos os parlamentares.
Nessa onda, os parlamentares destinam tais recursos, é óbvio, para suas bases, seus esquemas e ardis.
Não pedem, não negociam, não articulam, não constroem saídas supra-partidárias... A grana chega no automático e... Pronto!
Fazer política, para quê?
Sem percebermos, sem plebiscito ou consulta pública, o presidencialismo acabou no Brasil. Nem reparamos mas nos convertemos em regime parlamentarista de arremedo europeu.
Essa crise e que Lula enfrenta; ora, isso é expressão objetiva dessa transição para um tipo próprio e abestalhado de parlamentarismo onde a direita faz das suas para o aprofundamento e a consolidação de um tipo de poder degradado, elitista, eivado de hierarquia e que submete populações inteiras aos mandos e caprichos de políticos cafajestes.
É essa a crise que o Lula III está enfrentando!
O Legislativo virou Executivo; o Judiciário virou Legislativo e o Executivo mesmo... Virou nada!
É o nosso drama e as esferas precisam ser realinhadas ou seguiremos em larga crise por, pelo menos, mais dez anos.
Angelo Cavalcante - Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.