Angelo Cavalcante
O trambolho; entre o negacionismo e superficialidade

O Governador de Goiás, na noite de ontem, 09/06, participou do consagrado Programa Roda Viva.
Na bancada estava a mais fina e delicada nata de um jornalismo destacadamente corporativo, empresarial e claro, conservador.
A mediação fora feita pela indefectível Vera Magalhães, um dos pingentes, uma gema rara do jornalismo mais atrasado do Brasil e de circunvizinhanças.
Caiado, um dos expoentes da reação brasileira, estava em casa.
Ainda assim, o que era para ser um prosaico passeio dominical em linda manhã de lazer virou mesmo um amontoado de platitudes, falas feitas e prontas e muito - MUITO - desconhecimento histórico.
O eixo de sua fala foi, é claro, um mix, um combo de ataques desmedidos e desmesurados contra o governo do Presidente Lula; tem que Caiado, como é do seu feitio, passou do ponto e sua "parla" fora um fracasso rotundo, maçante e escancarado.
É só ver... Está tudo disponível no YouTube!
Negacionista nato, sequer assumiu e reconheceu que o Brasil se afundou por 21 anos em rasgada ditadura civil e militar; no fluxo de suas respostas, atacou o mais nacionalista presidente da história brasileira, o presidente João Goulart e que, de fato, tinha em mãos e esquadrinhado um efetivo e democrático projeto de desenvolvimento nacional.
Sequer se dignou a tocar na matança desatada e que o moedor de gente da ditadura perpetrou... Aliás, ainda hoje, não nos é precisa a quantidade de mortos e caídos pelo regime mas, em Caiado, isso em definitivo, não importa.
O Governador fora indagado sobre os rumos da economia e, de novo, em aberta tergiversação, se pôs a atacar Fernando Haddad e Gleise Hoffmann.
Não citou nada de políticas macroeconômicas, de justiça fiscal, orçamentária e tributária; não tocou no essencial tema da balança comercial, de acordos internacionais e da captação de investimentos no resto do mundo.
Não sei ao certo, mas desconfio de que políticos precisam, carecem de uma pedagogia discursiva e que esclareça os temas tal qual eles são... Fazem isso ou entram, mergulham inexoravelmente em contradições.
Caiado se afundou num oceano de desditas!
Como é de praxe, fez loas cansativas e inverossímeis ao seu padrão de segurança pública e que, em verdade, sequer é segurança pública de verdade... É gendarmia pura, policiamento do "brabo", armamentismo institucional sem precedentes e no estado com os maiores índices de trabalho escravo do Brasil.
É o que estamos vivendo...
Caiado desistiu de Goiás faz tempo... Desde 1989, sua fissura, sua pegada é por se tornar presidente do Brasil, oxalá isso não aconteça; fato é que problemas estruturais e graves de Goiás seguem, avançam sem qualquer fiapo de solução.
Bom... Sabemos que Caiado não logrou assunção ao governo da capitania para resolver tais questões, ao contrário, veio para reafirmar e aprofundar a lógica e o ordenamento político ancestral e brutal do clã do qual é parte importante.
Angelo Cavalcante - Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.