BC começa a ver moderação no mercado de trabalho, mas quer mais
Agência O Globo
A diretoria do Banco Central, colegiado que define a taxa de juros — Foto: Divulgação / Banco Central
A diretoria do Banco Central, colegiado que define a taxa de juros — Foto: Divulgação / Banco Central O Banco Central (BC) deu maior ênfase ao comportamento do mercado de trabalho na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na semana passada. Apesar de a preocupação com o dinamismo desse segmento, que trabalha com recordes históricos, persistir, o colegiado começa a ver sinais na direção que deseja para seu esforço de combate à inflação.
O baixíssimo desemprego (5,4%) é um elemento que dificulta um processo mais intenso de queda na inflação, como deseja o BC. Mas a autoridade monetária chamou a atenção para alguns elementos que podem ajuda-lo do ponto de vista de seu esforço de levar o IPCA à meta de 3% ao longo do tempo. “No período mais recente, a taxa de desemprego tem se mantido em patamares historicamente baixos, mas com redução na população ocupada e na taxa de participação”, diz o documento divulgado há pouco.
A taxa de participação é a quantidade de pessoas que efetivamente estão no mercado, seja trabalhando, seja procurando emprego. Segundo o IBGE, esse indicador chegou a 62,1% do total de pessoas em idade de trabalhar no trimestre encerrado em outubro, uma queda de 0,4 ponto porcentual sobre igual período do ano passado e de 0,2 ponto porcentual sobre o trimestre encerrado em julho, o que não é pouca coisa para esse indicador.
Uma taxa de participação menor pode ter vários significados, mas na prática mostra que menos pessoas estão atuando no mercado de trabalho. E isso também é um sinal de que o dinamismo econômico está se reduzindo, ainda que não há contento para o BC já começar a reduzir os juros.
A menor taxa de participação reduz a base de cálculo do desemprego, dessa forma, o indicador pode variar menos, mesmo com um contingente mais baixo ou crescendo menos de pessoas efetivamente trabalhando. Foi o que ocorreu no dado mais recente do IBGE: o nível de ocupação ficou estável no trimestre na comparação com o três meses encerrados em julho, mas como houve redução na taxa de participação o nível de desemprego (que depende de a pessoa procurar emprego) também caiu, para o nível mais baixo da série.
O BC apontou que há aspectos estruturais e conjunturais atuando no mercado de trabalho, disse que seguirá investigando o tema, mas manteve sua percepção de que ainda é preciso diminuir mais seu dinamismo para ajudar a reduzir especialmente a inflação de serviços, que também já mostra sinais melhores.
“Concluiu-se que o mercado de trabalho está em patamar bastante apertado, que há sinais incipientes de desaquecimento e que a compreensão da separação entre fatores conjunturais e estruturais deve continuar a ser aprofundada, à luz de evidências que necessitam de tempo para uma análise mais robusta”, diz a ata.
A necessidade de ampliar o desemprego, que fica clara na ata, é um elemento que certamente vai gerar incômodos políticos para Gabriel Galípolo e companhia. Apesar de estarem conseguindo baixar a inflação atual e esperada, eles têm sido criticados pelo governo e setor produtivo por supostamente exagerem na dose dos juros.
A ata não deu grandes pistas sobre o momento de início de cortes de juros, algo bastante esperado pelo mercado financeiro. Mas o documento indica implicitamente que esse momento está ficando mais próximo, apesar do tom ainda cauteloso e do esforço do BC em sustentar a Selic em 15%.
A cautela se justifica porque o BC não quer correr riscos com a taxa de câmbio, além de desejar uma desaceleração mais forte do mercado de trabalho e uma redução mais significativa das expectativas de inflação pelo mercado financeiro, que é visto como algo importante para garantir a queda futuro do IPCA.