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Estado de Goiás,25/10/2025

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    Mulheres Bakairi mostram novo caminho e revolucionam combate ao incêndios no Cerrado


    Mulheres Bakairi mostram novo caminho e revolucionam combate ao incêndios no Cerrado Reprodução

    Com o som do fogo lembrando uma chuva intensa, os indígenas Bakairi, da Terra Indígena Santana, em Nobres (MT), viram seu território de 73 mil hectares ser consumido pelas chamas em 2018. "Uma máquina na fazenda ao redor do território pegou fogo. Os proprietários não conseguiram fazer o manejo, então entrou na nossa região", relata Edna Rodrigues Bakairi, pedagoga de 39 anos. Enquanto esperavam autorização "da Funai, do governo federal, estadual, municipal", o fogo devastou a região.

    A tragédia levou à criação de uma brigada comunitária, hoje composta por 45 voluntários — 25 deles mulheres — que, há seis anos, impede novas grandes queimadas.

    A força feminina contra o fogo

    O coronel aposentado Paulo Selva, do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, levou à comunidade um projeto de fortalecimento ambiental e criou o Instituto Grupo de Operação Ambiental (GOA), em 2019. Durante uma visita em 2021, Selva percebeu algo inédito: o protagonismo das mulheres. "Não são só meninas jovens. Tem senhoras de 40, 45, 50 anos que conseguem ir para o combate", conta Edna.

    As voluntárias receberam formação em primeiros socorros, técnicas de combate e gestão de queimadas. Desde então, o programa atua com foco em prevenção, resposta a emergências e sustentabilidade.

    Cerrado em chamas

    Entre janeiro e dezembro de 2024, o Cerrado teve 9,7 milhões de hectares queimados, sendo 85% em áreas de vegetação nativa — aumento de 47% em seis anos. Em terras indígenas, o fogo cresceu 105%, segundo o Ipam. "Grande parte desses incêndios que acontecem em Mato Grosso começam fora dos territórios e os invadem", explica o geógrafo Edmar Kajejeu, da Fepoimt.

    Mesmo diante desse cenário, os Bakairi não registram grandes incêndios há quatro anos.

    Resistência e saber ancestral

    Sem apoio financeiro, a brigada atua de forma voluntária e com recursos escassos. "Tem só oito macacões e são mais de 30 voluntários. A maioria das mulheres vai com sapatilha, com tênis que ganha de doação, mas não é seguro. Mesmo assim, trabalham com amor porque o território é nosso", afirma Edna.

    Além do combate ao fogo, as mulheres mantêm vivas as tradições e o conhecimento ancestral. "Para a população indígena, tudo tem seu espírito. Você tem que pedir licença, tem que pedir com amor", explica.

    O contraste com outros povos

    Na Terra Indígena Umutina, em Barra do Bugres, a jornalista e indígena Helena Indiara Corezomaé enfrenta as mesmas queimadas, mas sem uma brigada estruturada. "A gente passa pela mesma realidade: de não ter apoio, de não ter estrutura", diz.

    Apesar dos pedidos ao PrevFogo, do Ibama, o apoio nunca veio. Em contrapartida, os Bakairi chegaram a ajudar outras aldeias. "A brigada Bakairi saiu do território deles e foi lá combater o fogo junto com uma brigada voluntária local", relata Edmar.






    O exemplo Bakairi

    "Ano passado, ano retrasado e esse ano nós não tivemos foco de incêndio, graças a Deus e a essa brigada voluntária", comemora Edna. O sucesso das mulheres Bakairi chamou atenção de fazendeiros e órgãos públicos. "É a primeira brigada indígena e também a primeira brigada voluntária que existe de que tenho conhecimento", diz Selva.

    Para Kajejeu, a iniciativa mostra o poder feminino. "Acho que é uma coisa positiva, no sentido do protagonismo da mulher. Isso precisa ser fortalecido", afirma.

    A história das mulheres Bakairi prova que resistência também é cuidado. "Bakairi é teimoso, Bakairi é insistente, Bakairi persiste e até por isso ele resiste até hoje", conclui Edna.




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