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Estado de Goiás,22/10/2025

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    Sedentarismo na juventude começa na infância e ameaça saúde futura

    Folha de S. Paulo
    Sedentarismo na juventude começa na infância e ameaça saúde futura reprodução

    A inatividade física na infância e adolescência tem mais impactos para o futuro do que de fato para a juventude, comprometendo a saúde na velhice, segundo especialistas. Dados de uma pesquisa liderada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), publicada em 2020, mostram que a inatividade nesta faixa etária já é uma realidade: mais de 80% dos jovens entre 11 e 17 anos no mundo são insuficientemente ativos.

    Rômulo Araújo Fernandes, docente do departamento de Educação Física da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) e pesquisador líder do grupo de investigações científicas relacionadas à atividade física, explica que, atingindo ou não o tempo recomendado de atividade para a faixa etária —60 minutos por dia— o tempo que os jovens passam em comportamentos sedentários, em atividades sentadas, é geralmente maior.

    Outra questão é que, na passagem da adolescência para a idade adulta, diz Fernandes, o jovem assume outros compromissos, como estudar e trabalhar. "O tempo de lazer compete com outras atividades e funções na sociedade que esse jovem vai assumir."

    O estudante universitário Matheus Mansueto, 19, abdicou da rotina de exercícios quando teve que conciliar os estudos com o trabalho em uma loja de veículos automotivos, no terceiro ano do ensino médio. Até o segundo ano, sua rotina de exercícios físicos era agitada: jogava futebol e fazia musculação seis vezes na semana.

    "Tive que abrir mão do exercício físico, para conciliar o meio período da escola e o meio período como jovem aprendiz", conta. Agora, já na faculdade, ele continua trabalhando na empresa em período integral e estudando à noite.

    Essa é a mesma realidade da estudante universitária e estagiária Julia Paixão, 19, que fazia balé e natação quando criança e participava das aulas de educação física na escola, mas há dois anos não faz nenhuma atividade física.

    "Nunca consegui me identificar com algum exercício. Além disso, desde que comecei a trabalhar e estudar, me vejo sem tempo", conta. "O tempo que tenho livre, gosto de usar para descansar ou para ficar com minha família e amigos."

    O sedentarismo na infância, adolescência ou no começo da vida adulta, é multifatorial, diz Alessandro Hervaldo Nicolai Ré, professor livre-docente da graduação em Educação Física na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (Universidade de São Paulo).

    Ele afirma que crianças que não tiveram oportunidades de práticas de atividade física de boa qualidade e prazerosas têm uma probabilidade maior de adotar um comportamento sedentário ao longo da vida.

    "Criar oportunidades na adolescência é necessário, mas não é suficiente, porque se as crianças chegarem na adolescência sem a vontade própria, o oferecimento de oportunidades vai se tornar insuficiente", afirma Ré. Apesar de acreditar que é possível desenvolver a motivação tardiamente, é muito mais difícil.

    O aumento do uso de telas na atualidade é uma questão que os especialistas consideram crucial para o número alarmante indicado no estudo da OMS. "Sem dúvida nenhuma a tela é a principal questão, porque muitas vezes concorre com a prática da atividade física em momentos em que, em vez de estarem realizando uma atividade física, a criança ou adolescente opta pela tela", afirma Ré.

    Para Fernandes, isso se relaciona com a forma como a sociedade está estruturada hoje. "[Nossa sociedade] Essencialmente é baseada na diminuição do esforço físico para tudo. E as profissões mais valorizadas são todas sedentárias."

    Outro ponto que Fernandes identificou em suas pesquisas na universidade é que jovens que têm ambos os pais praticantes de exercícios físicos tendem a ser mais ativos do que aqueles que não possuem esse exemplo em casa. "O ambiente define muita coisa", diz Fernandes. "Ele pode potencializar ou tornar mais difícil essa tomada de decisão de fazer atividade física."

    O impacto da alta prevalência de atividade física insuficiente e do comportamento sedentário, segundo Fernandes, é de longo prazo, ou seja, impacta a saúde no futuro. Como a saúde óssea e o risco de osteoporose na velhice, por exemplo.

    "Se o idoso é mais sedentário e não estimula a manutenção de massa muscular e massa óssea pode ter complicações decorrentes disso", diz Fernandes, citando a perda da autonomia e a falta de interação social.

    A falta de atividade física pode trazer também prejuízos imediatos, diz Fernandes. "A obesidade infantil é um problema de saúde pública de ordem mundial e está relacionada com diferentes complicações. [Assim como] Diabetes mellitus ou resistência à insulina, pressão arterial elevada", diz.

    Outro ponto levantado por Ré é a dimensão qualitativa desse impacto na infância e adolescência, como o desenvolvimento motor que atividades físicas específicas promovem.

    Para mudar esse cenário, Carol Seixas, gerente de desenvolvimento físico-esportivo do Sesc São Paulo acredita que existem alguns fatores. A proximidade do local da prática de atividade física, uma grade de horários ampla, a diversidade de modalidades —para que o jovem encontre algo que lhe dê prazer— e aproximar esses jovens a atletas e ídolos de esportes para gerar identificação.

    "Tudo isso para se certificar de que em algum momento esse jovem vai encontrar um tempo ali para praticar." Ela complementa que a adolescência e início da juventude é uma fase em que a identificação com algum grupo é relevante para a pessoa, ter a possibilidade de socializar e fazer amizades. As atividades coletivas são momentos que promovem essa possibilidade.

    Fernandes reforça que a prática regular de atividade física também tem relação com a saúde mental, principalmente pela interação com outras pessoas e a liberação de hormônios depois do exercício.

    Mansueto afirma que um dos principais impactos é na parte mental, já que escuta comentários negativos das pessoas sobre a mudança do seu corpo. "Eu deixei isso meio que tomar conta de mim. Com o tempo, você vai se acomodando."

    "O principal vilão nessa história é o cansaço mental", complementa Paixão. "Só de pensar em ocupar os momentos vagos com algo como atividades físicas, já me canso mais ainda."




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