Crise nos Correios: R$ 20 bilhões em jogo e o silêncio do governo

Há um problema crônico nos Correios e agora um agudo pela dimensão do rombo da estatal que pleiteia R$ 20 bilhões para fechar as contas, com a garantia do Tesouro. Na prática, isso significa que se a empresa não arcar com dívida todos nós pagaremos a conta, que é o mais provável cenário. O meu ponto é que o governo está deixando essa bola neve que viraram os Correios cair em cima dos contribuintes e sem responder questões essenciais: quais as razões da crise? qual é o plano para tirar a estatal dessa situação? Para gastar todo esse dinheiro do contribuinte, tem que explicar, tem que se justificar. E até aqui as informações vão saindo, mas não tem uma informação oficial. O governo precisa informa de forma clara transparente a situação da estatal, afinal é o contribuinte que vai pagar essa conta. E ainda se ao colocar esses R$ 20 bilhões o problema será resolvido ou só postergado?
Há muito tempo se fala na crise dos Correios e essa não é uma questão exclusiva do Brasil, no mundo todo essas empresas estão em dificuldades. Na semana passada, o presidente Lula, disse, quando estava em Roma, que gostaria de conhecer a experiência de recuperação da Poste Italiane, empresa de capital misto responsável pelos serviços postais na Itália. Essas dificuldades das empresas do setor decorre da mudança do modelo de negócios e também das transformações tecnológicas. As pessoas quase não escrevem cartas, hoje em dia.
Em geral, os Correios atuam no transporte de mercadoria, de encomendas. Essa receita cresceu durante o período da pandemia, quando se multiplicaram as compras online. Não é monopólio, por isso os Correios atuam muitas vezes em associação, outras vezes em competição com as empresas privadas que operam no país. A empresa explica que ela é necessária porque é a única presença do Estado em todos os recantos do Brasil. As agências atuam com outras funções, como a de correspondente bancário.
Esses os argumentos são tratados quando se fala em privatizar os Correios. Mas é possível estruturar um modelo que mantenha o cumprimento dessas funções, sem criar um rombo de R$ 20 bilhões apenas em dois anos. Durante o governo de Jair Bolsonaro, em 2021, os Correios estavam sendo preparados para privatização, com um modelo desenvolvido no BNDES que recomendou a venda. Mas a proposta não saiu do papel. Apesar de se dizer liberal, o governo Bolsonaro não conseguiu colocar as privatizações de pé, com exceção da Eletrobras que teve a operação estruturada pelo governo de Michel Temer. É preciso avaliar o projeto do BNDES para os Correios, analisar se é bom ou não, se deveria ter sido feito.
No ano passado, os Correios tiveram um prejuízo de R$ 2,59 bilhões. Este ano, só no primeiro semestre a conta ficou negativa em R$ 4,3 bilhões. Reportagem de Geralda Doca e Thaís Barcellos, publicada nesta segunda-feira no GLOBO, mostra que a privatização está fora do radar do governo, até porque, com os números atuais da empresa seria muito difícil vendê-la.
Uma venda na situação atual teria que ser feita com um preço muito baixo para que o comprador faça o posterior saneamento dos Correios, o que exigira um montante significativo de investimento. Outra opção, é o governo sanear a companhia para depois vendê-la. A questão é que o governo precisa explicar a crise da estatal e o plano para recuperar a empresa, afinal, estamos falando de dinheiro de todos nós.
Então, com a palavra o governo.