Lula e Trump: o que é a ‘química’ nas relações humanas?

Ao falar sobre a conversa que teve por telefone com o presidente americano Donald Trump, o mandatário brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) brincou que "não pintou uma química, pintou uma indústria petroquímica”, no sentido de maximizar a analogia. Pouco antes, na Assembleia Geral das Organização das Nações Unidas (ONU), Trump também havia dito que ele e o presidente do Brasil tiveram uma "química excelente".
O termo “química” aparece com frequência quando políticos falam de suas relações uns com os outros, especialmente para descrever uma certa afinidade que seria natural e espontânea entre eles. Mas afinal, o que é a “química” nos relacionamentos humanos? E o quanto ela é explicada pela ciência?
Segundo um artigo publicado pela Associação para Ciência da Psicologia, referências literárias à química interpessoal aparecem desde 1590, embora ainda seja um campo pouco explorado pelos cientistas. Mesmo assim, alguns buscam compreender os mecanismos por trás desse fenômeno.
Em um estudo publicado por pesquisadores da Universidade de Rochester e da Califórnia, nos Estados Unidos, na revista Perspectives on Psychological Science, os autores propõem um modelo conceitual para definir o que é a química interpessoal.
De acordo com os autores, o modelo parte da noção de que, “quando duas ou mais pessoas experimentam química entre si, elas vivenciam a interação como algo que vai além da soma de suas contribuições individuais”.
Para eles, a “química” abrange dois principais fatores: o comportamento e a percepção. Enquanto o comportamento envolve sequências de interação em que há alta sincronia entre as partes, e nas quais os objetivos das pessoas são expressos e atendidos de maneira solidária, a percepção inclui componentes cognitivos e afetivos.
Eles afirmam que algumas características da “química” é que ela demanda necessariamente uma interação entre as partes e que é definida como algo mais amplo do que apenas gostar, geralmente englobando a sensação de que a relação é especial e diferente das demais.
Além disso, os pesquisadores dizem que há diversos aspectos dessa relação interpessoal que envolvem a linguagem corporal, como contato visual, expressões faciais parecidas e movimentos sincronizados, que por vezes ocorrem fora do consciente das pessoas envolvidas.
Embora a “química” vá além das características individuais de cada um, os cientistas afirmam haver certos traços pessoais que podem contribuir para o desenvolvimento do fenômeno, como altos níveis de atratividade, calor humano, capacidade de empatia e metas pessoais.
Por fim, o modelo propõe que as percepções de química são influenciadas pelas projeções que as pessoas fazem de seus próprios pensamentos e crenças sobre os outros, o que pode ser mais influente no início da relação, antes de momentos de maior conexão acontecerem.