Avião supera ônibus em viagens no país pela 1ª vez desde 2020

Agência O Globo
Avião supera ônibus em viagens no país pela 1ª vez desde 2020 Reprodução

O avião superou o ônibus de linha como transporte mais usado nas viagens pela primeira vez desde 2020. As aeronaves foram usadas em 14,7% do total de viagens feitas em 2024, passado o ônibus, que ficou com uma fatia de 11,9%. O carro, no entanto, lidera a escolha dos brasileiros, com mais da metade dos deslocamentos sendo feitos sobre quatro rodas. Os dados estão na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) sobre Turismo 2024, divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE

A mudança ocorre no ano que a renda do trabalho avançou 4,7% no país. No entanto, o Brasil registrou um recuo na fatia de domicílios em que ocorreu pelo menos uma viagem — movimento verificado em todas as faixas de rendimento mensal.

Foram 20,6 milhões de viagens, repetindo o número de 2023, mas o total de domicílios cresceu. Por trás desse movimento está o aumento no custo médio desses roteiros e deslocamentos — seja a trabalho ou a passeio.

Os gastos com viagens feitas por brasileiros no país somaram R$ 22,8 bilhões no ano passado, um aumento de 11,7% em relação ao ano anterior e após um salto em 2023. Na ponta, o gasto médio por viagem com pernoite subiu de R$ 1.706 para R$ 1.843 de um ano para o outro.

Houve alta em quatro das cinco faixas de renda dos domicílios analisadas, com exceção daquela inferior a meio salário mínimo.

— Mesmo tendo o aumento de rendimento, o movimento de mais domicílios (no país), com maior rendimento domiciliar per capita, o que a pesquisa nos mostra é que o custo médio das viagens aumentou — explica William Kratochwill, analista da pesquisa. — Isso pode ser um fator que tenha inibido a expansão das viagens, porque preço ainda é um fator que contribui muito para determinar a demanda.

Concentração acima de 2 salários mínimos

O bolo cresceu, mas o volume de viagens não mudou. Em 2024, o total de domicílios subiu para 77,8 milhões, ante a 75,7 milhões em 2023. Em cada um desses dois anos, houve viagens em 15 milhões desses lares, daí o recuo. No ano passado, isso equivaleu a 19,3%, queda de 0,5 ponto percentual ante o ano anterior.

Isso quer dizer que em mais de 80% dos lares brasileiros ninguém viajou. Ainda que a pesquisa aponte uma estabilidade nesse movimento após a recuperação no pós-pandemia, há um grande potencial a ser explorado.

Kratochwill destacou que a distribuição dos domicílios por faixa de rendimento mensal per capita se mostrou menos desigual no ano passado. Em 2023, 81,3% dos domicílios tinham renda per capita de menos de dois salários mínimos. No ano seguinte, esse percentual foi de 78,7%. Ou seja, domicílios migraram dessas faixas de menor renda para as de maior rendimento, explicou ele:

— No entanto, quando observamos a ocorrência de viagens, o percentual de domicílios que está no de rendimento per capita de menos de dois salários mínimos diminuiu de (65,1%) 2023 para (61,1%) 2024. As viagens estão mais concentradas nas classes de dois a quatro salários mínimos e de quatro ou mais.

Sem dinheiro, sem viagem

O bolso é peça central. No geral, a falta de dinheiro foi citada por 39,2% dos lares como a razão para não viajar, ante a 40,1% em 2023. Mas essa justificativa cresce conforme cai o rendimento. Nos lares com renda média de quatro salários mínimos ou mais por pessoa, o principal obstáculo a ser vencido para viajar é a falta de tempo.

No recorte por unidades da federação, o Acre tem a menor ocorrência de viagens por domicílios, de 7,7%. Na ponta oposta está o Distrito Federal, com 26,7% dos domicílios. Neste último caso, explica o pesquisador, além de haver um nível de rendimento mais elevado, trata-se de uma região em que muitas pessoas vêm de fora não apenas para trabalhar, mas para visitar amigos e familiares.

Não à toa, três quartos dos domicílios em que houve turismo em 2024 registraram uma única viagem. Apenas 4,5% fizeram quatro ou mais. E a vasta maioria (96,7%) é de roteiros nacionais, com o restante (3,3%) de internacionais, em leve alta. Para Kratochwill, isso pode, adiante, justificar o aumento no custo médio da viagem e no número de pernoites, porque são coisas que acontecem mais nos roteiros para o exterior.

É possível verificar uma mudança relacionada à motivação da viagem. A maior parte (85,4%) é a passeio, mas as de trabalho estão crescendo e trazendo novidades. Em 2020, durante a pandemia, o carro era o transporte usado em 57,2% das viagens, enquanto o avião abocanhava 10,5%.

— Chegamos a 14,7% do total de viagens feitas de avião, 50,7% das viagens por carro particular. E o ônibus, que apresentou aumento em 2023, chegando a 13,4%, teve queda e chegou a 11,9% do total — diz o pesquisador. — O aumento desse percentual de avião foi, na maior parte, pelas viagens profissionais que saíram de 27,1% e chegaram a 28,8%. No período pandêmico, tinha ido a 11,3% do total.

Avião ultrapassa ônibus

Esse movimento fez o avião superar o ônibus de linha como transporte usado nas viagens pela primeira vez desde 2020. No ano passado, houve uma espécie de empate técnico. Trata-se de expansão puxada pelas viagens profissionais, em alta devido a retomada de congressos, eventos e treinamentos que exigem o deslocamento dos profissionais pelo país.

Foram 2,5 milhões de viagens por negócios ou trabalho, o equivalente a 82,7% das 3 milhões de viagens profissionais. Em 2023, elas representavam 82,3% desse total.

De novo, a renda vai pesar na escolha do transporte. Nos lares com rendimento inferior a dois salários mínimos, o ônibus é o segundo meio mais usado, depois do carro. Já entre as faixas mais altas de renda, o aéreo vem na segunda posição.

Kratochwill reconhece que a passagem de avião eleva o custo da viagem. Os dados da pesquisa, porém, apontam que o aumento nos gastos foi generalizado, e não apenas com transporte.


Tem outro item a ser considerado nessa variação dos gastos, os roteiros estão mais longos. No ano passado, de um lado, as viagens com nenhum e até cinco pernoites representaram 75,5% do total, enquanto essa fatia era de 77% em 2023.

— O aumento aconteceu nas viagens mais longas, com seis e sete pernoites, que subiram de 8,3% para 9% do total; nas de 11 a 15 pernoites, de 4,6% para 5%, e nas de 16 ou mais pernoites, que aumentaram de 5,5% para 5,8% — conta ele.

Entre os domicílios com renda inferior a quatro salários mínimos, a hospedagem é feita principalmente em casas de amigos e parentes. Dessa faixa para cima, hotéis, resorts ou flats lideram.

Do sol para a cultura
Quatro em cada dez viagens a passeio foram por lazer. Em 2020, o principal foco era a visita a amigos e parentes, mas isso ficou para trás. As saídas para tratamentos de saúde e consulta médica subiram a partir de 2021 e se mantêm em torno de 20% desse total.

Uma das principais mudanças observáveis nas viagens a passeio, conta o pesquisador, está na motivação. A busca por sol e praia segue liderando, com 44,6% das viagens, um tombo de 10,9 pontos percentuais frente a 2020. Na sequência, vêm os roteiros de cultura e gastronomia, com avanço de quase 9 pontos percentuais, para 24,4% do total.

A pesquisa é realizada desde 2019, ano em que os parâmetros diferem dos seguintes, daí não ser usado como base de comparação. De 2020 para cá, não houve levantamento em 2022.
A busca por sol e mar sobe quanto mais desce a renda. Na direção contrária avança a opção por cultura e gastronomia. Os roteiros na natureza, de ecoturismo ou aventura estão mais equilibrados entre as diferentes faixas de rendimento. Isso se reflete também no motivo das viagens mais fortes em cada região. No Sudeste, quase metade (48,6%) são a lazer. Em Norte e Nordeste, em torno de um terço são para tratamento de saúde e consultas médicas.

Viagens regionais
Mais de 80% das viagens são feitas dentro de uma mesma região. O Sudeste é, ao mesmo tempo, o principal emissor e destino.

O Sudeste é também a área do país onde mais se gastou com viagens, de R$ 8,66 bilhões, enquanto no Norte é onde se gastou menos, R$ 978 milhões.
Ao olhar para os destinos campões em gastos em 2024, Alagoas é o número 1, com R$ 3.790 por pessoa, seguido do Ceará, com R$ 3.006. Na lanterna está Rondônia, com R$ 930.
Já olhando para quanto foi gasto na origem do viajante, o Distrito Federal sai na frente, com R$ 3.090, tendo o Maranhão na ponta contrária, com R$ 941.




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