Joesley Batista se encontrou com Trump semanas antes de elogio a Lula

O empresário Joesley Batista, um dos líderes da gigante de carnes JBS, foi recebido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma audiência na Casa Branca semanas antes do republicano acenar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Assembleia-Geral da ONU.
Segundo fontes ouvidas pela Folha, Joesley discutiu com Trump, há cerca de três semanas, questões centrais para o setor: o tarifaço de 50% aplicado pelos EUA sobre produtos brasileiros, especialmente carnes, e a importação de celulose. Durante a conversa, Joesley defendeu que as diferenças comerciais entre Brasil e EUA poderiam ser resolvidas por meio do diálogo entre os governos, incentivando uma aproximação.
Como já mostrado pela Folha, grandes empresários brasileiros têm atuado para facilitar contatos entre os governos de Lula e Trump. Em recente discurso na ONU, Trump afirmou que houve "química" entre ele e Lula, indicando que ambos devem se reunir em breve para tratar do tarifaço.
A atuação de gigantes como Embraer e JBS, de Wesley e Joesley Batista, fortaleceu na gestão Trump a ala favorável a uma negociação focada no comércio, deixando questões políticas em segundo plano. A aproximação dessas empresas com Trump remonta ao início da segunda administração do republicano.
A Pilgrim’s Pride, marca da JBS, foi destaque ao realizar a maior doação individual de uma empresa para a posse de Trump: US$ 5 milhões, segundo relatório da Comissão Federal Eleitoral dos EUA. A empresa é uma das maiores produtoras de aves do mundo, responsável por quase um sexto dos frangos consumidos nos EUA.
A carne bovina brasileira segue enfrentando a tarifa de 50% imposta por Trump, mas interlocutores se mostram otimistas quanto à possível inclusão do produto na lista de isenções. Já a celulose, outro tema abordado por Joesley, recebeu recentemente um alívio: em ordem executiva de 5 de setembro, Trump retirou a tarifa de 10% sobre a celulose importada, beneficiando diretamente a indústria brasileira, que exportou 2,8 milhões de toneladas do produto para os EUA no último ano — cerca de 15% das vendas externas.
Com o encontro, Joesley consolidou sua posição como o empresário brasileiro com melhor acesso ao republicano, segundo diferentes interlocutores. Outros nomes do empresariado também se mobilizaram em Washington para aproximar os dois governos e buscar soluções para o tarifaço.
Na semana de 11 de setembro, empresários como Joesley, João Camargo (da Esfera Brasil) e Carlos Sanchez (EMS) participaram de negociações no Congresso americano, reunindo-se com parlamentares republicanos, como Maria Elvira Salazar, e integrantes da equipe de Trump. O grupo também encontrou Susie Wiles, chefe de gabinete do presidente americano.
Na semana anterior, a CNI esteve em Washington para reuniões com o vice-secretário de Estado, Christopher Landau, o USTR e o Departamento de Comércio. Os empresários também acionaram grupos de lobby nos EUA, com profissionais de acesso direto ao governo.