Governo teme que encontro com Trump vire humilhação pública para Lula

A interação entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia-Geral da ONU desta terça-feira (23) gerou sentimentos contraditórios no Palácio do Planalto. Se por um lado o governo petista celebra o gesto do republicano como uma conquista diplomática, por outro teme que o encontro marcado para a próxima semana se transforme em mais um episódio de pressão política.
O breve encontro em Nova York aconteceu momentos antes do discurso de Trump na ONU. Foi o próprio americano quem sugeriu a conversa, prontamente aceita pelo brasileiro. Ao final de sua fala, Trump não poupou elogios ao petista, revelando que "gostou do brasileiro" e destacou a "excelente química" entre ambos.
Nos bastidores, porém, a cautela predomina. Auxiliares de Lula temem que Trump utilize o diálogo como instrumento de constrangimento, repetindo o padrão já observado com outros líderes mundiais que passaram pela Casa Branca.
O chanceler Mauro Vieira, em entrevista à jornalista Christiane Amanpour da CNN, esclareceu que os detalhes do encontro ainda estão sendo definidos. A conversa deverá ocorrer por telefone ou videoconferência, considerando a agenda apertada do presidente brasileiro.
"O presidente está muito ocupado, tem uma agenda cheia. Talvez não seja possível se encontrar pessoalmente, mas encontraremos alguma maneira [de realizar a conversa]", explicou o ministro.
O fantasma de Zelenski
A apreensão do governo brasileiro tem precedentes. No início deste ano, o encontro entre Trump e o presidente ucraniano Volodimir Zelenski se transformou numa sessão pública de humilhação, servindo como alerta para a diplomacia brasileira sobre os riscos de um diálogo mal conduzido.
Relações em crise
O contexto não poderia ser mais delicado. Brasil e Estados Unidos atravessam uma das fases mais tensas de suas relações diplomáticas. Washington, demonstrando apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, adotou medidas punitivas contra o Brasil, incluindo tarifas comerciais sobre importações brasileiras e sanções direcionadas a autoridades do Executivo e Judiciário, como o ministro Alexandre de Moraes, do STF.