Deputados da direita e esquerda pedem desculpa após pressão contra PEC da Blindagem

A aprovação da PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados na última terça-feira gerou forte reação nas redes sociais, levando deputados de diferentes espectros políticos a recuarem e até pedirem desculpas por seus votos. A mobilização digital, que contou com apoio de artistas e entidades da sociedade civil, foi apontada como uma rara vitória da esquerda nas plataformas, conforme análise da consultoria Bites feita a pedido do jornal O Globo.
Deputados se justificam e pedem desculpas
A deputada Silvye Alves (União-GO), em um vídeo publicado no Instagram, revelou que mudou seu voto após sofrer ameaças de "pessoas influentes" no Congresso. Inicialmente, ela havia votado contra a PEC, mas cedeu à pressão e alterou sua posição. "Votei contra, às 19h. A partir desse momento, comecei a receber muitas ligações de pessoas influentes do Congresso, se é que vocês me entendem. Ligaram dizendo que eu sofreria retaliações", afirmou. A parlamentar pediu desculpas aos eleitores e anunciou que deixará seu partido: "Eu fui covarde, cedi à pressão, e por volta de quase 23h mudei o voto."
Já o deputado Merlong Solano (PT-PI) justificou seu voto favorável como uma tentativa de barrar a anistia e avançar pautas importantes, como a isenção do Imposto de Renda e a taxação dos super-ricos. No entanto, admitiu que a estratégia não funcionou e assinou um mandado de segurança no STF para anular a votação. "Esse esforço não surtiu efeito", declarou em nota publicada nas redes sociais.
Pedro Campos (PSB-PE), irmão do prefeito de Recife, também reconheceu o erro estratégico ao tentar alterar pontos da PEC. "A PEC passou do jeito que nós não queríamos, inclusive com a manobra para voltar o voto secreto que nós já tínhamos derrubado em votação. Por isso, tenho a humildade de reconhecer que não escolhemos o melhor caminho. E saímos derrotados na votação da PEC e na votação da anistia", afirmou em vídeo.
Impacto nas redes sociais
O movimento digital contra a PEC gerou quase 1,6 milhão de menções desde terça-feira, com maior volume na plataforma X (antigo Twitter). Segundo a Bites, o debate foi liderado pela esquerda, mas não conseguiu alcançar perfis fora da bolha política. A pressão, entretanto, consolidou oposição ao texto no Senado, inclusive entre parlamentares da direita. "Vitórias da esquerda não são tão comuns nas redes, o que mostra a relevância do movimento, mesmo que tenha ficado mais restrito a esse campo", analisou André Eler, diretor-adjunto da Bites.
A classe artística também se posicionou contra a PEC, com manifestações de nomes como Anitta e Caetano Veloso. Este último chamou a proposta de "PEC da Bandidagem" e defendeu protestos populares contra a iniciativa. Dados da consultoria Arquimedes indicam que 89% dos perfis que abordaram o tema eram do campo progressista, enquanto 4% pertenciam à direita não bolsonarista, como simpatizantes do MBL. Bolsonaristas, por outro lado, representaram apenas 7% do debate, justificando a necessidade de acordos para votar a anistia.