Tarifaço, clima e quebra de safra empurram café de volta à alta. Pressão pode durar até a safra de 2026

Tarifaço, falta de chuva, altas temperaturas, quebra de safra. Após um breve refresco, o preço do café nosso de todo dia pode voltar a subir, num movimento que pode se estender até a próxima safra em julho de 2026, segundo Marcio Candido Ferreira, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Para o produtor, os valores já saltaram 22% em setembro, depois de uma queda de 10% em agosto, mostram os dados do Índice de Preços do Produtor Amplo (IPA), do FGV Ibre.
— O momento atual é bom para o produtor, mas ruim para os demais elos da cadeia, do comerciante ao consumidor - diz Ferreira.
Como a produção é ajustada a demanda, não há sobras, a sobretaxa imposta pelo governo americano que elevou a tarifa do café importado do Brasil para 50%, levou a uma movimentação nas compras dos importadores americanos o que é uma das causas da elevação do preço do café nas bolsas de Nova York e de Londres para patamar próximo ao recorde do ano passado quando houve quebra de safra no Brasil, no Vietnã, Indonésia, na América Central e na Colômbia. Desde a implementação do tarifaço sobre o produto brasileiro, em 6 de agosto, a cotação registrou alta de 48%, nesta segunda-feira, na Bolsa de Nova York, para o arábica. Em Londres, o ápice foi em 28 de agosto, quando chegou a uma diferença de 49% ante o valor pré-tarifaço.
As chuvas nas principais regiões de produção de arábica nos últimos dias desta semana, no entanto, levou a um ajuste para baixo nas Bolsas. Mesmo assim, as cotações estão ainda 26% acima das cotações anteriores às tarifas em Nova York e 23% em Londres. No Brasil, o conilon teve alta de 40%, enquanto o arábica de 30%.
— Ao serem procurados por importadores americanos que precisavam de alternativa ao café brasileiro - enviamos 8 milhões de sacas anualmente para os EUA - os produtores de países como Colômbia, América Central e Vietnã aumentaram seu ágio sobre a cotação da Bolsa e isso jogou os preços para cima - explica o presidente do Cecafé, ressaltando que a negociação de café é feita a partir da cotação da Bolsa acrescido de ágio ou deságio.
A perspectiva de que essa curva de subida se mantenha está atrelada diretamente aos volumes futuros de chuvas. É que chuvas insuficientes podem abortar parte da floração esperada em setembro ou prejudicar o desenvolvimento dos grãos para a próxima safra. Na safra recém-colhida o mercado avalia uma perda de rendimento entre 5% e 10%, o que representa de dois a quatro milhões de sacas a menos do que as estimativas iniciais, devido à queda de rendimento verificado pós-colheita, com necessidade de mais grãos para cada saca de 60 quilos, informa Ferreira.
Ele conta que, desde que começaram a aparecer os primeiros reflexos dos efeitos do tarifaço sobre a inflação nos EUA, tem sido procurado pela imprensa americana que quer entender o que está por trás dessa sobretaxa.
— É uma oportunidade de falarmos para além do tarifaço, sobre a produção brasileira, o compromisso com a preservação ambiental, o compromisso com as questões sociais e a remuneração justa ao produtor, o Brasil é o país que repassa ao produtor o maior percentual do valor FOB exportado deduzido os custos. Atualmente, está entre 93% e 95% no conilon e 91% no arábica. A sustentabilidade somente é possível com remuneração que propicie melhores índices de IDH, incentive os produtores e suas famílias a alcançarem mais qualidade e produtividade, portanto, melhores resultados - ressalta o executivo.