O trigo, considerado um dos cereais mais antigos da história da humanidade, é ingrediente essencial em diversas receitas – principalmente na confeitaria. Mas, para os fiéis católicos, ele assume um significado ainda mais profundo: é a matéria-prima do pão que, ao ser consagrado na Eucaristia, se transforma no corpo de Cristo.

De acordo com o Código de Direito Canônico – conjunto de normas que rege a Igreja Católica –, a hóstia deve ser produzida exclusivamente com “trigo puro e recentemente confeccionado”, de modo que não haja risco de deterioração. O documento, no entanto, não especifica detalhes como o tamanho ou o peso da hóstia, nem define o teor alcoólico ou a coloração do vinho utilizado na liturgia, que também é transformado, simbolicamente, no sangue de Cristo.

Complementando essa norma, uma carta-circular do Vaticano sobre a Eucaristia apresenta orientações mais detalhadas:

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  O pão deve ser ázimo (sem fermento), feito unicamente de trigo e preparado recentemente para evitar que estrague;

  
  


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  Não é válido utilizar pães produzidos com outros tipos de cereais, mesmo que similares ao trigo;

  
  


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  A adição de ingredientes como frutas, mel ou açúcar é considerada um grave desvio litúrgico;

  
  


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  As hóstias devem ser confeccionadas por pessoas honestas, capacitadas e com os instrumentos adequados para garantir a qualidade do produto.

  
  

Diferente das vinícolas, que devem seguir a regulamentação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), a produção de hóstias não é diretamente fiscalizada pelo governo brasileiro. A inspeção oficial se limita à farinha de trigo.

Como é feita uma hóstia?

Antes de serem consagradas, as hóstias são chamadas de "partículas". Elas são produzidas com apenas dois ingredientes: farinha de trigo pura e água. O processo é simples, como explica Ary Brum Júnior, proprietário da Fábrica de Hóstias, localizada em Ponte Nova (MG).

Utilizando trigo importado da Argentina e do Canadá, a empresa fabrica cerca de 12,5 milhões de hóstias por mês, a maior parte vendida para livrarias católicas, responsáveis por distribuir o material às paróquias.

“Utilizamos uma proporção básica: aproximadamente 1 litro de água para cada 1 quilo de farinha de trigo. A massa resultante tem consistência líquida, semelhante a um mingau, e é colocada em uma máquina que assa discos com cerca de 45 centímetros de diâmetro. Depois de um tempo de repouso, esses discos são cortados por outro equipamento no tamanho ideal das hóstias”, explica Brum Júnior.